Sua respiração estava acelerada, junto com o seu batimento cardíaco. O medo tomava o seu peito, a fazendo cravar as unhas na palma das mãos. O cheiro do piso escuro de madeira impregnava seu nariz, acompanhado pela poeira.
— Trabalho?- Richard perguntou erguendo uma das sobrancelhas - Não gosto de trabalhos, no geral.
— Tenho absoluta certeza de que esse irá agradar você.- Crim deu um sorriso sem mostrar os dentes - Quer saber sobre o que se trata?
— Honestamente? Não. Não sei o que está acontecendo comigo e ao meu redor, a ansiedade que sinto não pode ser descrita. É como se eu tivesse um grande pesadelo, daqueles bem longos e assustadores que dão agonia.
A mulher sob a mesa de jantar, se encolheu no canto do móvel. Se aproveitando da longa toalha vinho que cobria o pedaço de madeira sobre si.
— Hm... E se eu te contar? Aliviaria sua ansiedade?- O homem careca disse aquilo, sabendo muito bem que agradaria o rapaz.
- Por favor!- Richard disse e logo depois deu um passo em direção ao policial.
— Só te conto, se você nos ajudar.
— O que preciso fazer?- O loiro cedeu engolindo em seco.
— Precisa encontrar a Criatura e trazê -la para nós.
"Porque vocês mesmos não fazem isso?" Ele pensou levemente indignado, mas não iria comentar o que pensava. Afinal, precisava saber o que estava acontecendo naquela porcaria de bairro.
— Como eu faço isso?- O jovem perguntou em pânico.
— Tem certas coisas que você precisa saber antes disso, a criatura é muito persuasiva. Você não pode se deixar levar pelas coisas que ela falar, fizer ou te mostrar. É tudo uma grande ilusão e isso que a torna um grande perigo. Nós, da força tarefa, a chamamos de anomalia loira. Devido a tonalidade de seus cabelos.
A jovem sob a mesa sentiu ódio, mas não podia perder o controle.
— Ok, mas o que exatamente ela vai fazer? E como irei capturá-la?
— Não sei, ela é imprevisível. Quem vai descobrir como e onde prendê- la, é você.- Crim disse como se cuspisse as palavras.
— Preciso ir armado? Onde exatamente a procuro?
— Sem armas, precisa conquistar a confiança da loira. A procure pela cidade inteira.
Richard fez uma expressão como se anotasse tudo mentalmente e assentiu.
— Quanto antes começar, melhor.- Geralt disse, saindo do próprio mundo dentro de sua cabeça.
O loiro assentiu.
— Agora, por favor vão embora. Saiam do meu apartamento, preciso dormir.
Os dois policiais assentiram e saíram pela porta. Sendo atentos, não tropeçaram no piso solto deixado por Richard e fecharam a porta.
O loiro esperou alguns minutos e se aproximou da mesa de jantar. Pegou o resto da comida que os policiais haviam comido e jogou no lixo. Depois voltou para perto do móvel, observando uma espécie de sombra de baixo da madeira, "deve ser um dos meus gatos" e levantou a toalha, se abaixou levando um susto com a moça que estava ali.
"A Criatura..." ele pensou estupefato, enquanto a jovem saia dali engatinhando rapidamente. A loira encaminhou muito rápido, subiu por uma parede e parou no teto. O encarava com a posição parecida de uma aranha, tirando a parte de suas madeixas loiras bagunçadas na direção do chão.
— O que eles têm contra você?– Richard perguntou curioso, queria saber sobre o ponto de vista da criatura. A jovem nada disse, apenas transmitindo um olhar de raiva e medo. O loiro percebendo a situação, não pensou duas vezes e pegou uma vassoura para forçá-la a sair de seu teto.
— Sai logo daí! – Ele disse jogando a vassoura no chão e trancando a porta. Afinal, precisava da Criatura. Ela não poderia fugir dali, se não, Richard teria que procurá-la por toda cidade.
— Você não vai me prender – A jovem loira pendurada no teto disse através de uma voz grotesca.
Richard sentiu seus membros se atrofiarem, não conseguia se mexer. Nem ao menos piscar conseguia. O jovem ficou ali, paralisado. Em estado de total inconsciência.
"Não queria fazer isso com você, irmão. Mas foi preciso" ela pensou enquanto descia pela parede chegando ao chão. O instinto dentro de si, dizia para deixá-lo ali para sempre. "Como ousa trair o seu próprio sangue" ela analisava o loiro.
Já que a Criatura vestia uma longa camisola branca de época, conseguiu esconder a chave perdida de Richard no meio dos seus seios. O volume do pano não permitia que outras pessoas percebessem. Colocou a chave na fechadura e a girou, trancando a porta. No exato momento, os policiais que estavam do lado de fora esperando Richard sair - sendo que ele apenas sairia no dia seguinte - congelaram, assim como o loiro em seu apartamento.
A loira encheu um prato com leite e colocou para os gatinhos tomarem. Já havia se passado uma hora desde que ela tinha paz. Ela estava maravilhada com aquela sensação, não se sentia solitária e presa como antes.