O engano

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Abro os olhos lentamente.

A claridade me deixa zonza por uns segundos. Olho ao redor, reconhecendo meu quarto. Fico imóvel, recordando os últimos momentos em que estive consciente. A última coisa que lembro é de olhos verdes. Me sento, sentindo uma dor intensa atravessar minha cabeça confusa.

-Foi apenas um sonho. –digo a mim mesma.

Mas foi tão real... como se eu tivesse vivido a mesma cena novamente.

Como um déjà vu...

Estou em casa, no meu quarto. Está tudo bem. Mas como eu cheguei aqui?

-Finalmente você acordou, mocinha. –meu pai entra no quarto, trazendo pílulas e um copo de água.

O observo atentamente, para ver se há algum sinal de raiva ou preocupação.

Pelo menos, um lado bom. Ele aparentemente não está chateado.

-Como você soube? –questiono, olhando para as pílulas em sua mão.

-Você saiu a noite, chegou em casa inconsciente junto com sua amiga, que também se encontrava no mesmo estado. Também já fui jovem, florzinha.

Abro um pequeno sorriso, que morre logo em seguida. –Você disse que eu cheguei inconsciente em casa... Então, você me achou na praça?

Ele fica sério. –Pelo que eu estou vendo, você exagerou na bebida. Não se lembra de nada da noite passada?

Vejo que ele começa a ficar preocupado. É exatamente o que eu quero evitar a todo custo.

-Lembro sim. Mas como o senhor viu, eu acabei caindo em sono pesado. –dou a primeira desculpa que me vem a mente.

-Seu amigo te trouxe. Ele disse que vocês saíram juntos. –ele fica pensativo. –Eu nunca o vi com você. Até achei estranho.

Sinto um nó se formando em minha garganta. Então, não foi um déjà vu. Realmente aconteceu.

-Por que você está com essa cara? Você não saiu com nenhum amigo?

-Sim, saí. Eu lembro... dele. –gaguejo.

Meu pai me olha com desconfiança e me entrega os comprimidos e a água. –Parece que você precisa acordar. Estou te esperando na mesa para o café.

E com isso, ele me deixa no quarto. Com a cabeça a mil.

***

Saio da cama e vou correndo para o chuveiro. Me livro das roupas da noite passada, de forma apressada. Preciso saber o mais rápido possível o que aconteceu comigo quando perdi a consciência.

Torço desesperadamente para que eu tenha imaginado tudo. Que realmente algum amigo tenha me achado e me deixado em casa, em segurança.

Estou dividida. Uma parte de mim, sabe exatamente o que viu. A outra quer que tudo tenha sido uma alucinação, pelo efeito do álcool.

Tem apenas um jeito de descobrir. Se o que eu estou pensando aconteceu, vou encontrar os indícios em meu próprio corpo. Noto que minhas roupas estão intactas, exceto pela sujeira na parte de trás dos jeans e no joelho.

Então, eu realmente caí da forma como me lembro.

Recuo, para ver meu corpo inteiro no espelho. Hesito. Respiro fundo, criando coragem para olhar minha imagem.

Não há nada. Nem marca ou hematomas. Nada. Procuro marca de agulha, um pontinho vermelho, que também não há.

Solto o ar que estava segurando com a tensão, indo para o box.

Déjà vuOnde histórias criam vida. Descubra agora