Capítulo 1

1.2K 125 110
                                    

Entre todos os erros que ela cometeu na vida, ter um caso com a policial humana que jamais deveria ter sido exposta a realidade das entidades, é facilmente o maior.

A primeira vez no apartamento de Márcia, ela poderia culpar a solidão, tristeza, a dor de reconhecer que vários do seu povo se foram. Tutu, Isac e Manaus foram mortos, Camila se distanciou do bar e Iberê retornou a floresta. Sim, foi um solitário desespero que levou Inês para a cama de Márcia.

A segunda vez no sofá da sala abaixo de seu bar foi vaidade, apenas uma reação há estar tanto tempo sozinha e uma mulher nova e em forma a achar atraente. Inês sabia que é dona de uma enorme beleza e sensualidade, mas seu exterior fechado e inalcançável, faz com que nenhuma pessoa tente penetrar sua fortaleza, algo com o qual ela agradecia na maioria das vezes. É vergonhoso o quanto ela sentia falta de comentários sobre sua aparência, seu corpo, seu cheiro e isso é a única desculpa plausível que Inês consegue pensar para explicar porque se encontra deitada com Márcia entre suas pernas.

Mas essa vez, a terceira vez, é uma puta loucura.

Elas estão novamente no apartamento de Márcia, na cama dela com o lençol que cheira ao perfume amadeirado da mesma. Márcia se move em cima dela com destreza, enquanto a penetra fundo e devagar, os mamilos se encostando fazem Inês se arrepiar e enfiar suas unhas nos ombros dela, levantando mais seu quadril para acompanhar as investidas. Márcia geme com o movimento e começa um ritmo acelerado atingindo o ponto certo dentro da bruxa. Márcia a beija, um beijo nada bonito, mas necessitado, enquanto vai descendo o corpo da mais velha, até parar em seu clitóris inchado e sensível. Sempre foi mais intenso para Inês, o toque inesperado de outra pessoa em seu corpo, a antecipação do que esta por vir. O toque da mais nova é firme no seu corpo, sem tempo para joguinhos, ela precisa de mais.

"Vai Inês" Márcia fala ofegante, ao mesmo tempo em que suas mãos trabalham no corpo da outra. "Goza para mim".

O orgasmo da bruxa vem logo em seguida, numa explosão parecendo que sua alma saiu segundos de seu ser e voltou. Logo ela agarra Márcia, passando a unha por suas costas enquanto seu sexo ainda pulsa nos dedos da policial que beija sua clavícula, bochecha, e Inês mexe sua cabeça a procura da boca da parceira. O beijo é lento e suave, fazendo uma ponta de desejo acender novamente e Inês se pergunta se elas tem tempo de outro round antes dela ter que retornar ao bar.

"Porra, Inês" Márcia ri rolando para o lado da cama, e Inês acompanha a risada, incapacitada de fazer outra coisa com a endorfina em seu corpo.

Quando a risada de ambas cessam, a bruxa inicia "Eu vim até aqui te dizer que precisamos parar de fazer isso".

"Eu sei" diz Márcia, colocando suas mãos atrás da cabeça. "A gente não deveria nem ter começado isso, digo... Eric é meu melhor amigo e tem muita história entre vocês, ele não quer mais olhar na cara de nenhuma entidade, quer fingir que nada aconteceu, nem me deixa tocar no assunto e eu não quero estragar nossa amizade".

"Certo e eu certamente não deveria me envolver, nem ao menos deixar viva uma humana que sabe tudo sobre as entidades que tentamos esconder da sociedade, vão pensar que sou imoral aos meus princípios" Incerta como continuar Inês termina "hoje tem que ser a ultima vez".

"Okay" A policial concorda se levantando em direção ao banheiro para tomar um banho. "Beleza".

E mesmo assim, Inês segue e fode Márcia enquanto a pressiona contra o box do chuveiro.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Inês retorna ao bar, distraída com um sorriso no rosto e a mente em uma certa mulher, nem percebe a presença de Camila no local.

"Viu uma borboleta colorida Inês?" Pergunta Camila com um leve sorriso brincalhão estampando sua face.

"Primeiro você some e agora aparece apenas para zombar de mim? Isso é perigoso sabia!" A Bruxa diz com um semblante sério, mas que é logo relaxado numa feição suave. "Senti sua falta colega de longa data".

"Você pode me chamar de amiga sabia? Acho que temos bagagem suficiente para isso" Camila fala enquanto se senta ao bar e faz menção para Inês fazer o mesmo. "Vim aqui te convidar para uma celebração de dois meses do livramento do corpo seco, uma cerimônia na praia de agradecimento e respeito aos nossos amigos que se foram, acredito que todo mundo precisa de um recomeço." Termina a sereia já se levantando em direção à saída, lançando um ultimo olhar para receber a resposta aguardada.

"Pode contar com a minha presença, eu irei" Diz Inês.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Inês adorava Camila até a morte, mas a escolhe da data e local não a agradou, o vento gélido na praia estava lhe dando calafrios, fazendo-a desejar possuir vestidos mais grossos. As mãos se agarram com força ao chá quente oferecido pela amiga, juntamente a uma coroa com adornos de conchas e flores que usariam na cerimonia e depois descartariam no oceano como forma de despedida e encerramento, porque tudo o que é divino, torna-se mar.

"Ei, vocês chegaram!" Vejo Camila recepcionando Eric e Luna, o que me surpreendeu a presença dele aqui, mas o que me surpreendeu mais foi quem estava atrás deles. Márcia. Outras entidades que estavam no local lançaram olhares de desprezo e desconfiança para a policial que não fazia parte do "povo" deles, os repreendi com um olhar, as vezes o medo é a melhor arma para impor respeito.

Nem passou pela minha mente que ela viria hoje. Olho para ela e vejo que esta com sua cotidiana roupa, uma calça jeans e uma blusa meia manga, da qual Inês se recorda bem já ter despido a mulher dela.

Márcia a nota por um segundo e acena com uma mão timidamente. Inês faz o mesmo, fazendo um sinal para a policial vir ao seu encontro.

"Soube que a Camila está levando essa história de recomeço bem a sério" Márcia fala enquanto coloca a mão nos bolsos de sua calça, num ato de nervosismo.

"Sim, ela realmente quer o bem de todos e o equilíbrio entre nós, mesmo sendo impossível, é um ótimo ato" Responde a mais velha.

Um estranho silêncio cai sobre elas e Inês se pergunta como as pessoas normais lidam com seus casos. Claro que pessoas normais não se envolvem com mulheres que nem deveriam saber de sua existência, pessoas normais também não são entidades poderosas, mas ao mesmo tempo com desejos e necessidades mundanas.

A cerimonia começa. Todos os presentes vestem suas coroas de adornos enquanto cada um faz uma oração para si e um por um vão jogando ao mar, para as ondas e Iemanjá levarem toda a preocupação, dor e luto maré adentro.

Ao fim da cerimônia Márcia e Inês ficam uma ao lado da outra observando o oceano.

"Eu ia te ligar". A policial começa enquanto o olhar esta focado na água a sua frente. "Mas eu não tinha certeza se você queria que eu te ligasse".

Inês considera por um momento fingir que não escutou a mulher, mas admitiu. "Eu não sei se quero ou não" ela revela. "É complicado".

A mais nova ri sem alegria. "Essa é uma palavra para isso". Márcia por um momento pondera, mas diz "Quer que eu te deixe sozinha?".

"É complicado". Ela repete.

Novamente um silêncio paira no ar, porém um confortável.

"Posso te poupar da viagem voando e te dar uma carona, podemos tomar um café para aquecer". Márcia fala num tom brincalhão despreocupado, como se fosse um simples convite sem nada nas entrelinhas.

Essa era a chance dela ser forte, negar, simplesmente desaparecer e retornar a sua vida de entidade, mas ao em vez disso, ela concorda com a cabeça, possuindo zero autocontrole.

Aceito Os PecadosOnde histórias criam vida. Descubra agora