Na espreita do acontecimento, do tal sumiço do João, alguns moradores do bairro e dos arredores da casa do sujeito combinaram que haveria durante a semana que viria uma campanha de prevenção contra a dengue, e que dois "agentes" devidamente uniformizados, identificados e disfarçados fariam visitas pra uma vistoria e possível higienização das residências da localidade, tanto em âmbito externo como interno.
Conseguiram os aparelhos, apetrechos e artefatos pra tal da vistoria. Como conseguiram não sei. O fato é que a artimanha ia rolar.
Pois bem, começaram os "trabalhos", conforme o combinado, durante toda a semana muitos vizinhos de João são visitados. A ideia central e principal é no momento certo averiguar a casa de João, verificar e tentar descobrir alguma pista que desvende o caso. Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado e finalmente Domingo. Falta a casa de quem? Muito lógico! Falta a casa de João. E lá vão os destemidos "agentes", Raulzito e Izidoro. Batem palmas em frente à casa de sua "vítima". Cinco minutos e nada. Dez minutos e nada. Não acredito cara! - Diz Raulzito, num ar de desânimo. Tanto sacrifício por nada. – Completa ele. Até que no completar de Quinze minutos a porta da casa se abre. Quem sai pra atender? Uma velhinha, um pouco encurvada, olhar matreiro e desconfiado, cara fechada, de poucos amigos. O que vocês querem? – Esbraveja ela. – Hé, hã, começa Izidoro. – Fala de uma vez meu filho, não tenho o dia todo. – Raulzito toma a frente e explica o motivo da "visita". A velhinha se faz de desentendida, diz nem ter notado a presença dos nobres "agentes" na vizinhança. Primeiro porque ela não é fofoqueira como muita gente desse bairro, e muito menos bisbilhoteira como outra grande fatia do local.
- Coisa feia não é mesmo meus filhos?
- Ô, sim, minha senhora, responde Izidoro
- Minha Senhora que nada, mais respeito rapaz. Sou uma senhora de respeito, mulher de um homem só, viúva do meu querido Gumercindo.
- Cala a boca Izidoro, você vai acabar estragando tudo. – Cochicha Raulzito.
- O que foi? O que estão cochichando aí? – Esbraveja mais uma vez à velha senhora.
- Senhora, estou apenas passando mais algumas orientações sobre nosso trabalho ao meu colega.
- Pois bem Senhora. Hã, qual o seu nome por gentileza?
- Meio desconfiada ela reluta, mas acaba respondendo: É dona Alzira Terezinha Epifânio de Araújo Mota e Silva, ou simplesmente dona Tere.
Ainda mais desconfiada e relutante ela finalmente os deixa entrar.
- E vocês como se chamam?
- Izi...ia respondendo Izidoro ao ser cutucado por Raulzito. – He he, meu colega está meio nervoso, ele é novo nesse trabalho sabe como é? Mas, eu sou o Clemente e meu colega se chama Cleovaldo. Muito prazer dona Tere.
– Há prazer, faz tanto tempo! – Pensa ela em voz alta.
– Como dona Tere?
– Nada não rapaz.
– Sabe, olhando vocês mais de perto, embora eu saia pouco, tenho a impressão de que os conheço, será que já não os vi por aí?
– Não, não. É a primeira vez que visitamos esse bairro e essa região, somos do norte do estado.
– Há sim! - Responde d. Tere num ar ainda desconfiado e não muito confiante na resposta que lhe fora dada.
– Bom, a conversa está boa, mas precisamos executar nossa tarefa. Vamos começar a vistoria aqui pelo seu pátio e depois a Senhora poderia nos mostrar o interior de sua residência para que pudéssemos continuar e finalizar nosso trabalho?
- Sim, sim. Se não tem jeito. E quanto mais rápido vocês começarem, mais rápido irão embora também. – Sentencia d. Tere.
A dupla de "agentes" finalmente adentra a residência de João. Dona Tere, não desgruda os olhos um segundo sequer, fica no encalço dos dois homens metro por metro, balbuciando qualquer coisa a cada segundo. Ela acha meio estranho que os dois homens façam a tal verificação até mesmo dentro dos móveis da casa como por exemplo nos roupeiros e dispensas de grande porte. Em sua concepção parece que eles estão à procura de algo que não é exatamente algum foco do tal mosquito da dengue.
- A senhora tem algum térreo, alçapão, porão ou algo do gênero? - Pergunta Raulzito, ou Clemente nessa jornada.
- Não. Responde secamente Dona Tere.
- Ok! Dona Tere não há nenhum indicio de contaminação em sua residência. Obrigado por sua paciência e sua atenção conosco.
Ela apenas assentiu com a cabeça fechando a porta bruscamente e não dando mais tempo pra qualquer que fosse a conversa.
É, no rala e rola da artimanha dos agentes acabou-se como antes, nada se sabia, nada se sabe. O Sumiço continua um mistério.
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JOÃO SEXTA-FEIRA E OUTRAS HISTÓRIAS: CONTOS E CASOS DO BAIRRO CASTANHAL
Short StoryÉ a história de um cara que leva a vida por conto e prosa. É a história de um bairro com inúmeros personagens, pessoas como eu e você, que fazem a vida se revelar tal como ela é, do seu jeito e do seu gosto. É a história de um mistério, que pode ou...