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O Sol tava se pondo em Piripiri quando Serafim Cruz e Segisvaldo desceram da moto. Depois de um bocado de hora pilotando pela estrada, Cruz sentia suas costas doloridas como se tivesse levado uma surra, mesmo que tivesse conseguido escapar da cidade sem muito mais do que alguns cortes e um hematoma no braço direito.

Segisvaldo se esticou e colocou a mão no lombo. Fez uma careta.

"Diacho, se a gente andasse mais eu ia ficar com a bunda feito uma tábua."

Sem responder, Cruz esticou os braços na frente do corpo e depois para os lados, se alongando. Segica se abaixou pra desprender a carabina do coldre improvisado que eles arrumaram na moto.

"Agora que a gente chegou, será que tu pode contar qual é teu plano?"

"Primeiro a gente vai assaltar os praieros."

"Parece bom. Os que vão pra Sete Cidades?"

"Esses mesmo."

"E depois?"

"Depois, a gente vai se vestir de mauricinho".

Segica olhou pra ele com os olhos largos.

"É o quê?"

"Daí," ele continuou, "a gente procura onde venda arma aqui. Se der pra parecer que somo da capital, a gente consegue arma de verdade."

"Tu acha que eles não pede identidade?"

"Eu tenho é certeza. Se a gente mostrar o dinheiro antes, identidade pra quê?"

"E o dinheiro, vamo tirar de onde?"

Cruz sorriu.

"Dos mauricinho, ué."

***

Fora da cidade, rumo ao parque Sete Cidades, roubaram as roupas de um guia turístico. Vestido nelas, o Segica, que era melhor de papo, levou o primeiro grupo de turistas (dois homens e três mulheres, todos jovens, um deles vestido com uma camisa social com a manga enrolada pra trás) até onde Cruz se escondia com a carabina de pressão na mão. Pegaram a roupa dos dois homens e amarraram o grupo sentado com corda de caroá que o guia carregava na mochila como demonstração de artesanato local. O dinheiro tava no carro, na entrada do parque. Tinha pouco ali pra o que os praieros provavelmente tinham trazido pra viagem, mas eles seriam burros de andar com tudo no carro. Ao todo, Segica e Cruz conseguiram 750 em cédulas de Real Novo. Nessa parte do mundo onde internet era lenda, cédulas valiam muito.

De lá, foram até a venda de armas mais próxima. Vestido na camisa social de corte rente ao corpo (que não comportava a pança do Segica), Cruz usou seu ínfimo carisma, ajudado por um maço gordo de dinheiro, para comprar duas pistolas e uma caixa de munição, que ele guardou na cartucheira. Perguntou a Segica antes se ele iria querer arma de verdade, e ele respondeu perguntando se ele já tinha visto ele errar um tiro na fuça. "Se quiser a gente testa agora.", Segica disse.

E foi assim, Serafim vestido numa camisa social de manga enrolada até o cotovelo com cartucheira carregada e pistolas na cintura, e Segisvaldo carregando sua carabina fiel, vestido num colete bege com bolsos carregando pelotas extras compradas na loja de armas, que os dois chegaram na delegacia. Batendo o olho neles, um guarda mirrado e jovemzinho na frente se assustou logo e se aprumou do encosto na parede onde descansava.

"Ow, ceis tão querendo o quê pro rumo daqui com essas arma? Pode parar bem aí já!"

Cruz parou e pôs a mão no peito de Segica antes que ele andasse um pouco mais.

"Boa tarde, cumpadre. Nós não tamo querendo causar confusão demais não. Chama o delegado pra a gente conversar."

"O senhor vai me desculpando mas isso eu não posso fazer." E apontou o rifle dele pra eles.

Akwapan: A ConjuraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora