Capítulo 5 - Eva

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Ocupei meu assento no avião e puxei a cortina da janela.

Tinha dormido mal e o pouco que dormira, havia sonhado novamente com Daniel, só que desta vez, Maurício havia nos pegado em flagrante, o que era ainda mais ridículo já que eu não devia absolutamente nada para o traidor de merda do meu ex-noivo.

Eu não tinha raiva do Maurício, mas também não podia dizer que esquecera tudo que ele me fizera passar. Traição é uma coisa bem filha da puta, ela marca a gente de um jeito ruim, como aqueles arranhões profundos que, depois que cicatrizam, deixam a pigmentação da pele diferente no local. Não dói, não coça, não sangra e você não sente mais, até olhar no espelho e perceber a marca, aí um pouco daquela sensação ruim volta com força.

Respirei fundo, cabeça jogada para trás, afastando os pensamentos desagradáveis para longe. Era por isso que eu evitava voltar para casa. Tudo lá parecia parado no tempo e era um tempo em que eu não cabia mais.

Assim que ganhamos altitude, fechei os olhos. Estava cansada e sabia que o dia seria cheio. Mamãe ia preparar a mesa, todos nos sentaríamos para o jantar e, obviamente, alguém sairia com a piadinha idiota de perguntar quando vou me casar ou pior, dizer que nem para titia eu poderia ficar, já que era filha única.

Em um dia normal, eu daria risada e enfiaria meu nariz em uma bela taça de vinho, mas depois de um aniversário de merda, meu humor não estava dos melhores.

Cochilei um pouco, mas acordei com tempo de tomar uma aspirina e um antiácido, antes do aviso de descida.

Era pouco mais de cinco da tarde, quando caminhei, empurrando minha mala de mão, em direção ao saguão. Teria ainda um bom trajeto de carro até a casa dos meus pais.

Jefferson, meu colega de classe e taxista, já esperava por mim, encostado ao lado do sedan vermelho. Braços cruzados na frente do corpo, sorrindo gentil.

— Desculpe a demora. Tivemos um problema na decolagem e o voo acabou atrasando. — expliquei.

— Relaxa, Eva! O movimento está fraco ultimamente... — tentou pegar minha mala, mas eu o impedi.

— Deixa... — ergui e acomodei eu mesma. — O idiota que me levou até o aeroporto quebrou o fecho, olha... — mostrei o estrago, provisoriamente consertado com um clipe de papel. — Agora vou precisar de uma mala nova.

Jefferson riu, fechando o porta-malas.

— Então, quais são as novidades da grande arquiteta? — brincou, assim que ganhamos a rua.

— Aaaaah o de sempre... Muito trabalho, pouco reconhecimento e dinheiro para o necessário! — dei de ombros.

— Sei! — reprimiu o riso sem me encarar. — Eu acompanho seu sucesso de longe, Eva. Tenho muito orgulho da mulher que você se tornou. Você voou longe, garota, como dizia que faria, desde criança.

Sorri com os olhos na estrada. Tinha mesmo voado alto, ido para longe e alcançado boa parte dos meus sonhos, mas a vida as vezes era um pouco solitária.

Desde que voltara para o Brasil, sentia como se estivesse de passagem. Não conseguia aquietar minha vida, mesmo agora que estava mais perto dos quarenta, que dos trinta.

Desviei os olhos por um segundo, e então vi a fotografia junto ao espelho retrovisor. Nela, estavam Jefferson, a esposa e um bebê.

— Não acredito! — apontei.

— Pois é, colega... O tempo passa! Nicole já vai fazer dois anos.

Meus olhos se fixaram na garotinha dos cabelos claros, com covinhas no sorriso, como o pai. Soltei o ar dos pulmões de uma vez, sem me dar conta.

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⏰ Última atualização: Mar 02, 2021 ⏰

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