Que o jogo comece!

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Fui ingênua o bastante para achar que Diego me deixaria em paz na primeira patada que levasse.

E como me enganei...

Cinco dias se passaram, e o  Senhor Loto continuou suas tentativas de me convencer a aceitar uma carona para casa. Ele sempre fala a mesma coisa, enquanto eu recuso do mesmo jeito.

"Eu prefiro pegar um uber."

"Um dia você vai ter que parar de me evitar."

Foram dias tortuosos, onde eu lutava comigo mesma para continuar dizendo não, para não sorrir, nem demonstrar o jeito como ele me afeta. Pelo menos, os pesadelos cessaram. A presença dele, de alguma forma, está afastando meus pensamentos daquele homem.

-Você está bem calada hoje. –comenta Diego, voltando da reunião da gerência.

-Impressão sua. –murmuro, sem desviar minha atenção do bloco de anotações. Não quero encarar esses belos olhos verdes.

Escuto sua risada rouca. Levanto os olhos. Detesto quando ele ri de mim. É simplesmente irritante. Sei que não sou engraçada, muito menos divertida, e ele se aproveita do meu jeito mal humorado para rir as minhas custas.  

-O que foi? –questiono.

Ele nunca se incomoda com meu tom petulante. Se fosse outra pessoa, já teria me demitido.

-Você está evitando me olhar.

Reviro os olhos. –Está se iludindo. Por que eu faria isso?

-Quando comecei a me aproximar você desviou o olhar e começou a desenhar esses círculos horríveis nesse papel.

Olho para o bloco, vendo os círculos que fiz. É verdade, nada passa despercebido por ele.

Fico calada, esperando que ele simplesmente suma da minha frente, me deixando em paz. Em vez disso, vejo-o atravessar o balcão da recepção, se aproximando de mim.

-Pensei durante esses dias, e acho que descobri o motivo de você me evitar.

Engulo em seco. Minha única vontade é fugir dele. Fugir desse olhar intenso e penetrante. –É mesmo? Vamos ver se você é tão esperto quanto acha ser.

-Você se sente atraída por mim. E pelo jeito que seu rosto está corado, tenho certeza de que estou certo.

-Vo... você tem sérios problemas de autoestima elevado. –gaguejo.

Diego solta uma risada, tocando no meu ombro direito. Me mantenho parada, sentindo uma queimação na pele onde ele toca. Diego parece perceber que estou incomodada com seu toque inesperado. 

–Ei. Só estou brincando. –ele tira sua mão de mim, ficando a uma distância segura.

Forço um sorriso, para me acalmar por dentro. –Você é tão engraçadinho.

-Parece que ganhei mais um sorriso. Pena que não foi tão verdadeiro quanto o primeiro.

Fito seus olhos cerrados. –Não sei porque você liga tanto para os meus sorrisos.

-Você é muito séria. Quase não sorri.  Tudo é bem mais fácil quando sorrimos. Você deveria experimentar.

-Você tirou essa frase de um livro de autoajuda? –provoco.

Ele pisca. –Mais ou menos isso.

Não consigo conter o riso. Esse cara é uma figura. 

-Muito bem, Lila. Sorria, não importa qual o motivo. Apenas sorria.

***

Mais um dia de trabalho chega ao fim. Arrumo a recepção para deixá-la em ordem para a Samanta, que fica com o turno da noite. Não vejo Diego em lugar algum. Fico um pouquinho decepcionada. Estava começando a gostar da sua companhia. Até pensei em aceitar sua carona, mas logo me detenho. Sei que ele está sendo muito legal comigo, mas não podia deixá-lo se aproximar tanto. 

Déjà vuOnde histórias criam vida. Descubra agora