Capítulo 3 - Eva

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Daniel...

O nome soava familiar, embora, mesmo depois de um bom tempo pensando, eu não me lembrasse de ninguém. O sotaque espanhol estava lá, perdido no meio das sílabas, embora ele falasse português muito bem.

Talvez seja funcionário do Gallardo... O arquiteto? Não! Jovem demais para ter a confiança daquele velho mesquinho.

Abri a bolsa para ver que horas eram, e me deparei com a tela estilhaçada mais uma vez. Maldito espanhol carrancudo! Além de estragar minha manhã, ainda tinha me dado um puta prejuízo com os óculos e a tela nova que meu celular precisaria.

Balancei a cabeça negativamente, mas um riso bobo acabou escapando sem querer.

O Sr. Grey da Paulista deve ter me achado, no mínimo, maluca!

Eu não podia culpá-lo, mas também, nunca mais nos veríamos mesmo! Dei de ombros no banco traseiro do carro, ganhando uma olhadela pelo retrovisor.

Pronto! Serei taxada de maluca por mais um!

No caminho para casa, deixei a receita para óculos novos em uma ótica. Odiava usar lentes de contato e não podia ficar sem enxergar por mais tempo.

O sobrado em que eu morava, na Vila Mariana, era também o escritório da minha empresa de restauro, que se chamava Branca Flor, em homenagem a minha avó, apaixonada por copos-de-leite.

Paguei o taxi e destranquei o portão, passando pelo pequeno jardim, até a porta do vidro que dava acesso a sala, agora convertida em escritório. Não era, exatamente, um estabelecimento comercial. Era mais um lugar reservado em que eu atendia meus clientes, quando necessário.

Tirei os sapatos enquanto subia as escadas, direto para o quarto. Não via a hora de me livrar também daquele vestido apertado.

Soltei os cabelos e alisei com os dedos, deixando o vestido de volta em seu cabide, por tempo indeterminado, e vesti um short jeans e uma camiseta dos Stones que eu amava.

Meu estomago roncou, lembrando-me que não comia nada, desde o jantar do dia anterior, então preparei um pacote de macarrão instantâneo e abri uma garrafinha de iogurte que estava na geladeira. Bebi sem conferir o rótulo, porque, se o fizesse, provavelmente desistira de beber.

Eu me virava bem sozinha com a maioria das coisas, até porque, meu padrão de organização doméstica não era muito ortodoxo. Eu me entendia com a bagunça, mas no quesito comida, tinha sérios problemas. Era aquele tipo de garota que não sabia fazer nada sem transformar a cozinha em um campo de batalha

Minhas compras de supermercado se baseavam em pacotes de coisas prontas, ou que só exigiam água quente e alguns minutos para serem comidas.

O que restou do dia, aproveitei para colocar o trabalho em ordem e programar alguns pagamentos, já que ficaria no Sul por alguns dias.

Eram pouco mais de cinco da tarde, quando me deitei na rede do jardim, livro aberto sobre o colo e uma boa caneca de café instantâneo.

Queria fazer uma hora até anoitecer, já que havia combinado com Brás de sair para beber um pouco, então achei que seria uma boa oportunidade para terminar meu livro. Eu já estava irritada com a mocinha, mas me recusava a desistir, na esperança de que ela acordasse e desse um belo pé na bunda do imbecil charmoso que havia fodido a vida dela — e ela — o livro todo.

Por que uma garota forte e decidida fica tão estupida quando se apaixona? — revirei os olhos. Eu odiava esse tipo de história, mas odiava ainda mais abandonar um livro, lido pela metade.

Dois capítulos depois, fechei as pálpebras por um segundo e quando me dei conta, estava em um quarto de hotel luxuoso.

Levantei da cama usando uma camiseta de malha e passei pelas portas duplas, até um escritório.

Meu Acaso PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora