Max ajuda!

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A criatura de tons azulados avançou em minha direção. Entorpecido pela fadiga e as dores nos dedos decepados, eu não pude fazer muita coisa além de me deixar ser imobilizado.

Max ignorava o fato de eu estar sendo dominado bem na sua frente enquanto lambia suas partes íntimas.

Como um passe de mágica, ou apenas uma tecnologia que eu não entendia, uma plataforma se ergueu do chão. Com um movimento veloz a criatura me deitou tomando todos os cuidados para que eu não escapasse. Algemas se ergueram das finas bordas da estrutura e se prenderam em meu corpo deixando-me paralisado da cabeça aos pés.

O ser resmungava alguma coisa em sua estranha língua. Os sons variavam do agudo para o grave e apesar de incompreensíveis, eles eram melodiosos e assustadores ao mesmo tempo. Passou uma mão — apesar de parecerem garras flexíveis de carne — em sua própria cabeça. Retirou de uma de suas orelhas uma gosma transparente que me lembrava muito aquelas gelecas para crianças.

Só pude assistir enquanto ele inseriu aquela coisa no meu nariz.

O material semitransparente penetrou minhas vias nasais gelando tudo por onde passava. Jurei que morreria sufocado, mas gelatina se moveu para dentro do meu corpo como se tivesse vida própria e até chegar no meu cérebro. 

Uma dor aguda de instalou em minha cabeça. Sentia como se tivesse tomado o sorvete mais gelado do mundo de uma vez só e em consequência disso meu cérebro congelasse.

— Koncegue m3 entenDer ag0ra? — perguntou o estranho ser.

— Sim — respondi sentindo minha cabeça rodando —, pelo menos mais do que antes.

— Ahr cym. Des4anse vm poUko qu3 1sço v4i me1hor4r — Ele pressionou um botão e senti minha consciência se esvair me carregando para um sono profundo.


***

Acordei com a cabeça latejando, mas o pior já havia passado.

— Uhhuull, você acordou — ouvi uma voz dizer. Olhei ao redor procurando pela criatura azul, mas não a encontrei. 

Na sala branca e sem móveis, que em nada diferia da anterior, só estávamos eu e Max que se roçava em mim.

— Eu sabia que você iria acordar — falou a voz novamente.

— Quem está aí?

— Sou eu! — respondeu de maneira alegre.

— Eu quem? Apareça! — ordenei com a voz trêmula.

Max parou de se coçar em mim, ergueu uma orelha e se voltou em minha direção, ficando com o rosto bem próximo do meu.

— Eu te amo — falou Max me lambendo.

Teria jogado ele longe, caso ainda não estivesse imobilizado. O susto que levei em ouvi-lo falando comigo, não se compara aos terrores que senti ao ver os mamutes zumbis ou mesmo de estar perdido no espaço. Aquela nova realidade que eu vivia havia chegado a um limite do que eu conseguia acreditar.

— Vamos brincar!

Eu queria gritar, mas ao ver aquela carinha de felicidade, mesmo acompanhada daquela voz estranha, me fez evitar.

***

Não digo que me acostumei com aquilo, mas aceitei o melhor que pude. O tempo que passamos presos naquele espaço me oprimia. Preso ao chão, eu não pude fazer muita coisa além de conversar com Max e esperar.

— Por que me salvou lá naquele planeta? — perguntei sério — Você poderia ter sido livre e viver suas próprias aventuras. Porquê?

— Por que eu te amo! Au — respondeu meu cachorro — Eu até pensei em fugir, mas eu sentiria muito sua falta.

Meus olhos se encheram de lágrimas com aquela revelação. Lembrar de tudo que ele havia feito, apesar de ter sido sua culpa estarmos aqui, fez eu me sentir amado.

A porta da sala se abriu e a criatura entrou. As amarras que me prendiam ao chão se soltaram e num impulso instintivo e carregado de emoção, agarrei meu cachorro e o abracei. Naquele momento eu já não conseguia mais segurar o choro.

— Ehh, desculpe atrapalhar o momento de vocês — falou o ser visivelmente constrangido com a cena —, mas precisamos conversar.

Me afastei das lambidas de Max e me voltei para a criatura já perguntando:

— Onde estamos e quem é você?

— Vocês estão no início e no fim dos tempos, está — falou abrindo os braços para apontar para a sala — é a nave da criação e eu sou o criador! Podem me chamar de Albion.

Eu não sabia como lidar com aquela informação. Albion acabara de se intitular Deus e essa nova realidade só ficava mais estranha a cada momento.

— Eu morri? — perguntei rindo — Morri e deus é azul!

— Não sou ess... — enquanto ele falava, minha sanidade escorreu do meu corpo e mais uma vez perdi a consciência.

***

— au.............. au....... au... AU, AU — Acordei com os latidos ecoando. Max batia as patinhas em mim.

— Pare, eu já acordei — Afaguei suas orelhas e notei minha mão envolvida por um pano. Albion me olhava parado no mesmo lugar.

— Como eu ia dizendo, analisei suas memórias e não sou esse Deus que você está pensando. Por favor, peço que tente se controlar — disse o criador com um tom de urgência na voz — Não tenho muito tempo para seus desmaios.

— Diga logo o que quer dizer!

— Tenho um pedido a vocês — falou sério — O motivo de vocês estarem aqui é porque minha máquina de transporte deu defeito e preciso consertá-la o mais rápido possível. Todo o universo corre perigo! Portais estão se abrindo em diversos lugares do cosmos levando uma infinidade de seres direto para a morte. Por sorte acabei encontrando vocês que caíram em um planeta semelhante ao seu mundo de origem, por isso não morreram. Porém, tenho que ser justo e dar uma escolha a vocês.

— Qual seria essa escolha? — Aquele dia não estava sendo fácil para minha cabeça. A quantidade de novas informações que eu recebia e tinha de lidar em poucos segundos, estava me deixando a um pequeno passo da insanidade.

— Escolhe, au — latiu Max.

— A única coisa que impede que o universo inteiro collapse, sou eu — falou Albion — Por tanto não posso sair desta nave no momento. Dou a vocês a escolha de voltar para seu mundo e torcerem para que eu encontre alguém que possa me ajudar a tempo do fim de tudo ou me ajudarem a encontrar um certo cristal que necessito para corrigir esse problema todo e salvarmos infinitas vidas em todo o espaço.

Albion apertou alguns botões em um painel holográfico em pleno ar. Uma estranha máquina se ergueu do chão. A superfície se moldou como um líquido metálico cuspindo para fora toda a estrutura.

O Ser azul, se aproximou e digitou alguns comandos. Dois portais que engoliam toda a luz à sua volta se abriram na sala.

— Neste a minha direita, vocês voltam para suas vidas normais — falou Albion — E neste outro à minha esquerda, vocês me ajudam a salvar toda a vida no universo. Escolham com sabedoria.

Eu não sabia como poderia ajudar. Saltar de planeta em planeta não me parecia uma boa escolha e só me deixaria mais próximo de uma morte horrenda. Ele até poderia ter cuidado do ferimento em minha mão, mas isso tudo não estaria acontecendo se não fosse por um erro dele.

— Eu já me decidi — falei tentando manter meu olhar firme para o ser — Voltarei para casa, tenho certeza de que poderá encontrar alguém mais capaz do que eu para resolver essa situação — Vamos Max — finalizei caminhando para o portal do meu mundo.

— Entendo sua decisão — comentou Albion com pesar — Só posso desejar que vocês tenham uma boa volta para casa e que... — Se interrompeu notando que meu pequeno cachorro urinava na máquina — PARE, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? — berrou

A sala se tornou vermelha e um alarme soou pelo cômodo. Uma expressão de desespero tomou conta da face de Albion que correu para a máquina tentando evitar o pior.

— Max ajuda! Au, au — falou meu cachorro se chacoalhando.


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⏰ Última atualização: Feb 24, 2021 ⏰

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