Eu lembro dos dias felizes com meu pai. Depois dele ser liberado do rancho, fomos para Chicago legalizar os nossos documentos. E um tempo depois, nos mudamos para um rancho de um senhor carismático. Senhor Bright era um cara maravilhoso. Ele nunca nos tratou mal, nunca havia nos discriminado pela cor, e nunca nos fez de bobos pra trabalhar com ele. Nesses 3 meses que ficamos com ele, percebemos que podíamos realmente ser trabalhadores, e não escravos.
Eu ia caçar com meu pai, cuidava do rancho, e todo mundo gostava de mim lá. Eu tinha só 15 anos, e me lembro de tudo. "-Pegue as cabras!" "-Não deixe-as fugir!" Dizia a senhora Bright. Ela era gente boa, 53 anos, baixinha e muito americana. Vivíamos nos divertindo com ela.
Foram dias incríveis. Lembro de quando apostei uma corrida com o papai, com meu Tennessee, meu primeiro cavalo que eu ganhei numa aposta com um cara em Wisconsin, quando fui lá pra documentar a construção de um novo celeiro para os burros que o senhor Bright cuidava. Ainda quero ve-lo um dia.
Voltando a corrida. Lembro do quão rápido meu coração pulsava. Tum tum, tum tum, tum tum. Era extremamente rápido. Eu cuidei do Baldwin, meu cavalo, por tanto tempo. O dia em que ele morreu, por causa de uma infecção, destruiu uma das minhas únicas memórias boas com o meu pai.
No exato dia, corremos de um posto de comércio, há uns 2km da fazenda, até o celeiro em que estava sendo construído. E um pouco antes de chegarmos, uma patrulha estava perambulando por lá. Eles nos disseram que havia alguns confederados por lá. E para que era para nós tomarmos cuidado.
Meu pai precisava trabalhar, e não explicou isso pro senhor Bright. Ele trabalhava perto das cercas, o que deixava ele ainda mais visível.
Ele era a única coisa que eu tinha. Minha mãe morreu ainda jovem, dois dias depois de eu nascer. Meu pai nunca se perdoou por isso.
E então, no dia seguinte, eu acordo ouvindo gritos de socorro de dentro do matagal perto do rancho. Eu corri, peguei uma Colt Springfield que o senhor Bright guardava em um dos armários do quarto, e fui até lá. Vi dois homens correndo, e atirei pro alto. Os dois continuaram correndo, e quando eu viro para o lado, meu pai estava lá. Amarrado pelo pescoço numa árvore, com sangue na boca, e enrolado por uma bandeira confederada. Na hora, eu me senti horrível. Eu realmente não sabia o que fazer. Meu medo maior, não era de morrer agora. Mas sim, de qual jeito eu iria morrer.
Eu olho pro lado, e o Sr Bright estava lá também. Em choque. Ele me disse pra ficar ali, e então, ele procuraria os vagabundos.
No começo, ele suspeitava de que talvez fossem os Green Grass. Rancheiros rivais na exportação de trigo. Porém, quando viu a bandeira confederada, já sabia o que era.
Ele voltou em uns 15 minutos, e eu ainda estava lá. Em choque, chorando.
Senhor Bright disse que lamentava muito sua morte, e que faria tudo para me ajudar, pois agora eu era de sua responsabilidade.
E então, decidimos enterrar meu pai. No sítio. Pois não havia permissão para enterrar negros em cemitérios públicos. Principalmente em Chicago, a essa altura da guerra civil.
Foi tudo muito rápido, mas pra mim, pareceu uma eternidade. Era ali onde tudo acabava. Meu pai nasceu na parte inglesa da África, e logo aos 3 dias de vida, foi levado para a América por um navio negreiro inglês. Sobreviveu quase 45 anos, pra morrer assim? Enforcado?
Eu realmente odeio aqueles confederados. Putos e vagabundos. Putos, e vagabundos!
E então, eu nunca mais fui o mesmo. E foi assim, que eu decidi ir embora do rancho. Dois anos depois, pra me cuidar por aí.
Era muito perigoso, mas eu precisava viver outra vida. Ganhar fama e acabar de vez com isso. Eu sabia o que eu tinha que fazer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Atrás De Revanche
Historical FictionRevanche, o método mais americano de se usar. Em 1863, um ex-escravo é encontrado morto pelo seu filho enrolado em uma bandeira confederada durante a Guerra De Secessão. O que faz com que George Ibori, pistoleiro profissional que faz parte de uma ga...