7 - Reviravolta

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Amary on

Noite do quarto dia as 19:05

Olho mais uma vez para a direção que o casal foi. Eu não vou ir atrás deles, os raios sempre me apavoraram e hoje não seria diferente.
Lembro das tardes que estive sozinha nessa ilha, os temporais me faziam correr para as cavernas e desejar ter meus pais de volta.
Meus pais.

Sinto a falta deles, me arrependo amargamente de não ter dado ouvidos aos conselhos que me deram.
Sempre quiz fazer as coisas do meio jeito, e olha no que deu ?
Uma jovem de vinte e dois anos presa numa ilha deserta, sem amigos, festas, sem a família. Tive meus sonhos interrompidos quando naufraguei próximo da ilha, sorte a minha que não morri. Tempo foi o que não me faltou, aprendi a pescar, caçar, a usar um arco e flecha, sei quais plantas usar como remédio e as que são de comer, também apreendi sobre o clima desse lugar e te garanto, me ajudou muito.

Olho a chuva que cai gradativamente, uma hora aumentando ou diminuindo, um raio corta o céu.
Logo logo o trovão vem, é desse jeito, primeiro o raio e depois o trovão.

-- Aaaaaaa. - o trovão ecoa juntamente com um grito cortando a minha linha de pensamento.

-- É a Charlotte. - o garoto chamado Jasper diz. Eu não sei se ele se lembra de que dei um remédio para ajudar ele a melhorar da picada, havia esperado o casal sair para dar a erva medicinal.
Eles não sabem, mas tenho espionado eles desde que chegaram, vi quando construíram a cabana, a picada no Jasper e o garoto loiro dar o antídoto para ele, os dois babacas chegarem reclamando de um iate, e a doce menininha preocupada com a tia Lottie, o tio Henry e o tio Jasper.
Muito fofa.

-- Ela tem medo de trovão ? - pergunto ao Jasper, mas o não olho, mantenho minha atenção nos dois seres humanos correndo na chuva.

-- Tem medo. - quem respondeu foi o baixinho meio calvo.

-- Não estaríamos passando por isso se aqueles alienígenas não tivessem destruído meu iate. - o tal do Ray resmunga.
O baixinho arquea uma sobrancelha.

Por favor não comecem a discutir...
Alienígenas ?

-- Para de reclamar Ray, se não tivéssemos naufragado, não teríamos encontrado a Amary. - Jasper diz impaciente. -- Agora Amary tem companhia. - ele sorri pra mim. Gosto do seu jeitinho fofo e meio tonto, dá uma qualidade única para ele.

O som de mais um trovão estronda.

-- Quando essa chuva vai passar ? - pergunto para mim mesma.

O casal se aproxima de nós, ambos encharcados e ofegantes de tanto correr.

-- Bem que Amary disse que iria chover. - Charlotte comenta apoiando as mãos nos joelhos, o namorado dela senta numa pedra.

-- Conheço esse lugar. - dou de ombros.

O silêncio reina, apenas o som da chuva, do vento e do mar é ouvido, meu corpo clama por uma cama macia, coisa que não vejo já tem anos, me rendo ao cansaço e ao sono que veio depois de minutos em silêncio.

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Charlotte on

Madrugada do quinto dia as 01:53

O cansaço tomou a quase todos, apenas eu, Henry e Lia estamos acordados observando as nuvens se dissiparem dando espaço para as estrelas, nunca vi tantas estrelas num único céu. Em Swellview aparece menos por conta das luzes iluminando as ruas, não dá para ver a quantidade absurda de estrelas que compõe o nosso céu.

É tão lindo.

-- Olha, uma estrela cadente ! - Lia diz entusiasmada, mais um pouco ela acorda os outros.

Náufragos - Vivendo Dias Muito LoucosOnde histórias criam vida. Descubra agora