Antes...

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Era um belo dia para dar uma volta, um dia aparentemente comum como tantos outros. Queria sair para "esfriar" a cabeça. Afinal, quando se tem 14 anos, nossos hormônios parecem funcionar mais que a própria cabeça.

Andei distraída até a praça-verde, que ficava à dois quarteirões de onde morava. Sentei no banquinho de sempre, o que ficava distante do parque onde as crianças gritavam e corriam sem parar. Quase ninguém ficava deste lado da praça, nunca soube o porquê. Olhei ao redor para ver a movimentação, não havia ninguém.

Deitei-me no banco confortavelmente e fechei os olhos. Concentrei-me no canto dos pássaros e nos sons das árvores sendo agitadas pelo vento.

Senti um estranho arrepio na nuca, que me fez abrir os olhos e levantar rapidamente. Um homem estava sentado no banco à frente, de braços cruzados me olhando. Levantei-me assustada.

-Não precisa se assustar, menina bonita. –ele disse calmamente. –Eu sou Rafael.

Não disse nada, só fiquei olhando para ele, séria.

-Qual é seu nome? –ele perguntou.

-Lila. –falei baixinho.

-Como? –levanto meus olhos para encará-lo.

Caramba! Era o homem estranho que já havia visto a algumas semanas. Sempre que eu ia para a praça-verde ele estava sentado me encarando, mas nunca se aproximou tanto como neste dia. Ele me chamou a atenção por dois motivos: um por ele me observar de longe, e por ser muito bonito. Seus olhos eram verdes esmeralda, que brilhavam de longe, cabelos escuros, pele clara e alto.

Ele levantou uma sobrancelha, pedindo uma resposta. –Lila. –disse mais alto.

Vi pela primeira vez seu sorriso, que nasceu lentamente em seus lábios. –É um nome tão belo quanto você. –ele disse.

Baixei a cabeça e sorri envergonhada. –Olhe para mim. –sua voz soou dura e senti medo novamente.

Ele era muito estranho e mudou de humor rapidamente. Levantei o rosto. Tinha que sair dali. Olhei ao redor à procura de pessoas, e pela primeira vez, desejei que alguém estivesse por perto, mas não havia ninguém.

Ele se aproximou de mim. Tive certeza que seus olhos não estavam tão gentis quanto antes. –Você parece ser jovem. Quantos anos você tem?

Desta vez não respondi. A única coisa que queria era fugir dali. Contei até três mentalmente e comecei a correr. Me senti uma tola por correr na praça que nem uma criança louca. Ele não tinha feito nada demais para me assustar.

Não ainda.

Quando perdi o fôlego, parei e olhei para trás, mas não o vi. Respirei fundo tentando me recompor. Me senti mais tola ainda. O homem provavelmente devia estar parado e me achando uma maluca.

Percebi que estava escurecendo e a praça estava deserta.

Olhei de novo para traz, mas nem um sinal do homem estranho. Mesmo assim não conseguia me sentir aliviada. Meu coração parecia pesado, batendo fortemente em meu peito. Só queria ir para casa e deitar no colo do meu pai. Mesmo que isso significasse que eu era uma bebezinha. Eu não ligava.

Quando me recuperei, voltei a andar rapidamente, passei pelo parque que estava vazio e vi a silhueta de uma pessoa que parecia se esconder. Fiquei em pânico e comecei a correr, olhei para trás e vi o homem estranho correndo atrás de mim, acabei tropeçando em uma pedra, e senti uma dor horrível em meu pé. O homem estranho não demorou a me alcançar e me segurou no chão.

-Você é uma garota muito esperta. Pena que não fugiu enquanto pode. –ele disse com um sorriso estranho.

-Por favor, me deixe ir embora. –comecei a chorar.

-Não.

-O que você que? –perguntei soluçando.

Ele sorriu. –Quero somente uma coisa.

Arregalei os olhos. Eu era nova mas sabia exatamente o que homens desse tipo faziam. Não era ingênua. Meu pai sempre me alertava sobre isso, mas nunca imaginava que isso pudesse acontecer comigo.

-Por favor, não faça isso comigo. –implorei baixinho. –não faça nada de mau a mim.

-Prometo. Não farei nada que você não queira. –ele disse suavemente.

Vi ele tirar uma seringa do bolso. –Fique quietinha isso não doerá nada.

-Não! Você não pode fazer isso comigo! –me contorci por baixo dele tentando escapar, mas foi em vão. Ele era muito mais forte que eu. –Socorro!

-Cala a boca! – ele deu um tapa em meu rosto que causou uma ardência enorme. –E agora fique quieta!

 Senti a agulha uma fina agulha entrar em meu braço esquerdo, e aos poucos fui adormecendo.

Déjà vuOnde histórias criam vida. Descubra agora