Capítulo Doze

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Ethan

 
Hoje é dia de ver Kirsty. Só pensar em nosso encontro faz nascer uma ânsia terrível em meu estômago, que sobe até a garganta.
Eu me pergunto se ela descobriu que estou envolvido ou se quer apenas me foder e torturar. Provavelmente, com tudo isso que aconteceu com Willian, ela descontará a própria ira sobre mim. Só não sei se suportarei tudo isso, ainda mais depois de saber o que ela é capaz de fazer.
Tenho certeza de que ela está por trás da morte do rapaz, e algo dentro de mim grita, implorando-me que eu não vá a seu encontro.
O que me deixa mais desconfiado é que ela pediu que eu fosse até sua casa, e não ao Círculo. Isso realmente está me deixando nervoso.
Estou trancado no escritório, fechando novos pedidos com os fornecedores, todo fim de mês é assim. Decidi vir ao bar antes de encontrar aquela mulher. Achei melhor me distrair e tentar não me focar no que poderá acontecer nesse encontro. E, como ela marcou um pouco mais tarde do que de costume — o que também é estranho —, resolvi vir trabalhar um pouco, pois sei que ando ausente nos últimos dias.
— Ethan? — Eva entra no escritório e fica surpresa ao me ver. — Achei que não viria hoje. Desistiu de fazer aquilo? — sussurra aproximando-se da mesa.
— Infelizmente, não. Mas meu compromisso é um pouco mais tarde, então decidi vir antes de abrir o bar, para finalizar alguns pedidos com nossos fornecedores — explico, fazendo seu sorriso sumir.
— Então você vai mesmo... — diz e solta uma bufada de ar, sentando-se no sofá.
— Devo ir — limito-me a dizer.
— O que houve? Você está diferente... Quer dizer, você melhorou nessa última semana — não deixo de notar a ironia em suas palavras.
— Já passamos dessa fase, Evangeline. — Olho-a, e ela se encolhe no sofá.
— É que você estava mais receptivo nos últimos dias e agora está parecendo o velho Ethan — comenta, e sinto uma pontada de decepção exalar dela.
— Eu simplesmente sou assim.
— Ok! Vou te deixar trabalhar. — Fica em pé.
— Eva! — chamo-a antes que abra a porta. — Eu só... Eu só estou me preparando para o que está por vir esta noite. Não é nada com você — asseguro, e ela sorri fracamente.
— Bem, eu não sei dizer se isso me deixa mais tranquila ou não. Porque os dois motivos destroem meu coração — diz e sai da sala, sem olhar para trás.
Fico remoendo suas últimas palavras. O que está acontecendo entre nós?
Balanço a cabeça e volto a prestar atenção em meus e-mails. Daqui a uma hora, irei àquele encontro.
***
Saio do bar em meio a grande movimento, ninguém se colocará em meu caminho, nem mesmo Evangeline.
Ao dar partida no carro, pergunto-me novamente se devo ou não ir. Meu coração dói quando percebo a figura de Eva, parada na entrada do bar, olhando-me.
Mesmo com a noite escura e a pouca iluminação, consigo notar a forma como me olha. Acho que ela está se segurando para não vir correndo atrás de mim, para me impedir de ir.
E eu não a culpo.
Acelero o carro e, por um instante, questiono-me se não seria melhor enfiá-lo embaixo de algum caminhão e morrer de uma vez, para acabar com tudo isso.
Mas sei que a minha morte não é a solução e não fujo de uma boa briga. Não mais.
Aquele Ethan frágil, que Savi vivia defendendo, morreu há muitos anos. Desde que conheci Kirsty e fui apresentado a um mundo cruel.
Se há algo de bom que ela me fez, foi isso. Matou a minha ingenuidade e fez nascer uma força a qual usarei para destruí-la de vez.
Enquanto dirijo, uma música dos Beatles começa a tocar no rádio, e isso me faz rir por um segundo, pois lembro do bichano de Eva, que, tenho certeza, não simpatiza comigo.
John Lennon. Nome peculiar para um animal de estimação, mas admito que é a cara de Evangeline. Ela é o completo oposto de mim. É alegre, alto astral, tem um estilo radical e é birrenta.
Ah... Nisso nós somos muito parecidos. Um mais cabeça-dura que o outro.
Sorrio com os pensamentos, mas logo a agonia toma lugar, assim que estaciono em frente à casa de Kirsty. Poucas luzes estão acesas, tornando o local macabro.
Ela mora em uma casa muito grande, praticamente uma mansão, e há muitas árvores em volta. Desço do carro e respiro fundo antes de bater à porta.
Não demora muito, e ela a abre. Não sorri ao me ver. Kirsty está séria, e isso me causa um arrepio na espinha.
É isso aí, Ethan. Finja que não sabe de nada e faça um bom trabalho com a megera.
Repito isso como um mantra e entro, assim que ela me dá passagem.
— Ethan, sente-se — pede, a voz fria.
Faço o que me é ordenado, ela serve dois copos de uísque e me entrega um.
— Como está, querido? — pergunta, ao sentar-se ao meu lado e passar a mão em meu rosto.
— Estou bem, senhora — respondo, e ela sorri.
— Ah, não, Ethan. Não estamos jogando. Pode me chamar pelo nome normalmente — concede, mas não sei se isso é um bom sinal.
— Por que me chamou, então? Pensei que fosse para... — Ela coloca um dedo sobre a minha boca.
— Eu disse que não estamos jogando ainda, mas isso não significa que não usarei esse seu corpo delicioso ao meu bel prazer — informa, tomando um longo gole de sua bebida.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Um silêncio perturbador. Kirsty não para de me olhar enquanto bebe, e isso me deixa preocupado.
Será que ela descobriu? Será que está planejando como me matará?
Bebo meu uísque em um único gole, sentindo a garganta queimar. Ela sorri e pega meu copo, levantando-se em seguida e deixando os copos sobre o aparador de madeira rústica.
— Você parece nervoso... — comenta, e meu coração dispara.
— Só estou me perguntando por que estamos aqui em vez de no Círculo — respondo, e não é mentira.
— Porque hoje faremos algo diferente, anjo — diz com a voz doce.
— Diferente? — pergunto, sentindo os músculos enrijecerem de tensão e medo.
— Hoje estou me sentindo bem, Ethan. Eu me livrei de um grande problema. — Senta-se novamente ao meu lado.
— Ah, é? E posso saber que problema era esse? — Sei muito bem a resposta, mas me faço de desentendido.
— Infelizmente você não pode saber. Mas vai comemorar junto comigo. — Sorri e beija meus lábios.
— Como queira... — concordo, tentando disfarçar o nojo depois de seu beijo repentino.
— Vamos transar, mas não haverá jogos e torturas. Quero apenas foder com você e gozar nesse seu pau delicioso. — Passa a mão sobre a minha calça, tentando estimular meu membro.
— É sério isso? — pergunto, intrigado.
— Ah, sim! É muito sério. Quero o seu pau dentro de mim, aqui nesse sofá mesmo.
Kirsty pula para cima de mim, sentando com as pernas nas laterais do meu corpo. Ela me beija demoradamente e, enquanto sinto sua língua dentro de minha boca, tento pensar no que está acontecendo aqui.
Nós só transamos normalmente uma vez, quando eu ainda era jovem. Foi um dia depois de ela me espancar. Foi a primeira surra de verdade que levei dela. Acho que ela tentou me compensar para que eu não desistisse de toda aquela merda.
A questão é: eu não fui espancado e já não sou mais um jovem assustado. Então por que ela está fazendo tudo isso?
Kirsty tira meu blazer e desabotoa minha camisa, sem deixar de me olhar nos olhos. Sinto-me exposto, como se fosse seu brinquedo ainda. Embora não vá me torturar, ela é quem manda aqui. Então me sinto vulnerável da mesma forma.
Após me despir da cintura para cima, Kirsty beija o meu pescoço e desce pelo peitoral, fazendo-me gemer com seu gesto. Mesmo que a deteste, a reação de meu corpo é inevitável. Sou homem e faz um bom tempo que não me relaciono com ninguém, desde que Kirsty voltou a me procurar, para ser mais exato.
Tenho necessidades e não me orgulho de ter que me satisfazer com essa mulher.
Ergo o vestido dela, tirando a peça e encontrando seios fartos e siliconados. Ela usa uma lingerie preta, que contrasta com a pele clara mas levemente bronzeada. Solta os cabelos, que estavam presos em um coque, e eles caem como cascatas sobre seus ombros.
Apesar da idade, Kirsty é uma mulher bonita, e eu não teria nenhum problema em me relacionar com ela se fosse em outras circunstâncias. Mas acontece que ela apenas fode com homens mais jovens e, além disso, é uma bandida, o que me faz quase broxar.
Mas eu entro no jogo de sedução dela e, se ela quer transar, farei isso como se não conhecesse seu lado sombrio.
Fico em pé, com ela em minha cintura e a deito sobre o sofá. Depois que retiro a calça e a cueca, ela faz sinal para que me aproxime. Sei o que ela fará.
Kirsty senta-se no sofá e agarra o meu pau, levando-o à boca. Ela começa a me chupar devagar, mas logo suas sugadas são mais fortes, e sinto mordidas em toda a extensão do meu membro.
Jogo a cabeça para trás, uma mistura de prazer e raiva cresce dentro de mim.
Eu não queria estar aqui. Não queria estar fazendo isso tudo.
E, de repente, meus pensamentos voam para Evangeline. Que merda eu sou! Pensar em outra mulher enquanto estou sendo chupado! Ainda mais em se tratando de Eva. Ela não merece isso.
Dou um passo para trás, interrompendo os movimentos de Kirsty.
— Não posso fazer isso — digo, e ela me olha sem entender nada.
— Do que está falando, Ethan? Você é meu! — rosna.
— Eu não posso fazer isso, Kirsty. Se for para ser seu escravo sexual, tudo bem, pois temos um acordo. Mas isso aqui... — Engulo em seco. — Eu não quero fazer isso.
— Você está me dizendo que prefere que eu te bata ou algo assim? — Parece não acreditar em minhas palavras.
— Por mais estranho que pareça, é exatamente isso — respondo, sentindo-me louco e corajoso ao mesmo tempo.
Após me encarar por alguns segundos, que parecem uma eternidade, Kirsty fica em pé e me dá um tapa na cara. É a segunda vez que ela faz isso em um curto intervalo de tempo.
Aperto as mãos, fechando-as com força, tentando não explodir. Kirsty se aproxima, quase encostando a boca na minha.
— De quatro, agora! — sussurra ameaçadoramente.
Faço o que ela ordena e sei que o que virá pela frente não será nada bom. Mas realmente prefiro assim. Quero sentir mais raiva, mais desprezo por essa mulher, pois minha vingança virá na mesma medida.
Fecho os olhos ao sentir o primeiro golpe, mas não esmoreço.
Faça o seu melhor, Kirsty. Porque logo eu te farei cair.
***
Volto para casa todo dolorido e tento não pensar em tudo o que aquela mulher fez comigo hoje.
Vou direto para o banho e me esfrego como se eu estivesse completamente imundo, mas é assim mesmo que me sinto.
Depois do longo banho, preparo um sanduíche e uma xícara de chá. Enquanto me alimento, começo a ler as mensagens no celular. Há uma de Savi, e eu a leio.
“Decidi fazer uma atividade com todos os funcionários na próxima segunda, aproveitando que é dia de folga no bar, e isso inclui você. Se ousar não aparecer, vou estragar seu topete horroroso.”
Rio com a mensagem e me pergunto o que Savi aprontará. Ele realmente está mudado, e isso é bom.
Decido perguntar do que se trata apenas depois, pois agora já é madrugada, e não quero incomodá-lo.
Termino o lanche, escovo os dentes e me jogo no sofá. Esta será mais uma madrugada que passarei em claro, assistindo a qualquer coisa na televisão, sem prestar atenção em nada.

Tentação (Livro 3) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora