cap. 2

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ele olhou nos meus olhos por um tempo, com uma expressão que não consegui decifrar. correspondi o olhar, reparando em seus olhos da cor de ouro com leves olheiras e semblante cansado. vestia apenas a camisa e a calça do uniforme, e na posição que estava, dava para ver uma bolsa branca e vermelha no chão. talvez tenha sido a luz solar fraca e amarelada do local, ou quem sabe a corrente de prata um pouco grossa por dentro de sua camisa semi aberta, mas ele era muito bonito. e parecia entender todos os meus problemas. um olhar de quem diz: "vai ficar tudo bem".

depois de mais ou menos 10 segundos que duraram 10 horas, ele conclui:

-ah, você é a amiga do Atsumu, não é?- ele se afastou. sou o Suna. talvez já tenha ouvido falar.

-sim. sou S/N. já deve ter escutado de mim também.

-Atsmu fala alto não é?- ele disse em tom de brincadeira, acendendo o cigarro. agora pode ir para a outra cabine?

-você é folgado- falei, meio que sem pensar.

ele se virou para mim, com as sobrancelhas erguidas e o baseado na boca.

-hãn?

-você...é folgado. vem aqui pra fumar no meio da aula e ainda faz tanta questão de ser justamente no lugar onde eu estou. e se você sabia que eu estava chorando, por quê não falou comigo?

assim que as palavras saíram da minha boca, percebi o que tinha acabado de fazer: chorar na frente de alguém. quando tinha 10 anos, chorei na frente do meu pai e ele me bateu dizendo que eu estava me fazendo de coitada; depois daquilo e de diversas outras situações, morria de medo e vergonha de alguém me ver chorando. mas Suna não parecia se importar.

ele tragou longamente e soprou a fumaça no meu rosto.

-acho que "folgado" é um bom adjetivo pra mim. mas você mata aula pra chorar, somos iguais, não?- ele fez uma pausa, olhando para o lado. e também.. senti que você estava precisando. até porque, quem vem aqui tem sempre alguma coisa fora do comum.

olhei para baixo, meio abraçada á minha mochila e sentada em cima do vaso. ele estava na minha frente, mas agora se afastou e encostou o quadril na pia, se apoiando com a mão esquerda. ele olhava para a direita, em direção á porta e contra a janela.

reparei em seus tênis e, sem saber porquê, fiquei feliz que o All Star dele era igual ao meu. não só cor ou modelo, mas nas mesmas condições. acho que All Stars dizem muito sobre a pessoa que os usa, e algo me disse que eu não deveria temer o garoto.

-então, qual é a sua "coisa fora do comum"?- perguntou.

suspirei. tinha acabado de conhecê-lo e não consigo confiar nas pessoas tão facilmente; mas eu simplesmente tinha que falar pra alguém.

-promete não contar pra ninguém?

ele fez uma expressão estranha: -porque eu contaria?

suspirei novamente.

-uma garota que me odeia chegou na escola. ela me odeia muito, e eu não sei o motivo. no oitavo e nono ano, ela vivia me dizendo coisas horríveis, até que conheci minha amiga Ester e ela "expulsou" a garota. mas agora, ela voltou, e escreveu mais coisas horríveis na minha mesa.

ele parou de fumar e olhou diretamente pra mim.

-qual é sua sala?

-3°A.

-uau- disse- então aquela é a sua mesa.

ele pegou seu celular (que, ao contrário de quase todos da escola, não era um Iphone de última geração)  e me mostrou uma foto da minha mesa, a mesma cena que eu tinha visto algum tempo antes.

𝑴𝒆𝒔𝒎𝒐𝒓𝒊𝒛𝒆𝒅- 𝑺𝒖𝒏𝒂 𝑿 𝒓𝒆𝒂𝒅𝒆𝒓 (𝒊𝒎𝒂𝒈𝒊𝒏𝒆) Onde histórias criam vida. Descubra agora