Capítulo IV

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               — O que vão fazer?! Eu quero ir para casa! Eu exijo que me levem agora! Vocês não podem fazer isso. "Mas que merda, por que estou discutindo com essas coisas? Vão me matar? Fazer experiências? Me dissecar? O que eu faço? O que eu faço? Não tem nada nessa merda com o que eu possa me defender". "Será que consigo lutar com eles? Isso não tá acontecendo..."

          O coração de Henzel começa a pulsar cada vez mais forte, como se tivesse sendo arremessado contra o peito. Ele puxa o ar, mas fica cada vez mais difícil de respirar, como se no ar não tivesse oxigênio, como se ele aspirasse apenas um vento estéril. Mas estava cheio de oxigênio ali, se não ele não conseguiria respirar quando chegou, quando acordou. Era seu coração, ele sabia, já deveria ter ido ao médico como prometeu da última vez que isso aconteceu, quando fumou aquela erva com Daniel e foi parar no Hospital, ou quando correu atrás do ônibus e observou seu coração acelerar a ponto de um ataque cardíaco, era a ansiedade, ela fazia isso. 

          — "Merda eu deveria ter ido ao médico, eu acho que vou enfartar!" — Henzel leva a mão ao coração e arregala os olhos, tenta respirar cada vez mais fundo, mas o ar não chega aos pulmões e o ritmo que o coração bate contra o peito só aumenta. — Eu acho que vou enfartar! 

          Ele diz tentando conter o desespero, para as coisas que o observam estáticos. Ele não sabia quem ou o que ou eram, e o que fariam com ele, mas não tinha mais a quem recorrer.

          — Akth ka'vtd — o humanoide sem rosto e pálido como uma folha em branco, sinaliza ao outro que está atrás de Henzel. Então ele ergue a mão na altura da cintura e surge um pequeno retângulo desfigurado do chão, como se fosse uma massa de amido de milho tomando uma forma mais densa e sólida até o ponto que fica perfeitamente polida e geométrica. A coisa então baixa a mão sobre o retângulo e uma luz fina e branca surge do tento na altura da testa de Henzel, que imediatamente se acalma como se tivesse sido medicado com um tranquilizante com efeito instantâneo, mas ele não sente efeitos colaterais, como sonolência, apenas se acalma e tudo aquilo por um breve instante parecer normal.

          — Está tudo bem. Você não vai enfartar. Quando terminar nós o levaremos de volta, não se preocupe. Eu sei o que você está pensando, todos fazem a mesma coisa. Não acho uma boa ideia você nos atacar. Até porque tá em choque, não quer ter uma parada cardíaca né?

          — "O que eu faço?" — Henzel olha em volta procurando novamente alguma saída, mas não tinha portas ou corredores, era tudo plano. — Quando acabar?! Quando acabar o que?! O que vão fazer comigo?

          Henzel então começa a respirar fundo com medo de perder o controle novamente. Ele sabia que não poderia lutar com eles. Parecia que seu coração estava sendo socado contra o tórax há alguns segundos atrás. Só queria tentar se acalmar e não ter uma parada cardíaca e morrer ali mesmo. "Se eu morrer aqui com certeza vão me levar para dissecação, ou seja lá o que fazem com a gente. Deve ter alguma espécie que compre humanos como uma iguaria, como aos orientais que costumam comer cobras e morcegos. Tenho que me acalmar e tentar sair daqui. Puta merda isso não tá acontecendo".

          — Você não queria saber o que eram as imagens? Nós só vamos lhe explicar. E acabar de vez com a perturbação que lhe aflige há algum tempo.

          — Eu nem lembrava disso!

          — Exatamente, vocês costumam se esquecer ou transformar traumas em outras lembranças, substituí-las. Foi apenas um erro, vamos consertar isso.

          — O que vocês são? Alienígenas? Eu fui abduzido? — diz ainda meio ofegante enquanto dá mais uma olhada. Não tinha saída. Era a sala branca, totalmente polida e maciça como na sua visão, não tinha portas ou qualquer outra coisa além de paredes brancas. A visão da sala esterilizada e sem saída era perturbadora, tanto quanto era aterrorizante as figuras dos humanoides sem expressão que lhe encaravam sem ter rosto.

          — De certa forma sim, você foi abduzido.

          — Por que de certa forma?

          — Nós abduzimos sua consciência, é diferente.

          — Minha consciência? Como isso é possível? Então isso não é real? eu não estou aqui realmente? Ainda estou no acampamento?

          — De certa forma. Seu corpo sim, ainda continua onde você estava, mas sua mente está aqui agora. E esse corpo em que ela está instalada é real. É um corpo que preparamos para você.

          — Como assim esse corpo é real? Isso não é como se fosse um sonho? — Henzel então olha para seu braço, toca o tórax e depois o rosto, tudo parece e tem a consistência de carne.

          — Eu sei que pode ser demais para uma consciência humana assimilar tudo isso. Vocês não estão acostumados a esse tipo de coisa. Ainda não faz parte da natureza da sua espécie. Ainda nem chegaram na era da comunicação sinóptica. Ainda estão longe de desenvolver a consciência. Mas sim, esse corpo é real. Nós apenas transferimos sua consciência para ele, para podermos conversar.

          — Mas esse é meu corpo! Sou eu!

          — Não é seu corpo em si. É um clone, uma casca projetada sob medida e nas mesmas condições do seu corpo original. Do seu próprio DNA.

           — Como assim! Isso não é possível! Como isso pode ser possível?! Isso quer dizer que vocês podem fazer qualquer coisa? São imortais? Estão infiltrados na terra? Puta merda! Meu pai pode ser um Alien? É isso?

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