2. Corra!
— Não acredito que a Aba pegou virose. — Comenta Bárbara desgostosa para o marido.
— Pelo menos ela olhou Mia nos últimos cinco dias querida — Diz Tiago com a voz calma de sempre pousando a mão suavemente sobre a perna da esposa — Foram dias ótimos. E de qualquer forma voltar hoje e amanhã não vai mudar muita coisa, apenas que nossa filha é muito nova para ficar sozinha em casa.
Tiago Becker estacionou o carro na estrada da casa e abriu o portão eletrônico da garagem em seguida. Ele e sua esposa Bárbara viviam quase em lua de mel nos últimos dias, afinal finalmente tinham conseguido abrir o próprio jornal na cidade, e para comemorar alugaram um chalé para descansar antes de colocar a mão na massa. Sua filha Mia não quis acompanhar os pais, disse que odiaria ficar de vela para o casal, uma vez que seu namorado não poderia ir junto.
— Acho que vou tomar um banho para relaxar — Comentou o homem entrando em casa.
A casa da família Becker era bem arejada, e sempre tinha um cheiro fresco de pinheiro, já que atrás da casa haviam vários deles. A mulher analisou a casa bem arrumada e deu um meio sorriso, não podia negar que sentia falta de seu lar.
— Vou ver Mia — Alisou os cabelos ruivos do marido depositando um breve beijo em seus lábios finos.
A mulher caminhou até o quarto de sua filha. A porta estava fechada como esperado. Bárbara pousou a mão sobre a maçaneta dourada da porta pedindo a Deus que Mia não estivesse no quarto com o namorado, afinal ela havia ficado o dia inteiro fora de casa e graças a babá Aba e sua virose, a menina tinha ficado sem supervisão. Um prato cheio para dois adolescentes cheios de hormônios.
— Querida... — Bateu na porta de leve antes de girar a maçaneta — Mia?
A ruiva entrou no quarto deixando a porta aberta. Fitou a cama arrumada com um ursinho branco a enfeitando. A escrivaninha com alguns livros dispostos sobre ela, todos do curso de fotografia que a menina havia concluído no dia anterior. A parede com um varal de LED rosa preenchido com fotos em família, com a melhor amiga e o namorado. A mulher colocou as mãos na cintura franzindo o cenho e finalmente encontrou um bilhete pregado no espelho do guarda-roupa e caminhou até lá. Leu cada palavra com atenção.
— Tiago! — Saiu do quarto apertando o papel em mãos.
Bárbara encontrou o marido na cozinha comendo um sanduíche tranquilamente. A expressão de fúria da mulher tirou sua paz o fazendo deixar a comida de lado.
— Leia! — Disse antes de qualquer coisa.
Tiago alternou o olhar entre o papel amassado e a mulher antes de pegá-lo. Reconheceu de cara a caligrafia de Mia no bilhete.
"Deixei o bilhete para caso voltem mais cedo. Não se preocupem, fui dar um passeio"
— Ela fugiu — A mãe disse à beira das lágrimas — Nossa menina fugiu Tiago!
— Calma amor... — Deixou o papel sobre a bancada — Ela deve estar na casa de Nala... ou... Ou do namorado — Apanhou as chaves sobre a ilha da cozinha — Vamos procurá-la. Ela não deve ter ido longe.
🔹🔹🔹
No lago Cristal ao longe se via apenas o corpo da menina desconhecida vagando pelas águas escuras do lago esperando ser encontrada, tão solitária e silenciada por sua morte cruel.
Nala e Mia corriam pela trilha o mais rápido que podiam. Os galhos finos das árvores cortavam seus rostos e roupas, mas elas não podiam parar, não podiam ser pegas. Sob seus pés as folhas secas estalavam, quem dera elas dessem mais atenção onde pisavam do que o que vinha atrás delas. Mia tropeçou em uma raiz alta torcendo o tornozelo.
— Mia! — Nala parou a corrida.
— Não para! — Gritou para a amiga com os olhos quase saltando de órbita — CORRE NALA! CORRE!
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A noite chegava serena na cidade, assim como o delegado Ruschel em sua casa. O homem havia acabado de chegar do cabeleireiro, havia feito um corte militar nos cabelos crespos, e veio em casa fazer o jantar antes de voltar para o trabalho, como todos os dias.
— Nala! — Chamou pela filha fechando a porta de entrada — Cheguei.
Olhou brevemente para o corredor e não evitou um suspiro cansado ao ver a porta do quarto de sua filha fechada. Nala tinha se afastado do pai consideravelmente depois da morte de sua mãe no ano passado, Nala diz que só a mãe a entendia. Victor fica triste ao ver que a menina não o vê como um porto seguro, nem mesmo se sente confortável em conversar com ele, e apesar de suas tentativas sua filha prefere ficar no quarto durante o dia todo.
Victor fez uma sopa para o jantar, a noite estava fria e como Nala tinha a imunidade baixa precisava se aquecer. Assim que desligou o fogo que cozinhava a sopa ouviu a campainha tocar, secou as mãos em um pano de prato e atendeu a porta.
— Delegado — Disse Tiago respeitosamente acenando com a cabeça.
— Tiago — O delegado estendeu a mão cumprimentando o homem e sua esposa — Entrem.
As expressões aflitas nos rostos do casal ruivo o deixaram em alerta. Ele fechou a porta indicando o largo sofá cor café para que eles se sentassem e assim eles fizeram.
— Está tudo bem? — Indagou sentando-se na poltrona de frente para o casal.
— Não... — Começou Bárbara com a voz trêmula — Nossa filha, Mia, e-ela está aqui?
— Não que eu saiba — Alternou o olhar entre o casal — Aconteceu alguma coisa?
A mulher se desmanchou em lágrimas no ombro do marido. Tiago a acolheu tentando acalmá-la.
— Victor, achamos que nossa filha fugiu de casa. Chegamos a duas horas em casa e ela ainda não voltou para casa, não ligou e não atendeu nossas ligações.
O delegado franziu o cenho. Conhecia Mia desde que era um bebê e sabia que isso não era do feitio da moça.
— Ela não tem costume de sair de casa — Disse a mãe secando as lágrimas — E como a única amiga dela é Nala pensamos que ela possa estar aqui.
O delegado assentiu compreensivo, mas sabia que a garota não estava aqui, a casa estava silenciosa e quando Mia vinha visitar sua filha ambas ficam cantando no quarto.
— Vou chamar minha filha e ver se ela sabe o paradeiro da Mia.
Victor chamou sua filha entrando no corredor de seu quarto. Não houve resposta. Chamou Nala outra vez e bateu na porta. Mesmo assim, a menina não respondeu. Victor testou a maçaneta e crispou os lábios ao confirmar que estava trancada. Foi em passos largos até a sala e tirou o molho de chaves da porta.
O casal ficou curioso e o acompanhou até a porta do quarto. Fora preciso testar três chaves até que encontrasse a certa. O delegado empurrou a porta se preparando para dar um sermão na filha, mas o que viu fez seus ossos gelarem.
A janela do quarto de Nala estava aberta, as cortinas finas da cor lilás estavam esvoaçando com o vento para dentro do quarto. O delegado deu mais um passo para dentro do quarto com o coração na mão. Nala também havia fugido.
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A louca da escrita kkkkkkkkkkk Acabei de escrever e estou postando.
Comenta aqui para essa escritora, o que está perseguindo as meninas?
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