Rolê com o Perigo.

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5:40PM

Depois do último paciente eu encerrei meu trabalho por hoje, me despedi de Pan e dos meus irmãos, chamei um Uber e estou aguardando.
O chato de viver em uma cidade tropical é que o clima pode ser meio louco as vezes, em um momento o céu estava azul, a noite já caia e dava até pra vê as estrelas, mas de uma hora pra outra o tempo fechou, o azul do céu deu lugar ao cinza das nuvens, algumas delas chegando a ter até um tom mais escuro, traduzindo, lá vem um temporal.

A chuva cai com violência, e aos poucos a rua vai ficando vazia, as pessoas correm em todas as direções, para se proteger da chuva, ou simplesmente para chegar logo em casa, pois já é hora do rush, algumas reclamam da chuva, acham que de certa forma ela atrapalha suas vidas super importantes, e eu acho que essas mesmas pessoas não entendem que pra observar a beleza do arco-íris, você precisa aprender a gostar da chuva.

Em contrapartida uma menininha que aparenta não ter mais que 5 anos, se solta da mão da sua mãe, essa que estava distraída ao celular, ela corre disparada em direção a calçada molhada, pula nas poças d'água, gira com os braços abertos, gargalhando, feliz.
Em poucos segundos, a mãe que se protegia abaixo de uma marquise corre atrás da pequena com o celular no ouvido.
Liliane! Liliane!
Ela grita seu nome misturando entre xingamentos com a pessoa do outro lado da linha.
Eu acho tudo isso cômico.

Sempre que chovia, eu me lembro de correr pro quarto de meus pais e me jogar na cama, bem entre os dois, eu morria de medo do clarão dos relâmpagos, e do som dos trovões, lembro da minha mãe me abraçando apertado, e, do meu pai me dizendo que a chuva não ia durar pra sempre, eu sempre perguntava: "Mas e se for um dilúvio pai? E se a chuva nunca passar?"
Então minha mãe dizia: "Meu pretinho, se a tempestade não passar, aprenda a dançar na chuva."

De repente uma buzina me tira das minhas lembranças da infância, procuro de onde veio o som e observo um carro esporte preto, parado a alguns metros de distância de mim, mais uma buzinada pra chamar minha atenção e eu me aproximo alguns passos, enquanto me aproximo observo os vidros do carro baixar lentamente, então, para minha surpresa, aqueles olhos lindos iluminaram esse fim de tarde chuvoso, era Ella, Graziella Biggato, e pela segunda vez no dia ela está sorrindo.

Ella– Precisando de uma carona doutor?
Seu sorriso sarcástico me ganha na hora.
Ou prefere lavar a roupa sem tirar do corpo?

K– Ella?!!
Me encosto totalmente no carro.

Ella– Olha, se você não me fala, eu jurava que eu era a Beyoncé.
Ela me fita de cima a baixo.
As vezes me pergunto como você virou doutor.

K– Calma aí.
Dou um sorriso sem graça, e me debruço sobre a janela do carona.
Só não esperava te vê aqui, ainda mais esse horário.

Ella– É... Eu precisava respirar ar puro.

Ella olha pra frente e segura firme o volante com as duas mãos, respira fundo, como se sufocasse e desesperadamente tenta-se encontrar um pouco de ar, então relaxa seu corpo e vira novamente na minha direção.

Ella– Então lembrei que você atende até às 17:00, e resolvi arriscar te dá uma carona. Você me ajudou hoje doutor, te devo uma.

K– Relaxa, seu pai me paga pra isso.

Ella– Verdade, mas sei como posso ser uma paciente difícil.
Ella destrava as portas do carro.
Entra logo!
Ordena.

Olho ao redor com bastante cuidado e não vejo sinais de carros ou motos a escoltando, e já reparei que ela também está sozinha no carro, nem sinal dos patetas.

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