Prólogo

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Aɴɴᴇ Lᴇᴡɪs

06/05/2000 - 2019

Fɪʟʜᴀ, Iʀᴍᴀ̃ ᴇ Aᴍɪɢᴀ

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25 de Setembro de 2019

Narração em Primeira Pessoa

— Já fazem dois anos desde o desaparecimento da adolescente Anne Lewis e hoje finalmente a família decidiu fazer um enterro simbólico em busca de um mínimo conforto. — um repórter falou em frente ao cemitério.

Reviro os olhos ao vê-lo e coloco o cigarro nos lábios, Anne iria odiar toda essa porra de estar aparecendo na TV... Ótimo, agora eu falo dela no passado também?

Fico mais ou menos vinte minutos no lado de fora quando escuto o barulho de salto alto, reviro os olhos já sabendo o que me esperava.

— Aidan, já vamos começar...Você está fumando!? — minha mãe perguntou irritada com a voz falhando.

— Não. — Digo com ironia — Já vou indo.

Sinto que ela só não me deu uma bronca em "respeito a Anne"... Desaparecida, eu não acredito, não consigo acreditar.

Queria ter tido mais tempo, na verdade eu tive, só não soube aproveitar. Depois do ensino médio fiz umas amizades e me afastei da minha família, sendo bem sincero meus pais mereceram, mas Anne não... Ela era só uma criança que me amava e eu simplesmente a exclui da minha vida, como pude fazer isso? Que tipo de irmão eu sou?

Balanço a cabeça como se pudesse sacudir os pensamentos para fora da minha mente (uma mania que ela também tinha... tem) e entro no maldito cemitério, está lotado de pessoas, acho que você imaginar como um ninho de cobras, porque é isso que são.

Vejo duas garotas nas cadeiras da frente, Julie e Emma, as supostas melhores amigas da minha irmã. Julie parece ter acabado de chorar, mas Emma se mantém firme com uma máscara de indiferença. Nojenta.

Meus pais subiram no palanque perto da caixa que iriam usar como símbolo. Não presto muita atenção, ou melhor, não quero prestar atenção.

Dentro daquela caixa estão as preciosidades de Anne : Um colar das Relíquias da Mortes; seu cachecol azul, uma foto com Sirius e outra que nós dois tiramos no suposto lugar da Plataforma 9 ³/₄. Meus pais queriam enterrar os livros, mas eu não deixei.

Assim que a cerimônia acabou, eu saí do cemitério, não quero ficar mais tempo do que o necessário.

Mas eu não sinto nenhum vontade de ir pra casa e encarar os meus pais, ou ver Sirius deitado na cama do quarto vazio de Anne, latindo e uivando com alguma esperança de que ela fosse entrar.

Então, decido ir a estação de King's Cross, seu lugar favorito. Fico lá até anoitecer, olhando os turistas tirando fotos no carrinho colado na parede com a plaquinha "Plataforma 9 ³/₄", eu deveria ter vindo mais aqui com ela.

— Onde esteve? — Meu pai pergunta com os braços cruzados quando chego em casa

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— Onde esteve? — Meu pai pergunta com os braços cruzados quando chego em casa.

— Eu fui na King's Cross. — Respondo.

A televisão estava ligada no jornal e dessa vez falavam sobre outro caso muito parecido com o de Anne.

— A cerimônia feita hoje para garota Anne Lewis nos lembra que também fazem dois anos que a psicóloga e psiquiatra Miranda Greengrass desapareceu. — a âncora falava — No início da investigações os policiais acreditavam a médica estivesse envolvida no sumiço da adolescente, mas depois foi revelado que os horários não batiam devido a localização do consultório de Greengrass. Contudo, os detetives e policiais não descartaram a hipótese de alguma conexão entre os desaparecimentos.

Reviro os olhos lembrando do que inferno que foi no dia do acontecido:

Era quase meia noite, eu estava em uma festa da faculdade quando minha mãe me ligou desesperada.

— Mãe? Calma, o que aconteceu!? — perguntei.

— A Anne sumiu. — ele falou com a voz falhando entre as prováveis lágrimas que caiam.

Eu lembro de ter ficado em estado de choque e comecei a fazer várias perguntas como "Já ligaram pras amigas dela?", "E pra escola?" ou "Talvez ela só tenha ido dar um passeio."

Mas não, não foi isso que tinha acontecido. Os policiais viraram a noite procurando-a tudo piorou quando foram checar o quarto e perceberam que a janela só poderia ser trancada por dentro e não teria como Anne ter saído por lá. Então simplesmente aceitaram que ela tinha saído pela porta.

No dia seguinte, a notícia de que a doutora Miranda Greengrass tinha desaparecido veio a tona, as teorias começaram a surgir quando descobriram que minha irmã tinha sido sua paciente.
Todos achavam que a médica tinha sequestrado ela ou algo do tipo, até minha mãe quis acreditar nessa ideia. Eu achei patético, aquela mulher a amava e não lhe faria nenhum mal, depois percebi que talvez ter tirado Anne daquela casa teria sido a salvação.

Não sei se você se importa, mas eu li Harry Potter depois dela ter sumido (provavelmente por consciência pesada) e cheguei a conclusão de que meus pais parecem os Dursleys com o Harry.
Muitas vezes as pessoas têm filhos na intenção de suprir algo que não fizeram ou não tem, suprir a própria carência e necessidade, bom e foi isso que aconteceu comigo e Anne.
A diferença é que ela é bem mais corajosa que eu e decidiu não seguir o que queriam, era diferente e teimosa demais.

Voltando para a doutora, chegaram a conclusão de que os horários dos desaparecimentos não batiam. O consultório ficava no outro lado da cidade, quase 50 minutos de distância e a última pessoa que falou com ela, um segurança, afirmou que tinha saído entre às 10:45 da noite e levando em consideração os latidos de Sirius, Anne tinha sumido às 11:00 ou antes disso. Em resumo, não daria tempo para ela chegar na nossa casa.

O caso ficou mais assustador, porque agora as manchetes "Médica e Paciente desaparecem misteriosamente" apareciam em todos o lugares.

E nós nunca descobrimos o que realmente aconteceu...

— Por que você não falou nada no cemitério? — Minha mãe perguntou entrando na sala e me tirando do transe que estava.

— Eu não tinha nada pra falar. — respondo dando de ombros, sinto um cinismo na minha voz.

—Você pode ter um pouco mais de respeito? — meu pai diz, ele também percebeu.

— Tudo bem. Respeito pelo que, pai? — eu pergunto cruzando os braços.

— Acabamos de enterrar a sua irmã, Aidan! — a mulher berrou e solto uma risada sem graça.

— Não enterraram ela. Aquilo só foi um símbolo, uma tentativa de redenção porque você dois se sentem culpados e não querem enxergar a outras possibilidades. — grito.

— Aidan...

— Acham que eu não sei o que ela passava aqui? Se ela sumiu ou fugiu, a culpa é inteiramente de vocês. — percebo que estou chorando e me afastou, indo em direção a porta, mas antes olho os dois uma última vez — Eu deveria ter levado ela para morar comigo quando tive a chance.

Assim que sinto o vento quente batendo no meu rosto, deixo as lágrimas e a angústia tomarem conta do meu coração. Minha irmãzinha... Desaparecida ou Morta?

Entre Mundos | Marotos [2]Onde histórias criam vida. Descubra agora