Capítulo 3 - Hayane

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— Não acredito que você fugiu do boy magia! — Nay repetiu pela décima vez a frase e tomei um gole da minha cerveja para não a mandar para aquele lugar.

Depois que saí do Café, fui para casa, esqueci o celular no silencioso e assim que o sol se escondeu, vim para o Bar do Duende tentar me dar um choque de animação, mas Nayane estava na área, viu tudo e ainda não parou de repetir meu maior vexame da vida.

— Vira o disco, Nay. Preciso de tempo para digerir que meu amigo virtual agora é real, usa terno e é cheiroso. Posso me apaixonar pelo CEO da mesma forma que odeio quando as mocinhas dos livros fazem. É muito carma.

— E isso te impede de pular no colo dele por quê? E daí que você agora só vai ler livros com homens de terno. A vida foi feita para mudar de opinião sem arrependimentos. — Bateu seu ombro no meu. — Bem-vinda ao mundo das periguetes literárias.

Minha amiga fez sinal para Camila trazer mais duas canecas de cerveja para nós e observei a irmã do rei dos duendes nos servir sem exibir um sorriso. Ela sempre pareceu tímida, retraída e nenhum um pouco amistosa. O que será que passava em sua cabeça? Será que sofria de indecisão como eu ou algo mais sombrio?

— Ainda estamos te esperando sugerir um livro para o nosso clube de leitura! — falei para Cami tentando mudar o foco do assunto da minha pessoa para outra.

— Vou ver minha lista de leitura e falo depois — a irmã de Well respondeu forçando um sorriso e seguindo para servir outro cliente. Estávamos no balcão, acesso rápido ao néctar alcoólico.

— Sei que você quer mudar o rumo da nossa conversa, mas não tem escapatória. Você precisa dar uns pega naquele homem ou eu mesma farei!

— Você louca? — exaltei e virei em sua direção. Enquanto ela sorria vitoriosa, eu bufava de frustração.

— Eu e o cupido temos uma parceria. Até que o meu homem perfeito não apareça, preciso ajudar as amigas com suas frescuras. Se preciso forçar ciúmes, que assim seja.

— Você nunca teve um amigo que valesse mais do que qualquer coisa? — perguntei pronta para jogar nela tudo o que estava entalado na garganta. — Sabe aquela pessoa que você tem um vínculo enorme e não sabe o motivo, nem quer analisar como nem quando aconteceu, porque tem medo que tudo isso acabe? Enquanto eu e Danilo estávamos no virtual, tudo era muito seguro. Sempre gostei dele, era muito atraída por sua amizade e carisma pelo celular, mas agora... real... — Tomei um grande gole da minha cerveja e bati a caneca no balcão com mais força do que gostaria. — E se o que temos acabar? Só queria que ele fosse embora para poder conversar sobre tudo e nada novamente, como se nada tivesse acontecido.

Não percebi ninguém se aproximar, muito menos tomei nota de que Nay olhou por cima do meu ombro e ampliou seu sorriso.

— Você é boba, mesmo. E se tudo isso melhorar com vocês dois unidos pelo namoro?

— Um namoro virtual, Nay? — falei chateada.

— Acho que já passamos dessa etapa, Hay.

Escutei sua voz atrás de mim e fechei os olhos ao invés de encará-lo. Oh, droga, como fui cair nessa armadilha tão clichê? Eu e minha boca grande, cerveja na mão e medo no peito.

— Agora é minha deixa — Nay falou beijando meu rosto e se despedindo do pessoal do bar. Danilo sentou no banco que ela ocupava e me encarou tranquilamente. Não vestia mais terno, parecia mais a minha realidade com camiseta e jeans.

— Esqueceu seu celular em algum lugar? — Ergueu a mão pedindo uma cerveja para si e se acomodou melhor no banco. Ele não parecia incomodado com o que falei, muito menos afetado. Deveria ficar feliz, aliviada ou surtar?

— Não, deixei no silencioso para fugir das mensagens — respondi com sinceridade e fiquei de lado para ele, de frente para o balcão. Ele imitou minha posição.

— Aqui. — Ele colocou um embrulho na minha frente. — Seu presente.

— Um livro — falei rasgando o papel sem cuidado e sorrindo ao ter em minhas mãos o lançamento da P. F. Gomez, Sentença de Amor. — Como queria ele. Viu que capa linda? — Mostrei para ele empolgada. — Quer uma história nem um pouco clichê? É essa aqui! Fala sobre a história de um homem que recebeu do médico um diagnóstico nem um pouco animador. Meses de vida e...

— Tem final feliz? Você comentou tanto comigo quando essa autora começou a anunciar o lançamento que não imaginava que seria sobre uma sentença de morte. — Virou apenas o rosto para mim e prestou atenção no que falava.

— Defina final feliz — falei ousada e senti a tensão começar a sumir de mim. — Esse livro é genial, porque consegue transformar um drama numa comédia sem perder a seriedade do assunto. Tem noção como é surreal?

— Sim, tenho um vislumbre — falou com rouquidão.

Mais empolgada e sem estar intimidada, conversei com Danilo como se estivéssemos pelo celular. Adorava escutar suas histórias sobre a plantação de café e ele parecia deslumbrado com as histórias sobre os livros que eu lia.

Não vimos a hora passar, mas quando a música parou de tocar, percebi que já era tarde para estar na rua em um dia de semana.

— Amanhã vou acordar de ressaca e nem minha cunhada irá me perdoar se fizer algo errado — falei rindo, mesmo que lá no fundo estivesse preocupada. — Camila, fecha a conta para mim!

— Eu assumo! — Danilo se levantou, pegou o papel da mão dela, tirou algumas notas da carteira e abraçou minha cintura quando levantei e perdi o equilíbrio. — Acho que tem alguém bêbada.

— Você sempre quis me ver bêbada. Conseguiu — falei adorando a aproximação e ousada, cheirei seu pescoço. — Tive medo que você fosse fedido.

Ele riu alto, apertou minha cintura e seguiu para fora do bar. Bem, pelo visto, na vida real poderíamos continuar da mesma forma que o virtual.

Nunca estive tão enganada. 

Um Amor Real para Danilo & Hay (Encantadas Segunda Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora