Capítulo 02 - Os dramas de uma garota sem vida

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- Você está tão calada! – Falou Tiara, dividindo a atenção entre Aimê e o seu trabalho ao volante.

Aimê estava exausta. Não era uma exaustão física, mas mental. Havia tido uma noite de sono... satisfatória. Tranquila era uma palavra muito forte. Para sua sorte, estava cansada quando foi se deitar, caso contrário não saberia o quanto teria demorado a apagar.

Aimê sempre foi grata pelos dias cansativos. Gostava de não ter que pensar, sobretudo à noite. Essa era a beleza de uma rotina enfadonha: Dormir com facilidade. Acordava tão cedo e trabalhava tanto que dava mais valor aos dias de folga e as noites de sono. Sem mencionar que pessoas ocupadas também não sofrem de amor. Eles não têm tempo.

E ela não tinha mais idade para isso.

Mas a vida com Tiara era um eterno jardim de infância, o voltar à sua adolescência. Aimê não conseguia entender como tinham tão pouca diferença de idade e serem tão opostas. As coisas que davam valor, as suas preocupações, aspirações futuras, visão de vida... Não tinha nada igual. A vida de Tiara se resumia a tentar viver um conto de fadas com os sapos que encontrava no meio do seu caminho, sobre tentar transformar homens ruins em cavalheiros encantadores. É claro que ela não conseguia nada disso.

Porque enquanto Tiara fantasiava, Aimê se preocupava se teria dinheiro no dia seguinte, se conseguiria um lugar para dormir e se não estava sendo evasiva. Preocupava-se em ser sempre agradável, estar de bom humor e mostrar-se proativa.

Às vezes, parecia que sua vida era resumida em ter que aturar.

Aturar as reclamações dos clientes, os dramas de Tiara, a rotina irritante do apartamento da amiga, os inconvenientes da mãe. Tudo de uma só vez.

Quando é que voltaria a ter uma vida só sua?

- Eu só estou cansada. – Disse ela, não querendo conversa – Quero chegar em casa logo.

- Ainda tem mais três horas de viagem, né? – Pontuou Tiara – E o tempo de espera na rodoviária. – Acrescentou – Não sei como você consegue.

E havia também o pessimismo da amiga, a língua desenfreada, o descontrole em externar as coisas que pensa. Parecia que Tiara tinha quinze anos de idade.

A convivência é uma coisa que acaba com as relações, Aimê tinha que admitir. Via isso quando frequentava a casa dos pais, passava um tempo com a amiga. Ela era o tipo de pessoa que nasceu para viver sozinha, gostava de pensar. Tinha a própria rotina, os próprios dilemas. Gostava quando as coisas funcionavam ao seu modo. Era uma pessoa chata, metódica. Não gostava de intromissões ou confusões em seu dia a dia.

- Já estou acostumada. – Rebateu, revirando os olhos e encarando a janela à sua direita.

Aimê acordou pouco antes das seis àquele dia. Tinha que arrumar o cabelo, terminar de organizar a mala. Tudo que faria no dia anterior, se Lucas não tivesse aparecido de surpresa e estragado tudo. Seu corpo doía, parecia que tinha levado uma surra.

A mente deixando claro que o desgaste emocional não estava lhe fazendo bem.

Tomou um banho, respondeu as mensagens da mãe, negligenciadas no dia anterior, e tomou um chá calmante. Eis um dos motivos do seu grogue matinal. A mãe sempre falava que camomila de manhã causava cansaço e falta de disposição. Escovou os dentes e viu de relance quando Lucas foi embora, após o café. Os dois não trocaram uma palavra.

Aimê não gostava de Lucas, isso era claro, mas costumava achar que seu problema não era como ele. Lucas era apenas um mal carácter, alguém que, de repente, tinha uma mina de ouro em suas mãos e queria aproveitar de todas as formas possíveis. Aimê quem estava chata, estupefata das faltas de Tiara. Acabava descontando a frustração nas coisas ao seu redor. Em geral, tentava disfarçar o ranço, em nome das coisas que sentia pela amiga, mas não estava em seu melhor momento àquele dia.

SAGITARIANA - NUNCA FOI SOBRE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora