Callie
- Você vai falar alguma coisa ou prefere continuar me encarando?
- Só encarando está bom. – ela falou quase em um sussurro.
- Não acha que está um pouco grande para ter medo de escuro?
- Acho, mas tenho medo mesmo assim.
Hoje tínhamos previsão pra chuva, está mais para o dilúvio daquela história da Bíblia, que tem a arca. Cerca de vinte minutos depois do início da tempestade a energia acabou e a Arizona está grudada em mim desde então.
Como de costume o meu banho estava pronto e eu precisava urgentemente relaxar e era exatamente o que eu estava fazendo antes da energia acabar.
- Callie, Callie – E ela entrou aos berros no meu quarto.
- O que foi Arizona? Deve ser um poste que caiu, pegue uma vela e vai dormir.
No escuro ainda consegui ver a silhueta dela parada na porta, imóvel. Ela só pode estar ficando louca.
- Callie?
- O que é, está aqui ainda? Vai dormir, é só um apagão.
- Você não pode ir pegar a vela? – a voz dela indica que estava chorando ou pelo menos muito nervosa.
- Por que você não pega?
Ela ficou em silêncio, é sério que uma mulher de vinte e um anos está com medo nesse ponto. Me levanto da banheira com cuidado pela escuridão e me cubro com o roupão, caminho até a loira que nesse ponto eu mal podia ver.
- Vamos atrás de uma lanterna ou velas, mas antes eu preciso que você me solte para eu colocar uma roupa. - ela está praticamente encima do meu braço segurando como se fosse criança com medo do bicho papão.
Ela me soltou e ficou parada na porta do banheiro, fui até o closet e peguei um conjunto de lingerie que não consegui identificar qual era e um conjunto de moletom que estava por cima. Tinha acabado de colocar as peças da lingerie quando um trovão ecoou pela casa e a loira entrou como um vulto no closet.
- Arizona eu ainda não terminei de por roupa.
- Desculpa eu só...
Ela estava morrendo de medo isso é notável e eu não estava afim de brigar com ela então só terminei de me vestir e fui até ela.
- Vem vamos encontrar uma lanterna ou velas.- Ela segurou meu braço como fez no banheiro e seguimos para o andar de baixo com cuidado.
- Esse medo todo tem um motivo?
- Mais ou menos. – Ela estava rodando a lanterna nas mãos como se estivesse brincando.
- E o que seria mais ou menos?
- Eu tive um irmão, Timothy – Ela sorriu- Ele era dois anos mais velho que eu, sempre me protegeu do mundo, mas um dia o destino tirou ele de mim. Foi em uma noite como essa, ele estava voltando da casa de um amigo e um deslize do motorista e o carro bateu com o meu irmão contra um poste. Naquela noite a energia também tinha caido e as únicas luzes que vi eram da polícia quando foram avisar minha mãe sobre o que aconteceu. Eu tinha oito anos mas nunca vou esquecer. Tenho uma sensação ruim sempre que chove assim.
- Eu sinto muito, não queria ter entrado no assunto. – ela não parecia estar chateada por ter falado, mas decidi pedir desculpas mesmo assim.
- Tudo bem, ele era incrível e não acho triste falar sobre ele. Minha mãe sempre me falou que devemos viver para que nossa falta seja sentida. Significa estar vivo no coração de alguém mesmo depois de partir, mas me ensinou também a aceitar o tempo de cada um aqui, pessoas nascem e morrem, então deveríamos apenas ser gratos por cada pessoa que cruzou o nosso caminho. Um dia também seremos memória para alguém, não é?
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Em outra vida - Calzona
FanfictionCallie perdeu o amor da sua vida quando ainda tinha 18 anos. Viu todos seus planos de ter uma linda família se desfazendo e não teve nada que ela pudesse fazer a respeito. Focou em sua carreira virando uma das empresárias mais bem sucedidas do país...