A música estava alta, os risos eram contagiantes e as luzes penduradas por toda parte faziam meus olhos brilharem enquanto eu observava a tudo com um grande sorriso.
Comecei a caminhar por entre as pessoas. Duas mulheres passaram por mim dançando e me fizeram girar antes de continuar a dançar por entre todos. Dois rapazes passaram por mim e abaixaram a cabeça em cumprimento com um sorriso simpático. Todos me tratavam como eu sempre quis: como uma garota normal!
Ninguém ali ficava nervoso ou com tremedeiras na minha presença. Ninguém se curvava ou temia uma reação negativa minha. Eles me tratavam como uma deles.
ㅡ Mocinha mocinha! ㅡ Uma senhora chamou minha atenção me fazendo parar se andar. A mesma tinha os cabelos trançados e estava dentro de uma das barracas. O que estava dentro da panela dela estava tão cheiroso! Mesmo eu não sabendo o que era, meu corpo pediu por aquilo. ㅡ Não quer experimentar o meu caldo de queijo gorgonzola? ㅡ A senhora falou já pegando uma espécie de pote redondo fundo branco de porcelana e começou a colocar o caldo dentro.
ㅡ Ah... ㅡ Dei um passo a frente erguendo o dedo indicador. ㅡ Eu não tenho dinheiro. ㅡ Ela ignorou o que eu disse e me deu o caldo que estava quentinho e cheiroso. Aquilo parecia tão mais saboroso do que as comidas que eu costumava comer no Castelo.
ㅡ A primeira prova é grátis, senhorita. ㅡ Seu sorriso tão sincero aqueceu meu peito. ㅡ Feliz dia da Lua! ㅡ Ela falou com animação e logo começou a atender outras pessoas.
ㅡ Feliz dia da Lua. ㅡFalei num tom mais baixo, mas não tinha certeza de que ela havia escutado.
Me virei para as pessoas e respirei aquele cheiro tão saboroso. Caldo de queijo gorgonzola... eu nunca havia comido nada parecido. Sem pensar muito eu dei uma colherada no caldo e e logo senti aquele gosto tão temperado.
ㅡ Uau. ㅡ Falei baixo para mim mesma e ri abaixando o meu lenço para que ninguém visse o meu rosto. Eu não precisava que eles começassem a me tratar como princesa. Sem contar que minha mãe descobriria rapidamente que eu estava andando por Cristalha ao invés de estar em Bromsfield naquele baile tediante.
ㅡ Você já comeu muita maçã caramelada, querido. ㅡ Entrei em pânico quando ouvi a voz da Dona. A mesma estava prestes a passar por mim, a mesma só não havia me visto ainda porque segurava um garotinho no colo.
Comecei a olhar de um lado para o outro sem saber o que fazer. Ela não podia me ver. Acabei deixando o caldo, com muita dor no coração, em cima de uma bancada que estava entre duas barracas e entrei por trás de uma delas tentando evitar que Dona me visse.
Me esgueirei por de trás da barraca sem tirar os olhos de Dona que agora abraçava um homem enquanto o garotinho dançava. Era a família dela.
Dei um sorriso os observando, porém Dona acabou olhando na minha direção, o que me fez recuar para trás bruscamente e bater em alguém.
ㅡ Perdão! ㅡ Me virei imediatamente. Ali estava um rapaz. Seus cabelos eram negros, seu rosto bem desenhado e eu devo admitir que quase tropecei para trás de novo quando ele ergueu o olhar para mim. Aquele cara era lindo, que isso.
ㅡ Tudo bem, senhorita. ㅡ Ele deu um sorriso curto enquanto olhava para mim. ㅡ Está perdida?
ㅡ O que? ㅡ O mesmo riu.
ㅡ A senhorita está andando atrás das barracas. ㅡ Ele falou e só aí eu me lembrei que eu estava me escondendo. ㅡ E... eu nunca a vi por aqui.
ㅡ Ar... ㅡ Dei um sorriso torto agradecendo por estar com o lenço no rosto. ㅡ Talvez eu esteja meio perdida mesmo. É a primeira vez que venho ao... Dia da Lua.
ㅡ Ah... ㅡ Ele assentiu. ㅡ Bem, me chamo Kevin, Kevin Sallow. ㅡ O rapaz estendeu-me sua mão e eu a apertei.
ㅡ Lineta. ㅡ Falei sem pensar e fiz uma careta assim que ele me olhou com confusão. Burra!
ㅡ Lineta? ㅡ O mesmo pareceu surpreso.
ㅡ É. ㅡ Afirmei com incerteza.
