✵ Dois ✵

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Havia o medo encarando os seus olhos, no entanto, a coragem pousou em seu coração…

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Havia o medo encarando os seus olhos, no entanto, a coragem pousou em seu coração…

A voz da mulher soou frágil, no entanto, melodiosa e em uma cadência que lhe trazia aconchego, ainda que a face demonstrasse temor. À vista disso, Chantara franziu o cenho, sem saber de quem se tratavam essas pessoas.

“Quem poderia tê-la visto em meio a neve que caía sem cessar?”

A situação se tornava ainda mais confusa para ela, uma vez que a sua vida era cercada pela mesmice dos dias; sem mistérios ou segredos, muito menos incertezas.

Ainda assim, novamente, estendeu a mão para a viajante que não aparentava ser muito mais velha que ela. Talvez um ano ou dois, no máximo três, mas não mais que isso. As pedras de Ônix lhe encaravam em aflição e a caçadora sentiu-se assustada também. Ambas deveriam partilhar da confiança, deixando os temores para trás.

— Qual o seu nome? — Quis saber Chantara ao ver a criatura amparar-se nela.

A moça dos cabelos da meia-noite deixou transparecer um vinco de confusão em seu semblante. As mãos recearam e a jovem as elevou até próximo dos lábios para aquecê-las com um sopro.

— Está tudo um tanto confuso… — confessou e espirrou altivo, o que a fizera se assustar com o ato inesperado, tocando de imediato o seu nariz resfriado.

A mulher se encolheu, se envolvendo em seu próprio abraço, como se assim espantasse a friagem. Chantara constatou que ela precisaria de roupas quentes, um espaço aconchegante e um bom caldo.

— Você lembra de alguma coisa? — perguntou em sua mais nova curiosidade. Os olhos apertados, a feição de quem desejava desvendar um mistério, as roupas já cobertas pelo branco. O branco que dominava cada centímetro ao seu redor.

A forasteira fechou os olhos e o mundo ficou tão silencioso que Chantara duvidava da veracidade dos seus pensamentos. A outra então suspirou, o ar ardente em suas narinas.

— Nixie… creio que o meu nome é Nixie Sellar.

Chantara ajudou Nixie a se manter de pé ao vê-la vacilar, embora ela estivesse parada no mesmo lugar. Ela não possuía ferimentos, o que era de se estranhar; no entanto, a situação aparentava mais confusa do que todas as coisas estranhas que já presenciara na vida.

Ainda que não existisse enfermidades aparentes, a mulher mancou ao ser orientada a caminhar, tropeçando e cambaleando em seus próprios pés como se não tivesse o costume de andar. Sentia fisgadas nos calcanhares e nas falanges, aparentava que alguém os espetavam por baixo. Chantara ajudou aquela que surgiu dos céus, pondo o braço dela atravessado em seu pescoço, servindo de apoio para que ela não tropeçasse e considerava o que faria depois. Ela não poderia ficar em sua casa diminuta para sempre, mas não lhe negaria a hospedagem de um dia.

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