FLORESCER

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O lírio-aranha cobria o leve verde do chão, meus pés descalços tocavam o macio da grama que formava um longo caminho ao qual me levava até uma grande árvore momiji de coloração avermelhada, que parecia me chamar, puxar para perto, me preencher com um calor estranho... Suas folhas caíam e eram levadas com a brisa por todo aquele espaço. Me questionava, onde estava? Não lembrava de como havia parado ali, nem como tinha posto aquele vestido branco de tecido fino que trajava, muito menos explicar a falta da memória, entretanto podia me aproximar, olhar admirada, era realmente miraculosa a vista, porém, minha curiosidade pedia por mais, então com a vontade de desbravar aquele lugar novo, começava a subir o caule pouco pendido da bela carmesim, me segurar entre os ramos e por fim chegar onde desejava, me sentando ali, relaxando, quem diria que nunca iria de ter feito tão pouco esforço para subir em uma árvore, o engraçado e que se tornava especial, uma memória, ainda mais por dali poder ver o vasto campo vermelho dos lírios, era confortável, me sentia bem, me sentia... Espere um pouco, o que era aquilo? Olhava para o lado e via um fio vermelho enrolado em um galho, talvez esquecido? Não sabia a razão, mas sentia algo bom vindo dali, então podia me esticar com cuidado e pegar o fio em mãos, enquanto o puxava, voltava para meu lugar, logo o observando melhor, era realmente pouco grande, mas o que poderia fazer com aquilo? Talvez prender os longos cabelos ébanos que estavam soltos? Pegar ramos e flores para que pudesse o amarrar ali? Ou talvez... Isso! Sim, de tudo que pensara, formava um amigo, as aulas de artes me serviram de algo, afinal para criar um alguém, um pequeno boneco de nós, ele era bonito, do tamanho da palma de minha mão, me parecia tão frágil, pensando bem, talvez não fosse seguro para ele ficar em cima da árvore, será que se sentiria mal se o tirasse dali? Afinal, eu havia invadido seu espaço e o moldado da forma que achava ser agradável e conveniente a mim, mas, ah... Espera, por quê? Que sensação era aquela? Estava com receio? Nossa, tudo parece tão confuso por aqui, mas para onde ele foi? Olhava minhas mãos, ele havia sumido! O deixei cair? O vento levou? Não podia ter deixado! Agora me vinha um grande vazio, uma dor no peito, onde ele estava?!

Frustrada, abaixava a cabeça, apertando o cabelo com as mãos. Não podia tê-lo perdido, mas e se apenas foi embora? Minha insegurança o assustou? Eu nunca mais o verei? Parecia me perder com meus próprios medos, talvez ele nem sequer fosse real, então apenas me pusera a chorar, me pendendo para o lado, me confortando em prantos sobre um abraço alheio e... Abraço? Abria os olhos e levantava o rosto, aquele... AQUELE ERA MEU PEQUENO PEDAÇO DE FIO? Ele estava grande, uma forma humanoide de puro ar e poucos fios, me assustava, era como uma múmia, me fazendo o empurrar, não por maldade, mas ao primeiro olhar ninguém poderia esperar, simplesmente aceitar ou crer, um pequeno boneco de nós se tornando algo tão diferente, mas, ele parecia preocupado? E se talvez eu o tivesse assustado? Não sabia, mas respirava fundo, tentava me aproximar, o vermelho era chamativo, podia sentir algo estranho, ele estendia a mão e eu repetia o mesmo ato, sentia um calor novo, algo estranho, mas que parecia tão certo, isso até encostarmos as mãos e eu acordar...

Levantava pouco atordoada em meu dormitório, olhava minhas mãos, respirava fundo, havia sido mais um sonho, então tudo parecia até ali como um dia normal, olhava em direção à janela, podia ver o sol nascendo, me levantar e aproximar-me, podendo apreciar a grama verde do campo fora de meu quarto, mas a minha parte favorita era um pessegueiro sem frutos onde constantemente buscava inspiração, me despreguiçava, virava-me e ao olhar para o lado podia notar minha colega de quarto, ela se chamava Osana Nakamoru, chegava a ser fofa, isso apenas dormindo, quando não, ela estava brigando ou buscando romances de ensino médio, diferente de mim, sempre me imaginei formada e creio que posso pensar em romances mais tarde, quando estiver na faculdade talvez, independente disso, estava começando o dia, e eu precisava acordar a acordar, como sempre. Chamar ela uma vez ou duas não era suficiente, possuía um sono pesado que chegava a me assustar, imagina como diabos iria acordá-la em um incêndio...

O começo de uma aventuraOnde histórias criam vida. Descubra agora