Em outra vida - Calzona

Capítulo 1

Callie
- Ela perdeu muito sangue pela hemorragia causada pela bala, ela não aguentou. Sinto muito.

Sinto meu coração apertar e é como se o mundo me engolisse e eu não pudesse respirar. Abro os olhos, sim, eu estava sonhando, de novo, com o mesmo dia, as mesmas palavras. E isso já fazem 20 anos.

Eu e Louise nos conhecemos no primeiro dia de aula do quarto ano. Lá estava ela com sua mochila rosa e um laço na cabeça com um sorriso infantil que eu nunca iria esquecer. Viramos melhores amigas, inseparáveis eu diria. Ela tinha acabado de se mudar pro meu bairro o que fez com que ficássemos ainda mais próximas. No baile do nono ano, já com nossos 14 para 15 anos demos nosso primeiro beijo, escondido claro, duas meninas jamais seriam bem vistas namorando. Namoramos escondidas um ano até que minha mãe entrou no quarto e me pegou sentada no colo dela. Foi uma briga imensa nas nossas famílias mas no fim aceitaram, não tinha muito que fazer.

Começamos a fazer planos, que faculdade faríamos, que iriamos adotar uma linda menina e morar em uma casa no campo. Ela sempre foi uma pessoa sonhadora, gostava de imaginar um futuro perfeito onde seriamos felizes.

Tudo aconteceu em seu aniversário de 18 anos. Um assalto que deu errado e levou tudo que eu tinha, levou meu mundo, minha felicidade com apenas um disparo contra seu peito. Naquele momento eu soube que não existiria uma linda menininha, ou casas no campo. Eu sabia que não existiria mais um final feliz.

Já são 6:40 então me levanto, tomo banho e desço para tomar café. A algum tempo a governanta da minha mansão se aposentou, foi de certa forma por insistência minha já que ela já tinha seus 70 anos. De qualquer forma percebi o quanto as coisas não funcionam sem uma governanta aqui então fiz um anuncio para vaga e hoje receberia uma candidata, quando eu vi seu currículo ele não me impressionou, tinha 20 anos, pouca experiência, nada atrativo. Porque a chamei? Lhes respondo quando eu descobrir. Eu simplesmente liguei marcando a entrevista e consegui sentir a sua empolgação do outro lado da linha.

Aproximadamente uma hora depois ouvi a campainha soar pela casa vazia ainda já que os funcionários chegavam as nove. Os portões foram abertos por Alfredo, meu segurança, o único que sempre estava aqui tendo seu aposento para não ter que sair da casa. Abri a porta e quando a vi eu simplesmente congelei. Ela estava parada com a sua bolsa com um belo sorriso me olhando.

- Olá, eu sou Arizona Robbins – me estendeu a mão, com certeza ela estava desconfortável já que fiquei longos segundos- acho que foram segundos- encarando ela sem dizer nada, mas seu sorriso continuava ali iluminando seu rosto.

- Sou Calliope Torres – me mantive seria e retribui o aperto de mão e dei passagem para mesma entrar.

Fui com a ela ate meu escritório em um silêncio estranho, fiz sinal para que se sentasse o que ela fez rapidamente.

- Então o que fez você se interessar pela vaga? São grandes responsabilidades para uma moça de apenas vinte anos.

- Eu me mudei para cá a pouco tempo, vim de uma cidade pequena e sempre tive responsabilidades em casa, vou me dar bem com o emprego, eu aprendo muito rápido eu juro – ela falou em um só fôlego parece muito desesperada, como se estivesse dependendo disso.

- Minha antiga governanta dormia aqui, tendo seu próprio quarto e banheiro lógico. Não vou abrir mão que a nova ocupante da vaga faça o mesmo. A governanta é quem move a casa e preciso que ela esteja em ordem o tempo todo. Você está disposta a isso? – eu nunca tive paciência para cuidar de nada relacionado a casa. Eu nem sei o porquê comprei uma tão grande, talvez por ter dinheiro e nada para fazer com ele? Eu não sei.