Capítulo 12 - Um primeiro encontro

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Era a primeira vez em meses que Aimê dormia em uma cama propriamente sua em Belo Jardim, em um quarto que poderia chamar de seu. Era um espaço simples, com ausência de detalhes, mas para o qual tinha inúmeros planos. Uma pena que a maioria deles incluísse a existência de dinheiro para se concretizar. Como era horrível viver em um mundo capitalista.

Jhonas colocara os móveis em posição antes requerida por ela e ajudou a organizar uma coisa ou outra. Claro que não pôde ficar muito tempo, tinha trabalho, e Aimê não queria abusar de sua boa vontade. O importante é que estava tudo do jeito que ela queria.

Desde que precisara abandonar seu antigo apartamento, Aimê viveu sob colchões de solteiro em um espacinho no chão ou em um dos lados, dividindo uma cama de casal. Até poderia dizer que estava acostumada, mas na vida não se deve acostumar ao que não vale a pena. E não queria gritar para o universo uma barbaridade daquelas. Aimê se apaixonava pelo luxo, pelas coisas boas que tinha. Não queria nada além de conforto.

É claro que a sua realidade estava longe dos maiores planos, mas já era um começo. Ao menos teria um espaço para descansar e ficar em silêncio, se esconder ao fim do dia. Um lugar que tinha o seu cheiro, emanava a sua energia, que poderia organizar como quisesse. Um lugar em que ela decidia as regras.

Aninhava-se ao cobertor quentinho e lembrava dos momentos em seu antigo apartamento. Aqueles lençóis tinham um sabor de casa. A visão do guarda-roupas à sua frente, a pequena mesinha de cabeceira. Tudo ali recordara o que perdeu, mas trazia à tona um sentimento de esperança. Reconquistaria seu espaço aos poucos.

No fundo, Aimê esperava que aqueles bons ventos trouxessem outros, que as alegrias se multiplicassem. Queria que as boas novas voltassem a tomar conta de sua vida. E estava esperançosa de que coisas mágicas acontecessem.

Por hora, tinha que se contentar com o que tinha em mãos.

- Aqui! - Disse ela, pulando nas costas do amigo, de repente.

Jhonas, que cozinhava alguma coisa aos pés do fogão, quase caiu para trás. Não esperava a chegada de Aimê. Ficou de costas e abriu um sorriso. Adorava quando ela era espontânea.

- O que é isso? - Questionou.

Aimê segurava um envelope branco em mãos. Estava bonita, ainda que aos moldes de uma recém-acordada. Usava um pijama rosa claro, com desenhos de ursinhos, que Jhonas conhecia bem. Aquele era um dos seus favoritos. Tinha o jeito sacana, o olhar de alguém que acabara de aprontar. Jhonas não estava entendendo.

- É uma parte do dinheiro que estou te devendo. - Explicou ela, colocando o envelope nas mãos do rapaz - Ainda não é tudo, mas vai te ajudar a cobrir o que gastou com a mudança no outro dia e com as compras do mês do apartamento. Também tem uma parte do aluguel, que você não entrou em detalhes, mas eu queria que conversássemos.

- Sério? - Ele desligou uma das bocas do fogão e caminhou até a bancada, conferindo o envelope - Mas não precisava disso. Eu disse que não tinha pressa.

- Eu sei, é que eu recebi os honorários da Maldivas, do trabalho que fiz na semana passada. Eu queria aproveitar o dinheiro para te pagar.

- E isso não vai te fazer falta?

- Jhonas, receba o dinheiro. - Ela revirou os olhos e se aproximou, insistindo - Eu estou te pagando, é isso que importa. Tem uma parte que consegui guardar para os meus outros gastos, não coloquei tudo aí. É por isso que disse que vou completar depois.

Ele não deu muita atenção, estava de olho no envelope.

No fundo, Aimê sabia que Jhonas criaria caso com aquele dinheiro. As coisas que o amigo fazia eram de boa vontade e ela sabia, mas não queria ficar devendo. Além disso, não queria que Jhonas se sacrificasse às suas custas. O rapaz já vinha gastando demais e ela sabia que se ele estivesse com alguma pendência, não diria. Ficaria sofrendo sozinho e procurando outras saídas. Jhonas não gostava de perturbar a mente de Aimê.

SAGITARIANA - NUNCA FOI SOBRE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora