As telas e Ela - parte 1

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Ana

Já eram umas oito e meia da noite, quando o som da campainha invadiu meus ouvidos. Droga, tento nervosamente colocar alguns fios rebeldes do meu cabelo no lugar, deixo o corretivo de olheiras desajeitadamente em cima da penteadeira e desço as escadas de dois em dois degraus, rapidamente, gritando "Já estou indo, Chi". No caminho, coloco as almofadas que estavam no chão da sala no lugar apressadamente antes de correr para atender a porta.
- Oi Chi, desculpa a demora, entra. - digo olhando para a italiana parada na entrada.
Não consigo deixar de reparar no seu corpo. Sem querer corro os olhos por sua pintinha no queixo e por sua regata leve que deixava sua marquinha de bikine a mostra, escancarando o bronzeado de uma pele que há pouco vira o sol. Ela também vestia um short jeans um pouco desfiado, revelando suas longas pernas e chinelos havaianas. Bem linda e bem gringa, quando comparada a mim que estava com uma camiseta preta, um short preto, descalça e bom, um tanto despojada.
- Poxa, Chi! Nós combinamos que seria algo casual, você toda arrumadinha é sacanagem comigo! Se com você desarrumada eu já sairia em desvantagem, agora tô perdendo feio pela comparação! - eu disse rindo e Chi acompanhou meu tom brincalhão. Me abraçando ela diz:
- Como se você já não fosse a mulher mais linda do Rio, né?!
Eu sinto meu rosto queimar na hora, por que essa mulher provoca isso em mim?
- Imagina, Deusa romana, entre. A casa é sua.
- Sério?? Olha que io non te devolvo nunca mais sua casa! - Ela diz observando a ampla vista pelas grandes janelas de vidro.
- O prazer será todo meu! Ter uma gata dessas desfilando por aqui... Não sei, não, já to ficando muito mal acostumada... - eu disse olhando risonha nos olhos da italiana e percebi seu olhar se escurecendo levemente, antes de voltar ao tom claro anterior, um leve arrepio percorreu minha nuca de maneira gostosa.
Eu e ela nos encontramos aqui quase a semana inteira e hoje seria o dia de finalização da nossa música. Plena sexta feira e estávamos perdendo o rolê no bar com o resto da turma. Para evitar que a italiana ficasse entediada, eu propus fazer nosso próprio open por minha conta, afinal, eu que estava colocando ela pra trabalhar em dia de curtir.
- Vem, italiana, vou te levar até a sala e já vou pegar os drinks, eu não esqueci!
- Hoje io quero relaxar depois de terminar essa música, espero que não tenha esquecido a massagem que me prometeu também...
Me senti até tonta só de imaginar a tensão arrabatadora que me acometerá de sentir tão intimamente a pele daquela mulher.
Eu amo esses nossos momentos de cantadas bobas, mas tenho pouca esperança de Chiara eventualmente me dar uma moral de verdade. Nós sempre nos provocamos sem cruzar um certo limite, eu muito mais por respeito a ela e ao tempo dela do que por não querer cruzar a linha. Aliás, quem não queria ficar com essa italiana, ela é realmente muito atraente, charmosa, carismática, além de talentosíssima, porém o que me contaram é que ela estava de coração partido e não buscava nada romântico por aqui, apesar que todo mundo gosta de sexo, sei lá né...
Ela pigarreia discretamente para chamar minha atenção.
Acabei pensando demais, já chegamos à sala e eu estou voltando da minha viagem enquanto ela está me olhando endagadora.
Devo ter ficado uns 5 segundos presa nos meus devaneios, tempo suficiente para me envergonhar sutilmente com a pergunta de Chiara, devido ao conteúdo dos meus pensamentos.
- A dime for your thoughts? ( uma moeda em troca de seus pensamentos )
Eu quase travo para responder:
- Ehh..Nada, Chi, tava tentando lembrar se está tudo em ordem...
- Non acredito, che virginiana- ela diz rindo e eu respiro um pouco aliviada de não ter me embolado na minha mentira.
- Me espera aqui, vou pegar alguma coisa pra gente beber enquanto trabalhamos, a noite é longa!
- Ok, grazie.
Me dirijo até o armário de bebidas, pego meu whisky e a vodka dela, na geladeira encontro minha coca e o suco de caju, pego um balde pro gelo também. Ajeito tudo em uma bandeja de prata e volto para a sala. Ao chegar, encontro a seguinte cena, a mulher mais bonita que já existiu e existe no mundo sentada ao piano dedilhando algumas melodias e, delicadamente, balançando seu corpo enquanto toca. É demais pro meu psicológico, sinto um leve calor, suspiro, acho que a noite vai ser mais longa do que imaginei, haja autocontrole.
- Aqui, Chi, sua Vodka e seu suco, trouxe um pouco de gelo também, caso você queira...
- Obrigada por não me obrigar a beber sua mistura esquisita - ela disse diz se referindo ao meu whisky com coca, que engraçadinha
- Fiquei com medo de você derrubar outro dos meus copos - retruquei a piada, rindo da sua expressão de falsa indignação.
- Vem, Ana, senta qui, vamos trabalhar, deixa de papo.
- Você tá ficando abusada ein, italiana?
- Você non tem nen noção "carioca". - ela puxa o "r" e sorri sedutoramente antes de suavizar sua expressão como se não tivesse dito nada demais e, brincalhona, me puxar para sentar ao seu lado.

One shots Chiana Onde histórias criam vida. Descubra agora