Capítulo 2 - Hayane

123 25 4
                                    

Gabi Cruela praticamente me expulsou da empresa de tanto nervoso que estava. Danilo havia chegado um dia depois da sua mensagem bombástica, sua reunião com Evandro aconteceu e agora, ambos estavam no Café e Seus Aromas me esperando.

Claro, disse que estava em horário de trabalho, que só poderia vê-lo depois das 18 horas, mas nem deu 13 horas e fui expulsa do meu esconderijo. Covarde? Não, só um poço de insegurança e rebeldia.

Pela primeira vez na nossa amizade, não conversamos por horas, não trocamos várias mensagens e o silêncio me incomodou demais. Ontem parecia que havia tido um blackout, sentia que nosso vínculo estava escorrendo pelas minhas mãos e não sabia o que fazer.

Grande mentira, sabia sim, e muito, só tinha medo das consequências.

Ontem consegui me afundar nos "ses" da vida, hoje não tinha volta, não quando meus pés conseguiam caminhar até o Café enquanto minhas mãos suavam e meu coração parecia que sairia pela boca. Almoço? Não conseguia colocar comida no estômago desde ontem antes de dormir.

Se minha ansiedade fosse uma pessoa, ela diria: "Ele vai te tratar com frieza, fingir que não te conhece, será apenas seu amigo e não avançará o sinal".

Oh, céus, e se ele avançar o sinal?

Ainda bem que mesmo com esse rebuliço de sentimentos e pensamentos não parei de seguir até o meu destino. Quando cheguei à porta de vidro da entrada do Café, vi Josiane, Mary, Pat e Nayane entre os clientes, atrás do balcão e servindo mesas. Tentei olhar para as pessoas que ali estavam, mas só vi um borrão.

Respirei fundo, abri a porta e meu olhar encontrou com o dele assim que pisei dentro do estabelecimento. Como mágica, parecia que tudo havia ficado iluminado, principalmente ele, que estava sentado em uma mesa mais ao fundo com Evandro, ambos de terno, gravata e pose de poderoso CEO.

Uma placa luminosa indicava que o homem dos sonhos mais clichês me aguardava para um encontro.

Qual era mesmo o cargo de Danilo na empresa de café? Achava que nunca havia perguntado e quis me bater por isso. De tantas coisas que falávamos, custava perguntar sua posição profissional?

Percebi o homem engolir em seco e segui em sua direção quando se levantou. Ele iria me recepcionar com um abraço ou aperto de mãos? O pior de tudo não era ficar sem saber, mas que qualquer uma das duas me desconcertaria.

— Finalmente, Hay! — falou com rouquidão assim que me aproximei, pegou na minha mão e me trouxe para o conforto do seu corpo em um abraço de urso.

Ele cheirava muito bem!

Seu abraço era muito confortável.

Ele inspirou o cheiro do meu cabelo e fez meu corpo inteiro se arrepiar.

Oh, meus Deus!

Demorei um pouco para abraçar sua cintura, mas não apertar como queria. Estava constrangida por ter plateia e claro, com medo de fantasiar algo que não deveria. Que medo eu tinha de ser má interpretada!

Se percebeu meu desconforto, não esboçou, mas se afastou, segurou meus ombros por tempo necessário para me olhar da cabeça aos pés e puxar uma cadeira para que me sentasse.

Abri minha boca para cumprimentar, olhei para os homens e não consegui falar nada.

— Hay é uma amiga que conheci por conta de um e-mail errado. Estamos nos vendo pela primeira vez — Danilo revelou para Evandro percebendo minha mudez e nos sentamos. — Quer alguma coisa?

— Amigo virtual? — Josiane apareceu na mesa e piscou o olho para mim.

Evandro a encarava com amor e devoção, olhei para Danilo e percebi que havia colocado seu braço apoiado no encosto da minha cadeira. Colei minhas costas nele e senti sua energia se misturar com a minha.

— Si-sim... — falei sorrindo amarelo para minha amiga, voltei a encarar Danilo e tentei não surtar. — Nem falei oi.

— Oi, Hay — cumprimentou com voz baixa, como quando fazia no início da tarde, quando estávamos apenas pelo celular. A familiaridade da ação me tranquilizou, por mais que agora, a conotação parecia de sedução e não de amizade.

— Oi, Danilo.

Seu olhar para mim era um enigma que queria decifrar, mesmo estando com medo do que descobriria. Por vídeo era bom, mas não tão cheio de emoções do que ao vivo.

— Nosso assunto do dia já está encerrado, certo? — Evandro se levantou, estendeu a mão e cumprimentou Danilo. — Amanhã começamos os tramites legais, final de semana a gente sai e comemora formalmente. Conhece os Dragões do Asfalto?

— Sim, Nelcileno é meu primo de segundo grau. Não nos falamos há anos, mas a última vez que o vi, ele tinha recém sido recrutado. Uma pena que não trouxe minha moto. — Olhou para mim de canto de olho.

— Ainda bem que sempre tenho uma reserva — respondeu Evandro com um sorriso sarcástico, beijou sua mulher e saiu do Café deixando-nos sozinhos, lado a lado.

— Vou trazer o de sempre para você, Hay — Josiane falou e se afastou.

Agora éramos apenas nós.

— Vem sempre aqui? — perguntou Danilo tomando um gole do seu café.

— Lembra dos encontros no Café do clube do livro? É aqui — respondi de forma mecânica, com ânsia de falar mais, sem conseguir.

— Trouxe um livro para você, está no carro. Espero ter escolhido um que não fosse clichê, como já falou que não gosta. — Seu olhar me queimava por dentro e ao invés de me libertar, me deixava mais sem graça. Para piorar minhas emoções, ele ainda me comprou um presente, lembrava meu gosto literário! — Você está com vergonha, certo?

Soltei o ar com força e ri tentando mascarar o que ele já tinha percebido. Olhei em volta, percebi que todas as minhas amigas me encaravam como gaviões, mesmo estando trabalhando no atendimento.

— Sinto que estou em uma apresentação da escola, todo mundo me olhando e esperando que falhasse, para poder rir. — Inclinei meu corpo para frente assim que Josiane me serviu e se afastou rapidamente. Percebendo minha situação, ela parecia dar bronca em todas as meninas e uma a uma foram me ignorando. — Como foi com Evandro?

— Fechamos negócio. Minha empresa vai fornecer um grão diferenciado e exclusivo para a franquia. Isso significa que vamos nos ver mais vezes.

Engoli o café como se fosse pedra e voltei a ficar com minhas costas colada no seu braço. Olhando-o agora, percebi que meu amigo era muito mais que funcionário, era visível, só eu não enxergava. Ele era mais velho, mais divertido e seguro. Enquanto parecíamos no mesmo nível, estava segura de falar com ele, agora, parecia um estranho, alguém de outro mundo.

Olhei-o de corpo inteiro novamente, encarei seus olhos e percebi que ele me lia muito melhor do que eu a ele.

— Você... você...

— Sou um dos sócios da empresa, Hay. Mas isso não muda nada entre nós.

Levantei com pressa e mesmo com o coração apertado, falei:

— Preciso ir. — Olhei para o Café e chamei atenção da amiga que estava mais perto. — Nay, depois pago.

Fugi, porque a realidade estava demais para mim. 

Um Amor Real para Danilo & Hay (Encantadas Segunda Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora