AINDA SOBRE O JOÃO SEXTA-FEIRA (Capítulo 7)

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Lembra do sumiço do João? O João sexta-feira? Aquele?

Pois bem, o caso ainda não foi elucidado, está longe disso, no entanto surgiram vários boatos e relatos sobre o que teria acontecido com o sujeito.

- Só sabemos que tudo aconteceu no Bar da Creusa, numa disputa de sinuca contra a Vila Sombreiro, e desde então nunca mais foi visto. – Ecos das vozes das ruas em comentários sobre João.

- O cara é lobisomem, já vi ele uivando por ai - diz seu Hermes, homem de Setenta e poucos anos, figura constante das esquinas e barzinhos do vilarejo, detalhe: metade da vila ele já viu uivando por ai.

- Seu moço eu vi sim, ele vestia uma cabeleira tipo black-power, saiu pela Av. Boqueirão e correu sem parar até o beco da ladeira, sumiu por ali mesmo, evaporou. - Segundo Faustino Proença, eterno candidato a vereador e representante ferrenho do Castanhal, com oito tentativas e oito perdas, mas que ainda mantém a esperança de algum dia conseguir alcançar o seu objetivo.

- Claro que vi mano, ele é tipo assim, um cara de outro planeta, e naquela magnânima sexta-feira o cara se encontrou com uns malucos verdes lá no campo do FC Timbaúva. Houve um momento de muita luz, alguns gritos e algazarras, uns churumelos e baque-baque, de repente PLOFT! Tudo escuro, tudo vazio, ninguém mais. Esse relato meio confuso? Regis Sandro, grafiteiro com destaque internacional e curriculum de vários prêmios por sua arte contemporânea e criativa, inclusive com muitos desenhos de ET's.

Nessa confusão toda até um argentino se juntou na tarefa de desvendar alguma coisa sobre o caso de "João Sexta-feira". O camarada se chama Marcus Armando Ortilosa, dono da maior e mais frequentada Lan House do Bairro e vizinhanças, o que lhe proporciona um bom público, em sua grande parte moleques que conhecem e "veem" tudo pelas ruelas, becos e avenidas onde vivem, impossível um deles não ter visto uma só vez o tal do João. Será?

Alheio a tudo isso está o velho Onofre, mestre de obras, responsável pela construção de quase todas as casas antigas do Castanhal, pra ele isso tudo é normal, é como se diz por aí: - "Tempestade fora d'água", o cara vai aparecer.

Na esteira dos acontecimentos a história também passa pelo Cine e Teatro Castanhal, administrado por Seu Ferreira, d. Matilde e seus três filhos: Fausto, Fernando e Felipe. Eles acham que o caso merece um maior destaque e é realmente muito estranho esse sumiço do João. Aí quem sabe essa história não renda um filme e tenha sua estreia aqui em nosso cinema? – Sonha Seu Ferreira.

Félix Bevilaqua e sua banca do Carioca rendem muitos momentos de conversa e descontração pra quem por ali passa, e passa muita gente, só de jornais são vendidos mais de cinco mil exemplares, uma loucura. Félix é descontraído e leva tudo numa boa, é relax, é do tipo no stress, e pra ele tanto faz, tanto fez, é daqueles prosam e cantam: "deixa a vida me levar, leva eu". Se resolverem o caso? Tudo bem. Se não resolverem? Tudo bem também!

Seu Freitas, dono de um Bazar digno das lojinhas da 25 de março em São Paulo, opina:

- Seguinte meu velho, o caso foi entregue pra polícia; os homens da lei sabem o que estão fazendo, na hora certa tudo vai ser resolvido.

É uma história realmente intrigante, que está causando muito barulho no bairro e arredores comenta Joana Oliveira, a dona Naná, uma mulher de fibra, guerreira, daquelas que não deixam a peteca cair. Tem uma história pitoresca e casual do nosso cotidiano, é viúva e luta com unhas e dentes pra manter a casa e seus quatro filhos, leva uma vida difícil, mas não desiste. Seu orçamento é por conta da pensão do falecido marido e por sua versatilidade em serviços domésticos.

Sr. Silva, carteiro responsável pelo Castanhal há mais de vinte anos é outro que acha o caso de João uma coisa simplória, um drama sem sentido na opinião dele. Vê com certa nostalgia o imbróglio que se formou, como uma história pitoresca, daquelas que acontecem normalmente nos vilarejos mundo afora, claro com uma pitada do bom e velho "eu aumento, mas não invento". Sr. Silva conhece todos os cantos do Bairro, é um GPS vivo, dizem que por ele nada passa despercebido, será mesmo?

JOÃO SEXTA-FEIRA E OUTRAS HISTÓRIAS: CONTOS E CASOS DO BAIRRO CASTANHALOnde histórias criam vida. Descubra agora