ㅡ Nossa princesa também se chama Lineta. Uma grande coincidência. ㅡ Ele falou me fazendo olha-lo. ㅡ É um belo nome, Lineta. ㅡ Ele sorriu e eu tentei me convencer de que ele não havia me associado a princesa.
ㅡ Obrigada. ㅡ Cocei minha cabeça e me virei para olhar rapidamente a frente da barraca. Dona ainda estava ali. Fiz uma careta e voltei a me esconder.
ㅡ Está tudo bem? ㅡ Kevin pareceu com vontade de rir.
ㅡ Está! ㅡ Falei de forma rápida. ㅡ É... você mora em Cristalha a muito tempo? Deve saber como funciona o Dia da Lua e os costumes desse dia tão festivo e importante. ㅡ Encarei Kevin na esperança de que ele me tirasse dali para conhecer a festividade, assim saindo da vista de Dona.
ㅡ É, eu nasci em Cristalha. Nunca perdi nenhuma festividade. ㅡ Sortudo, pensei. Eu também nasci em Cristalha, mas não participei nem da metade dessas festividades.
ㅡ E o que me aconselha a fazer agora?
ㅡ Bem, a banda vai tocar e... ㅡ O interrompi no mesmo instante.
ㅡ Banda? ㅡ Tive certeza que meus olhos brilharam enquanto eu dava um passo à frente. ㅡ Tipo, música mesmo?
ㅡ Acho que sim. ㅡ Kevin riu e deu as costas para mim. O mesmo começou a andar em direção as pessoas novamente e eu o segui.
ㅡ Mesmo? Tipo, pessoas tocando em cantando? ㅡ Eu sei que parecia uma retardada que nunca viu uma banda tocar ao vivo bem na minha frente, mas detesto admitir que realmente era isso. Eu nunca havia visto uma banda tocar na minha frente. As únicas músicas tocadas no castelo eram clássicas e sem letra. Então a possibilidade de ver uma banda de verdade tocar me deixou bem animada.
ㅡ É, Lineta. ㅡ Kevin riu olhando para mim. ㅡ Da onde você é? ㅡ Ele parou de andar e eu me peguei sem saber o que responder.
ㅡ Er... ㅡ Cocei minha cabeça, eu não gostava de mentir. Contudo, graças aos céus, um rapaz de cabelos ruivos que batiam no ombro chamou por Kevin.
ㅡ Eu preciso ir agora, mas fique para ver a banda. ㅡ Assenti e o mesmo olhou para mim. ㅡ Foi um prazer, Lineta.
Dei-lhe um sorriso tímido e o observei enquanto o mesmo corria na direção de seu amigo. Logo ambos sumiram no meio das pessoas e eu dei um sorriso olhando para o chão.
Fazia tanto tempo que eu não conhecia pessoas novas e tinha uma conversa normal fora das paredes do castelo.
ㅡ Boa noite à todos. ㅡ Uma voz masculina soou alto pelas caixas de som. As pessoas começaram a caminhar na direção de um pequeno palco de madeira montado. Ao redor dele haviam cerejeiras e luzes penduradas por elas e em cima do palco simples. ㅡ Como prometido, hoje nós teremos música ao vivo. ㅡ O homem de cabelos grisalhos falou ao microfone em cima do palco. Todos pareceram animados. ㅡ Recebam a banda que ainda não tem nome! ㅡ Ele falou com ironia e isso fez com que todos rissem.
Me aproximei para me juntar as pessoas e logo cinco rapazes subiram no palco. Um deles era Kevin. Observei enquanto ele ia em direção à bateria e se sentava atrás dela. Os demais garotos pegaram seus instrumentos e depois da contagem de Kevin a música alta começou a soar.
Todos gritaram em animação e eu não fiz diferente. Gritei junto das pessoas com as mãos erguidas e comecei a balançar minha cabeça no ritmo da música.
Eu não sabia explicar o que estava sentindo. Meu peito ardia com uma sensação totalmente diferente e eu observei em volta. Eu estava no meu Reino. Estava no meio de pessoas que eu amava, mas que nem os conhecia. Estava numa celebração totalmente diferente das coisas que eu estava acostumada. Ali, no meio daquelas pessoas e em meio aquela música alta... eu pude ser eu mesma. Coisa que eu não podia no meu dia a dia.
Eu estava feliz. Essa era a sensação.
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Continua...
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A Princesa Não Real
RomanceLineta Campbell era uma adolescente que se considerava comum, apenas mais uma das muitas no Reino de Cristalha, porém ela tinha uma simples e pequena diferença das outras: Ela era uma princesa. Uma garota de apenas dezessete anos que é apaixonada po...