Fim do começo

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     A lua estava bonita naquela noite. Por mais que eu não pudesse sair para admirá-la e tudo que restasse era vê-la pela pequena janela de meu pobre apartamento, a lembrança dela naquele belo céu estrelado estava viva em minha memória. A sua imagem me fazia esquecer durante alguns momentos da bagunça, do desespero e do medo. A minha mente estava levemente bagunçada durante aquela madrugada, diversos pensamentos a invadiam e a enchiam de preocupações.
"Por que a vida é tão injusta" perguntei como em um sussurro para mim mesmo enquanto me lembrava do meu achado do dia, fechei os olhos e dormi.
    Fui acordado repentinamente por uma risada bem alta, mas aquilo não me assustou. Provavelmente era o meu vizinho "doido", durante algumas noites ele ria ou gritava. Era estranho, mas já havia me acostumado. Levantei tranquilamente e fui até a sala, observei meus dois gatinhos dormindo no sofá e fiquei contente. Pelo menos não estava sozinho naquela noite.
"Quem diria que dois gatinhos abandonados em uma caixa estariam na minha porta." A imagem deles dois, sob a luz da lua deveria ter sido pintada. Era de certa forma, poética.
— Nem tenho nomes pra vocês - O loiro disse cabisbaixo enquanto ligava um abajur e se sentava ao lado deles, fazendo um carinho na orelha do gato malhado e logo depois na cabeça do outro. O gato branco acabou acordando com o movimento e se aconchegou em um canto do sofá amarelo.
     Depois de ter se sentado, escutou um grito e dessa vez, sentiu medo. Era de uma mulher. "Isso não tem desculpa"a voz disse e ele escutou uma porta sendo batida, provavelmente a da frente do domicílio.
"Essa noite, não vou conseguir dormir" ele pensava enquanto ligava a televisão, "vai que eu acabo sendo testemunha de um assassinato, preciso ficar acordado".
Depois de algum tempo de puro silêncio, o medo se instalou dentro dele. "Por que tanto silêncio" ele se levantou indo até a cozinha pegar algo para comer, afinal, já devia ser três horas da manhã e ele estava faminto.
      Enquanto tomava o seu cereal no sofá, escutou carros de polícia pararem em frente ao prédio.
"Eu sabia" ele disse colocando a sua tigela na mesa em que se encontrava o abajur. Logo depois saiu do apartamento e trancou a porta "vai que aquele maluco entra aqui" a probabilidade era baixa, mas não impossível. Enquanto descia as escadas de mármore branco gasto, viu dois policiais encostados na parede marrom do corredor.
— O que está acontecendo?- Ele perguntou um pouco tenso.
— Nem esquente a sua cabeça rapaz!- O policial gordo, baixinho e careca disse enquanto batia a mão levemente no ombro do rapaz.- Não é nada que mereça a sua atenção.
— Eu acho que merece – Ele disse frio - Por que vocês estariam aqui, à essa hora, se não fosse nada demais?
A expressão do policial se fechou e o homem negro ao lado dele deu um passo à frente.
— Se está tão curioso, vai lá embaixo ver.- O policial alto disse.
— Não, não faça isso com ele Geralt. Ele não vai descer - O careca disse com um leve tom de frieza, resultado da presunção do rapaz.
— Só preciso saber o que tem lá, é tão difícil falar?- O jovem disse cruzando os braços.
Os dois oficiais se entreolharam.
— É, sim.
      O loiro não pensou duas vezes e desceu correndo as escadas surpreendendo os homens. Seu coração se acelerava junto com sua respiração. Algo estava acontecendo e ele sentia necessidade irracional de ver com os próprios olhos o que estava acontecendo naquela portaria.
Assim que ele chegou no próximo andar, haviam mais dois policiais encostados em um canto parecido com o dos outros oficiais. "Tem dois em cada andar" ele se deu conta enquanto passava por eles até que chegou no último andar, que dava direto para a portaria. Viu quatro policiais se preparando para carregar algo que estava no meio da sala, e quando viu o rosto da carne morta caída ali, ficou em choque. Era ele mesmo, ele estava caído ali cheio de objetos ao seu redor. Não parecia machucado e não havia sangue no chão. O garoto sentiu que iria enlouquecer. Pôs as duas mãos na cabeça, se ajoelhou ao lado do seu corpo e deu um grito.
— Eu disse - O policial sem cabelo comentou se aproximando.- Você pelo menos se lembra do que aconteceu?
— Como eu poderia saber? Nem ao menos me dei conta de que estava morto!- o loiro disse entre lágrimas.
— Quer saber como aconteceu?
     O jovem rapaz assentiu fixando seus escuros olhos nos do homem à sua frente. Então, ele se abaixou colocando seus joelhos no chão ao seu lado e o empurrou na direção do corpo ali estatelado.
Richard abriu os olhos, encontrando o teto branco da portaria. Olhou para os dois lados e percebeu que estava sozinho. Se levantou, amedrontado e sentindo o coração sair pela boca. Deu alguns passos até uma janela que se encontrava ali e teve uma grande surpresa, a lua estava verde.

Lua verdeOnde histórias criam vida. Descubra agora