Capítulo 2 - Daniel

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O carro ganhou a rua, perdendo-se no movimento da Avenida e eu fiquei ali, rindo como um bobo. Não era sempre que eu era atropelado por uma garota.

Eva... bonita e meio maluca... Combinação interessante e perigosa!

O rosto não me era estranho, eu sentia como se a conhecesse de algum lugar, mas, mesmo puxando pela memória, não lembrava de onde.

Eva... Começo a entender por que Adão foi expulso do paraíso!

Parei em frente ao balcão de informações.

— Com licença, senhorita... Quem era a moça de azul que acabou de sair?

— Ah perdão, senhor. Eu realmente não faço ideia. Acabei de chegar ao posto, estou apenas cumprindo o horário do café da funcionária. Soube que tivemos problemas no sistema, então não será possível rastrear.

Aquiesci, passando por ela e usando meu cartão de acesso para chegar ao elevador.

Eva, maluca de pedra, mas tem um perfume que me faz querer chegar mais perto, só para sentir novamente.

Talvez meu pai conhecesse, ou ao menos a secretária conseguisse me ajudar a descobrir. Eu, certamente, queria encontrar Eva novamente.

Enquanto subia, encarei o relógio em meu pulso. Atrasado, em meu primeiro dia de trabalho. É claro que meu pai não iria perdoar, mas ele não podia me culpar por ter ido a minha própria festa de boas-vindas.

Assim que as portas se abriram, meu celular vibrou no bolso. Peguei nas mãos, apenas para confirmar o que já sabia — Carla.

Havia mensagens de texto e voz e cinco chamadas perdidas. Respirei fundo, desligando o aparelho e enfiando de volta no bolso. Eu tinha o direito de, pelo menos, seguir lutando com um moinho de cada vez.

A secretária não estava em sua mesa, então passei direto até o fim do corredor, seguindo os gritos que eu conhecia bem.

— Como não sabe onde o Daniel está, Maria... — gritava com a única pessoa que suportava ficar ao lado dele. — Eu avisei ao Severo que deveria ir buscá-lo no aeroporto! Você quer me enlouquecer, Maria Santa? Quer que eu a mande de volta para Sevilha?

Parei um pouco antes da porta, soltando um riso contido, e balançando a cabeça negativamente. Estebán Gallardo não havia mudado nada, nos anos em que passamos afastados. Seguia sendo o mesmo cabeça dura genioso de sempre.

É claro que ele não mandaria Maria de volta para Sevilha, porque, por mais que fingisse, não conseguia viver sem ela. Eu dissera a ela mais de uma vez que deveria colocá-lo em seu lugar, mas Maria também não vivia sem ele. Eles tinham um jeito próprio de — não — viver um relacionamento.

Meu pai e minha babá estavam juntos por mais tempo que muitos casais, embora nunca tenham, de fato, se envolvido. Maria havia se mudado para nossa casa, seis meses depois da morte da minha mãe, para cuidar de mim, e ficara por lá, mesmo depois que deixei de precisar de cuidados. Era realmente como uma mãe para mim e cuidava do velho Sr. Gallardo com mais carinho do que ele merecia.

Se Maria decidisse mesmo deixá-lo, meu pai morreria de tristeza.

Encostei no batente, mãos no bolso da calça, esperando que ele percebesse minha presença e deixasse a pobre mulher em paz.

Meu Acaso PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora