A favorita | Concluído

Capítulo XVIII

— Com licença meu senhor, senhorita… — Mehmed diz com feição cínica e logo se afasta.

— De que falavam? — Sulleyman pergunta curioso.

Ela suspira.

— Nada importante.

— Já disse que não a quero próxima de homem algum, mesmo que este seja um de meus empregados. — demonstra seriedade, mas logo suaviza a feição. — Vamos, quero que conheça nosso convidado. — A voz de Sulleyman soa pegando em seu braço e a encaminhando até o convidado especial, a quem o baile estava sendo oferecido. Este instantaneamente se vira com a aproximação do Sultão, e Ekaterina perde a cor, deparando-se com uma pessoa que pensou nunca mais ver.

— Papai?

…

Ninguém poderia dizer que Ekaterina não era filha do grande mercador visionário Yury Petrov. O homem possui cabelos tão acobreados como os da filha e olhos igualmente claros, a grande diferença é que ao passo que os olhos de Ekaterina demonstravam apenas bondade e ingenuidade, os do seu progenitor eram cobertos por maldade, ganância e autoritarismo.

Quando seu olhar cruzou com o dele, Ekaterina esqueceu-se de como se respirava corretamente por alguns segundos. Quando poderia imaginar que o convidado de honra do Sultão, aquele para quem ela mesma havia preparado toda aquela recepção, era seu próprio pai a quem não via há meses desde que fugiu daquele navio, indo contra o destino que ele havia lhe preparado?

Quando a palavra pai saiu de seus lábios, Sulleyman imediatamente encarou a jovem russa com surpresa e confusão expressas em sua face. De fato aquele homem havia lhe lembrado alguém quando o conheceu, mas no momento em que o viu não se recordou exatamente quem ele lhe lembrava. Agora, estando de frente para ambos, têm a completa certeza do que passa por sua mente.

— Ekaterina, minha filha, você está viva!  — Yury deixa a compostura de lado e traz a filha única para um abraço apertado, pouco se importando com os olhares de muitos na direção deles.

Sem delicadeza alguma Sulleyman retira os braços do homem do redor do corpo da jovem, a trazendo de volta para si e lançando um olhar reprovador sobre ele. Detestava qualquer homem próximo a Ekaterina, não surportava qualquer um deles falando com ela, próximo dela e pior ainda, tocando nela e essa regra servia para qualquer um, mesmo que um deles fosse seu pai.

— Não toque nela! — Sulleyman vocifera em direção a Yury e logo volta o olhar a Ekaterina, que ainda se mantinha abismada por toda cena que estava se passando a sua frente. — Que história é essa de pai, Ekaterina?

Ela pigarreia e o encara.

— Sulleyman, este a sua frente é Yury Petrov, meu pai. — o apresenta, mesmo que tudo já estivesse mais do que claro.

Imediatamente Sulleyman liga os pontos. Como não havia percebido antes? Sulleyman não era burro, antes de fazer negócios com alguém sempre enviava um dos membros pertencentes ao mais alto escalão de funcionários fazer investigações acerca da pessoa para que nunca fosse passado para trás. O que descobriu da boca de seu empregado foi que Yury Petrov é um dos homens mais ricos do Império Russo, pai de uma filha que havia desaparecido misteriosamente e por quem tanto procurou nos últimos tempos e agora, ligando os fatos, Ekaterina Yuryevna Petrova veio fugida do Império Russo. Surpreso, olha para a jovem à sua frente e para o homem parado com sua pose tão arrogante quanto a dele.

— Eu estive procurando por todo esse tempo por você, minha filha, coloquei muitos dos empregados atrás de seu paradeiro, achei que estivesse morta. — A voz de Yury soa em tom deseperado e Ekaterina não entende aquilo tudo, ele nunca havia sequer tentado demonstrar algum tipo de afeto para com ela, não entendia o porquê de toda aquela cena agora.