Apenas um obrigado

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A porta se fecha, nos deixando para o lado de fora, onde Diego, ainda segurando minha mão e me leva para a rua.

Estou tão chocada, que não consigo nem racionar o fato de estar saindo com um completo estranho. Paro de andar no meio do caminho, forçando-o a ficar no lugar.

Me liberto de sua mão, olhando-o com extrema confusão. –Quem é você e o que faz na minha casa?

Seus olhos verdes estão arregalados. –Nossa. De nada, por ter te deixado em casa, quando você mesma não conseguiria sozinha.

Fecho a cara. –Inacreditável! Quem você pensa que é para ir chegando cheio de intimidade para cima de mim?

Sua expressão é puro cinismo. –Acho que um agradecimento não exige tanto esforço. Não dói nada.

Reviro os olhos. –Olha aqui. Eu quero saber exatamente o que aconteceu na noite passada. E como você sabe onde é minha casa.

Ele fica em silêncio, me fitando.

Percebo o jeito rude como o tratei, e falo com a voz mais mansa que consigo. –Obrigada por ter me ajudado. E me desculpa pelo jeito que falei com você. É que essa questão me deixou aflita o dia inteiro. Pensei em várias coisas. Nenhuma delas eram boas. Fiquei com medo de... –paro no meio da frase.

Estava me abrindo demais para esse completo estranho.

-Eu te entendo. Não se preocupe. Necrofilia não é minha praia. Prefiro que a mulher esteja bem acordada. –seus olhos flamejam. -E disposta.

Ruborizo. –Desculpa. Não queria acusá-lo, é que eu não confio nas pessoas. Não é nada pessoal.

-Deu pra perceber. Você é muito marrenta.

Não ligo para seu comentário. Afinal, ele nem imagina o motivo da minha marra. Eu sei que sou assim, é intencional. Desse jeito, afasto a maioria dos homens que tentam se aproximar de mim.

-Você ficou ofendida? –ele pergunta, ligeiramente preocupado.

-Eu não me importo. –digo simplesmente.

-Sei que começamos com o pé esquerdo, mas não precisa ser assim. Que tal uma bandeira branca ?

Sua mão se estende em minha direção. Eu o encaro receosa. Se fosse qualquer outra pessoa, já teria ido embora, me chamando de mal agradecida. Por que ele está insistindo tanto? 

Dou meu braço a torcer. Diego me ajudou em uma hora delicada, sem eu nem ao menos pedir. Quem sabe o que poderia ter acontecido sem a sua ajuda. Se fosse um tipo de psicopata, teria aproveitado a oportunidade quando a teve.

É isso.

-Ok. –concordo apertando sua mão. Ele a solta logo em seguida, para meu alívio. Detesto quando as pessoas seguram minha mão por um tempo desnecessário.

-Posso te fazer uma pergunta?

Penso por dois segundos. Não gosto de perguntas. Principalmente porque não gosto de respondê-las. Mas ele não sabe nada sobre meu passado nebuloso, então...

-Você já fez.

Ele ignora minha resposta grossa. –É que eu fiquei preocupado com você tendo aquele ataque quando me viu. Pensei que poderia ser o efeito do álcool, mas o jeito que você me olhou... Como se me conhecesse, e  eu tivesse feito uma coisa horrível a você. Porém, tenho certeza que nunca a vi em minha vida. Você lembra...?

-Não lembro de nada. Eu certamente estava muito louca. –nego imediatamente.

Tinha me esquecido do ataque de pânico que tive naquela noite. Claro que foi estranho para Diego, e claro que uma hora ele iria me perguntar.

Seus olhos se apertam. -Você continua desconfiando de mim. Tudo bem, vou parar de insistir. Foi um prazer te conhecer, Lila. Ou não.

Fico boquiaberta enquanto ele me deixa parada na rua, sozinha, sem entender nada. Ele só queria saber sobre meu ataque? Ou ficou chateado pela forma rude que o tratei?

Bom, eu nunca vou saber, pois não correria atrás dele nem que fosse o último cara na terra. E é bem melhor pra mim que ele me deixe em paz. Sou problemática, rude e tenho um coração de gelo. Ele não deveria nem querer ser meu amigo.

Ainda o observo, andando com as mãos casualmente nos bolsos do jeans gasto. Nem havia percebido que ele está de regata amarela, exibindo seus belos bíceps. Sua pele é dourada, brilhando no por do sol. Céus. Ele é de tirar o fôlego. Mesmo que seus olhos se assemelhem tanto com o de uma pessoa desprezível para mim, tenho que admitir, agora o olhando sem notar essas semelhanças, que ele é lindo.

De repente, Diego se vira, me lançando o que eu espero ser um último olhar. Apesar da distância, vejo seu sorriso cínico antes de se virar de volta ao seu rumo, dessa vez, sem olhar para trás novamente.

Não sei por quanto tempo fico parada. Ele some do meu campo de visão, dobrando na esquina.

Caramba. O que esse cara fez comigo?

Déjà vuOnde histórias criam vida. Descubra agora