O acidente

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O acidente

15 de Dezembro de 1985

São Paulo/Brasil

Eu só conseguia chorar enquanto era espremida pelas malas. Mamãe descobriu meu relacionamento com Sara e simplesmente surtou.
Ela mandou todos arrumarem suas coisas para que voltássemos para Curitiba.
Ela gritou, tentou me bater, disse que eu era uma vergonha, disse que eu não era mais uma filha, disse que preferia que eu estivesse morta do que ter uma filha sapatão. Aquilo doeu, doeu muito.
Ouvir aquilo da minha própria mãe, a mulher que eu mais amava e admirava no mundo.
Aquilo partiu meu coração.
Não tive tempo nem de dizer "tchau" para minha amada Sara.
— Onde foi que eu errei? – Escutei ela dizer enquanto dirigia. — Viu o que fez? Meu escritório estava ficando conhecido! Mas por culpa sua terei de abandoná-lo!
— Deixe eu pelo menos me despedir de Sara! – Pedi enquanto soluçava em meio às lágrimas.
— Não! – Ela grita. — Você é uma vergonha! Estou com vontade de te bater! Até você parar de respirar!
— Chega mãe! – Ouvi Romeu gritar. — Você não toca nela!
Antes de entrarmos no carro, Romeu me disse que já tinha um bom dinheiro já que estava juntando há quase dois anos. Iríamos fugir para o Rio de Janeiro.
Eu só queria aquilo, fugir junto do meu irmão mais velho.

De repente ouvi minha mãe gritar e logo depois tudo girar, Milena e Ryan choravam. Eu não conseguia fazer nada, estava de cabeça para baixo presa no cinto de segurança. Meu corpo inteiro doía e então... Tudo ficou preto.
— Mãe? Romeu? Ryan? Milena? – Eu gritava desesperadamente.
A única coisa que via era uma luz branca e o nosso carro de cabeça para baixo. Me abaixei para ver melhor, vi Ryan e Milena presos no chão do carro. Eu estava no banco de trás, presa no cinto e de cabeça para baixo. Romeu estava caído no teto do carro e a mamãe havia sido jogada para frente, sua barriga estava cheia de cacos de vidro.
Eu não tenho reação alguma, acho que estou em choque ou delirando.
— Sophie?
Olhei para trás e vi meu professor preferido.
— Professor Eduardo?
Há algumas semanas recebemos a notícia que professor Eduardo havia sido encontrado morto em sua casa, ele foi espancado até a morte.
— Foi aqui que morreu?
— O que? Eu morri? – Naquele momento eu estava totalmente desesperada.
— Bom, acho que não. Você ainda está conseguindo ver seu corpo, venha! você não precisa ver isto!
O Professor Eduardo me guiou para uma floresta, o cheiro de terra molhada era bom, mas eu ainda não conseguia acreditar.
Eu morri?

Eu te amo, Sara Onde histórias criam vida. Descubra agora