Capítulo 2

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Samyra

Não sei quem ele é, mas sinto confiança no que ele diz, me agacho em um carro estranho com pessoas estranhas, estou cansada dos dias que seguiram fecho os olhos.

Flashback on

Samyra, Samyra — Mamãe grita por mim, ela está sempre gritando pela casa e sorrio.

— Estou aqui mamãe — Respondo

— Te achei — Ela sorri e olha para a costura na minha mão —  Está ficando lindo filha

— Sinto saudade da vovó sentada aqui comigo, me ensinando tudo que ela sabia..

— Ela estaria orgulhosa.

Vovó se foi a pouco  tempo, assim que a leva de seca começou, se ela visse como as coisas estão com certeza estaria preocupada e isso sim a mataria.

Mamãe me sorri saudosa com certeza lembrando da minha avó e seus ensinamentos.

O barulho da porta nos desperta, levantamos as duas com rapidez, indo até a sala, papai fala rápido não nos deixando entender nada que ele diz, ele para na nossa frente com mochilas nas mãos.

— A guerra vai estourar em Daraa, o governo pode cair a qualquer momento e isso vai se tornar centro de morte, nós precisamos sair daqui agora mesmo. — Ele nos conta e volta a pegar tudo o que precisa.

Mamãe começa a sua oração e a sua correria, eu ainda não consegui entender bem o que está acontecendo, ou se fosse realmente sincera comigo mesmo apenas não consigo acreditar que isso está acontecendo, estávamos ainda essa semana vendo as consequencias da primavera arabe, papai agradecendo que pelo menos estamos longes e seguros e agora isso. 

Mamãe encara meus olhos marejados e para a sua correria.

— Querida, estamos apenas querendo sobreviver logo isso passa mas está na hora de deixarmos tudo você entende? — Concordo — Ótimo, agora vá até a vizinha e traga o seu irmão, anda Samyra eu preciso que faça isso por mim, pode fazer? — Concordo e deixo meu lugar.

Deixo a casa e já posso sentir o medo das pessoas, as ruas possuem uma movimentação diferente, pessoas enchendo seus carros, pais gritando, mães puxando seus filhos, vejo um tangue de coleta passar com homens fortemente armados, lembro dos ensinamentos do papai e abaixo a cabeça para não encará-los. Pego meu irmão e volto rapidamente para casa, mamãe está terminando de colocar minhas coisas em uma mochila.

Papai nos faz comer enquanto esperamos a noite cair, quando a noite está alta e da rua vem um pouco de calmaria ele nos leva até o carro.

— Chegando nas fronteiras da cidade vocês terão que se abaixar, não levantem por nada, apenas quando eu disser entenderão? — Concordo e seguro na mão do meu irmão que está muito assustado.

Saímos e consigo ver os olhos da minha mãe marejados, as lembranças que vamos deixar, essa foi a casa de toda a nossa família por gerações e agora só nos resta umas poucas fotos e documentos, enxugo uma lágrima.

— Se escondam — Papai diz apagando todas as luzes do carro e nos escondemos

— Samyra... Samyra.

Flashback off

Samyra — Ouço uma voz me chamando, sinto uma mão no meu ombro, abri os olhos confusa, onde estou? Tento me afastar — Calma, calma — Ele diz erguendo a mão em rendição e começo a assimilar, ainda não sei onde estou mais ele disse que me ajudaria.

Tiago - Serie Laços Reparados - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora