Capítulo 1

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Erick

     Eu corri todo o percurso de corrida do parque da Independência, no Ipiranga, mas agora, quinze para às oito da manhã, já está no meu horário. Paro para fazer alongamento e me apoio em uma árvore.
    Um pouco à minha frente, uma garota faz o mesmo. Chama a minha atenção pela beleza, um corpo de tirar o fôlego, bumbum saliente na calça apertada de ginástica, seios avantajados, mas sem exagero, cabelos longos e claros, amarrados em um rabo de cavalo, que vai até o ombro e um rosto perfeito. Um pouco baixinha, mas sem deixar de ser bonita por isso. São poucas as mulheres que chamam a minha atenção, e olha que costumo ter muitas ao meu redor. Ela está a poucos metros à minha frente e bem envolvida na sequência de exercícios que executa.
    De repente, ouço um grito:
    — Cuidado! Sai, sai da frente, ei, garota!
    Olho para cima e localizo de onde estão vindo os gritos, vejo o motivo do alvoroço, várias pessoas estão fazendo gestos e gritando ao mesmo tempo. Um carrinho de pipoca descontrolado está descendo a elevação a toda velocidade e vai se chocar contra a garota, que continua com seu exercício sem perceber nada.
    — Ei, garota! Cuidado!! — grito, desesperado.
    Deve estar com o fone de ouvido, ela não viu o perigo e nem ouviu!
    Ajo por puro impulso e, em poucos segundos, jogo meu corpo ao encontro da garota segurando-a bem na hora em que o carrinho passa raspando.
    Rolamos os dois alguns metros abaixo e paramos atordoados. Quando olho para baixo, vejo olhos verdes como o mar, arregalados, me encarando assustados. De repente, mãos e pernas se debatendo e gritos.
    — Sai de cima de mim seu brutamontes estúpido!
Ouço o xingamento e tento ajudá-la. Imagino o susto que levou, mas não justifica essa reação. Ouço o seu grito de dor.
    — Ai, meu braço!
    — Saio com prazer, senhorita mal agradecida — digo perdendo a paciência. Me joguei para salvar a vida da garota e ainda sou xingado de brutamontes? Sei que sou um homem bem grande, ainda mais perto dessa mulher que é um pouco maior do que uma criança.
    — Você por acaso é surda? Todos estávamos gritando para você sair da frente do carrinho e você ficou parada sem se tocar de nada? — pergunto tentando me levantar e ajudando a garota a se levantar também.
    Ela me olha sem entender nada como se não estivesse me ouvindo.

Marie

Eu sinto um baque, braços fortes me envolvem e rolamos alguns metros abaixo. Quando olho para cima, olhos escuros me encaram em um rosto lindo de tirar o fôlego, fico olhando alguns segundos atônita sem entender o que está acontecendo. Sinto uma dor horrível e grito:
    — Ai, meu braço!
    Estou com tanta dor no braço que mal consigo ficar de pé, mas não consigo tirar os olhos do meu agressor. Ele tem um rosto um pouco quadrado, uma barba rala feita com muito capricho, os olhos castanhos, parece saído de uma revista de modelo esportista.
    Por que este homem está me atacando? Será que é um maluco tentando me assediar?, penso, aflita, antes de olhar para o lado e ver o carrinho de pipoca estraçalhado no exato local em que eu estava. Meu Deus! Se tivesse me acertado estaria morta com certeza. Tento ficar em pé e sinto o peso do corpo dele no meu. Gemendo de dor, grito:
    — Sai de cima de mim seu brutamontes estúpido!
Passo a mão em meu braço para aliviar a dor e sinto a mão molhada com algo grudento. Olho horrorizada para as minhas mãos e vejo o sangue empapando meus dedos de vermelho. Sinto as pernas trêmulas, olho para o homem que estava em cima de mim e que agora tenta me ajudar a levantar, ele fala e esbraveja, mas eu não consigo entender nada, não consegui acompanhar seus lábios.
     Minha cabeça está rodando, meus olhos se focam no sangue e minha vista escurece. Eu tento piscar, meus braços vão cedendo e, de repente, tudo fica totalmente escuro.

Amor, sons e sinais (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora