Capítulo 2

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Pov Ana

O meu nome: Ana Rose Steele. Tenho 23 anos, solteira e sem muita experiência em namoros. Casamento então, nem penso nisso ainda. Moro em Everett, uma cidade localizada no estado norte-americano de Washington, no Condado de Snohomish. É uma cidade com muito movimento portuário, bem pacata e simples.

Os meus pais foram as pessoas mais importantes da minha vida. O meu pai era Engenheiro Naval, e quando era mais nova eu adorava ir ter com ele ao porto apenas para ver os navios a entrar e sair do mesmo.  A minha mãe era professora na Everett High School, todos a adoravam: alunos, colegas, toda uma comunidade escolar.

Até aos meus 9 anos fomos felizes, apenas nós os três. Porém, no ano em que fiz 10 anos a minha mãe engravidou. Eu estava feliz, sempre lhes pedi um irmão, mas não também não insistia. A minha mãe, há uns anos, tinha-me explicado que a minha gravidez tinha sido um milagre nas suas vidas. Então ter mais um bebé era quase que desafiar Deus, na opinião dela. Mas, como qualquer menina, filha única de quando em vez eu tocava no assunto.

Eles nunca me deram um NÃO, era sempre um "Deus é que sabe, se acontecer, aconteceu.". E, aconteceu sem ninguém já estar à espera. Não foi fácil, porque a gravidez foi de risco, e a Dona Carla teve que passar a mesma quase toda de cama.

Quando ficámos a saber que seria uma menina ficámos os três super felizes. Apesar de não ter vindo um rapaz, o meu pai apenas dizia com um sorriso de um lado ao outro "Vou ter três princesas para sempre na minha vida."

Os meses foram passando, a minha mãe sempre de cama. Nos últimos meses teve mesmo que ficar internada, pois a sua pressão estava muito alta, e os médicos não quiseram arriscar um parto prematuro. Decidiram que a minha irmã nasceria de cesariana, uma vez que seria mais seguro para as duas.

Sophia Anne Steele nasceu numa manhã de segunda feira chuvosa e fria. Contudo, infelizmente a minha mãe não resistiu e acabou por morrer com uma hemorragia derivada a complicações do parto. Quando eu cheguei a casa nesse dia, não encontrei a minha mãe no quarto, mas o meu  pai que chorava agarrado à fotografia dela.

Não foi preciso ele dizer nada, porque eu logo percebi o que se tinha passado. Saí do quarto dos meus pais e fui para o meu. Eu não sabia nem se a minha irmã tinha nascido, ou se a tínhamos perdido também. Deixei-me ficar no quarto até que o meu pai bateu à porta, entrou e contou-me tudo o que aconteceu.

A Sophia, veio para casa uma semana depois, ela era a imagem da minha mãe, muito calma e apenas chorava com fome ou se sentia a fralda muito pesada. Quase nem se dava por ela, parecia que ela sabia que a nossa mãe já não estava ali e de alguma forma nos quisesse ajudar a suportar a sua ausência.

Os anos foram passando, e fomos felizes apenas nós os três. O meu pai contratou uma senhora para tomar conta da casa e da Sophia, já que ele tinha que ir trabalhar e eu tinha escola. Flora, era como uma tia para mim. E era assim que eu a chamava Tia Flora. Três anos depois o Senhor Ray apareceu com uma namorada.

Elena Lincoln, viúva e com uma filha com mais dois anos que eu. A Senhora Lincoln era conhecida como a viúva cinza. Ela casava e enviuvava tão depressa como eu digo "Otorrinolaringologista". Eu não a suportava, ainda por cima a filha Leila, estava constantemente a fazer asneiras lá em casa e quem pagava o pato era eu, ou mesmo a Sofi.

Passado seis meses de namoro, eles ficaram noivos. Eu berrei, gritei, ameacei mesmo em fugir com a Sophia. Contudo, o meu pai nunca me deu atenção, colocou-me de castigo e uma vez perdeu a cabeça, e deu-me uma boa palmada. Foi a primeira, mas não a última vez que ele o fez. Porém, toda a minha birra, de nada serviu, e eles acabaram por casar, e aquela "mulher" começou a exigir que eu e a minha irmã a chamássemos de mãe. Ah! Isso nem que o meu pai me espancasse, isso eu não ia fazer mesmo. E se dependesse de mim a Sofi também não.

Fomos crescendo, neste clima de guerra. Eu recusava-me em chamar a "ViúvaCinza" de mãe. O meu pai, a pedido "dela", retirou todas as fotos da minha mãe lá de casa. E foi mais um dia em que eu apanhei dele. Consegui com a ajuda da Tia Flora saber onde estavam as fotos, e escondi-as no meu quarto. Também escondi o meu álbum de bebé, que eu sabia estar no escritório do meu pai.

Então, todas as noites, eu ia para o quarto da minha irmã e contava-lhe uma história diferente mostrando-lhe uma fotografia. Eu não iria deixar a Sopia esquecer-se da nossa mãe, mesmo que ela nunca a tivesse conhecido. Ela era nossa mãe, e a minha irmã iria conhecê-la, nem que fosse apenas por fotografias e histórias contadas por mim.

O meu sonho sempre foi sair desta cidade, e conseguir ir para a cidade grande. Mas com o nascimento da Sofi e a morte da minha mãe, eu deixei esse sonho para trás. Depois quando a "ViúvaCinza" apareceu simplesmente deixei de pensar nisso. Eu não podia deixar o meu pai e a minha irmã sozinhos com ela. 

Apesar de todas as nossas brigas e zangas, eu amava demasiado o meu pai. E no dia do enterro da minha mãe eu prometi-lhe que nunca iria deixar de cuidar deles os dois. E eu tinha que os proteger daquela mulher. Assim fui crescendo, e em vez de ir para a Universidade em Seattle, acabei mesmo por fazer na Western Washington University.

Tal como a minha mãe decidi tirar um curso no mundo da Educação. Eu adorava crianças, mas eu gostava dos mais pequeninos. Então decidi enveredar na educação especial infantil. Era uma área ainda meio que desconhecida aqui em Everett, e bastante procurada no país. Então teria mais chances para conseguir um bom emprego.

Hoje com 23 anos, estava quase formada, sonho em sair daqui. Em sair de casa onde fui feliz, mas que neste momento apenas me faz sentir sufocada. Há dois anos mais uma vez a vida foi madrasta para mim. Aproveitámos que a "ViúvaCinza" viajou com Leila, a filha do demónio, e decidimos viajar apenas nós os três: o meu pai, eu e a Sofi.

Estávamos felizes, fomos até à ilha de Widbey. Foram cinco dias maravilhosos, no Comforts de Whidbey, onde participámos na apanha e na pisa da uva. Foram dias em que voltei a ver o meu pai, tal como ele era antes. Sophia tinha um sorriso lindo, os seus olhos brilhavam. No regresso a casa, tudo desmoronou. Ainda hoje não sei como tudo se passou, de onde veio aquele carro que acabou com a minha vida tal como era.

Acordei no hospital de Everett, sem saber muito bem onde estava. Quando vi a Tia Flora ao meu lado, com lágrimas nos olhos, eu não queria acreditar, eu não queria que ela me falasse, eu não queria ouvir nada. Fiquei tão inquieta, que me voltaram a sedar, e quando acordei quem estava ali no meu quarto era a minha madrasta. E sem cuidado ela disse-me que o meu pai tinha morrido e a minha irmã estava em coma, e que os médicos não sabiam se ela sairia dele.

Ali, naquele minuto eu senti o meu coração partir em mil e um bocadinhos. Depois de cinco dias, onde fomos felizes como fomos no passado, tudo terminou assim. Eu vi-me sem o meu pai e com a minha irmã a lutar para viver. Eu não queria acreditar nisto, eu não podia acreditar. Não tudo aquilo era um pesadelo, e eu iria acordar e ainda estaria em Whidbey com o meu pai e com a minha Sofi.

Nas Mãos do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora