Sakuya

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"... Assim como disseram quando estavam me consolando
Não é fácil esquecer um período de memórias
Mesmo com o passar do tempo
Este lugar ainda me prende

Sob o Sol laranja, nós
Dançamos juntos sem sombras
Não existem despedidas planejadas
Me encontre naquelas lindas lembranças

Nós nos deitamos juntos
Contamos coisas que não são tristes
Não existem finais depressivos
Eu vou para sempre te encontrar nessas lembranças
Eternamente jovens..."
IU -eight (feat. Suga)

Conforme o imponente sol ia se baixando, a poeira no ar fez com que ele primeiro parecesse laranja fosforescente, e logo depois vermelho, fazendo as nuvens refletirem estas cores brilhantes e majestosas. Algumas nuvens finas e altas ficaram rosadas, por consequência da luz vermelha que é temperada pelo azul do céu que aparece através delas. Natural e pueril... incrível.

A sua certeza é de que nunca tinha visto algo tão lindo em vida, até então. Parecia que, por se tratar de um sonho elas são mais vivas, o céu é mais lindo, mais esplendoroso em toda sua glória.

Encantou-se o lobo negro.

O verdume daquele local afável é como um colírio para seus olhos da cor da escuridão, as cores das flores são de uma paleta sem igual e o cheiro que emanam é divino e inesquecível. O canto dos pássaros são mais nítidos e graciosos, ecoando por todo aquele jardim pulcro. Julgar ele, que não conseguiria descrever algo tão mais belo que isto.

Nunca foi uma pessoa tão religiosa, mas julgava que aquele lugar pudesse ser o tão famoso paraíso...

Pudera ele, um homem tão manchado ter a dádiva de contemplar algo tão esplêndido? Sabe que não, mas, por mais que aquilo seja somente um sonho, ele não queria ter que acordar e se deparar com a dura realidade. Aquele sonho não é comum para Itachi, por isso esse seu exagero todo em elogios a este lugar, porque as lembranças do passado lhe visitavam sempre quando conseguia dormir. O que também não era comum. Como poderia usufruir de uma boa noite de sono quando a morte de seus progenitores e do clã batiam na porta e o lembravam do assassino que é? Pode o chamar de dramático, ele não se importa, até porque é fácil julgar a dor dos outros quando não é tua. Ah, não... não precisa de tua empatia, longe disso, porque ele sabe que não merece. Palavras do próprio Uchiha.
Ele ainda sentia o cheiro forte de ferro, o líquido carmesim esparramado no chão saindo de forma violenta de seus corpos; dos corpos de crianças inocentes que não tinham culpa.

As lembranças sempre vinham lhe atormentar, como se quisessem que ele não se esquecesse, mas disso ele sabe que jamais esqueceria até o findar de sua vida. É um loop infinito e torturante, mas este é o preço que se paga pelo que fez no passado. Obviamente não se arrepende desta escolha, claro, e o que lhe mantém ainda em pé é a vontade do fogo interno que o lembrava de que fez em nome do que ele acreditava e de seus ideais. Esta é a sua verdade, e o que importa são as verdadeiras intenções por trás de tudo -, e mesmo que sua estadia na Akatsuki tenha sido para vigia-los de dentro, sentia um peso nos ombros pelos erros que cometeu junto aquelas pessoas daquela organização perniciosa.

Sufocava-o de modo a doer até às entranhas, todavia sentia o fogo interno lhe acompanhar para o mesmo não cair.

Neste jardim, recostado no tronco de uma árvore de cerejeira, ele não sente o cheiro de sangue, ele sente um cheiro de verde cítrico, de flores espalhadas ao chão; ali ele não escuta os choros compulsivos de crianças, nem sente um peso nos ombros. Ali ele pode ouvir o barulho da cachoeira despencando graciosamente no lago cristalino e uma leveza sem igual em seu cerne e alma. E se é digno ou não de poder aproveitar tamanha beleza e paz momentânea ele não se importa, afinal este não seria o primeiro ato egoísta que ele cometeria.

Saigo no YumeOnde histórias criam vida. Descubra agora