Noite nefasta

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    "O que está acontecendo...?" Richard se perguntava dando passos apressados para trás, batendo suas costas em algo duro. O loiro se virou atônito e deu de cara com uma porta preta de madeira, ela não possuía maçaneta e muito menos um espaço para chave. "Me sinto perdido" ele pensou observando aquele pedaço de madeira no meio do chão de mármore branco, tal porta não tinha destino. Tudo que havia atrás dela era o espaço vazio do cômodo em que ele se encontrava. Por algum tipo de instinto, bateu na porta e logo, escutou batidas extremamentes fortes de resposta vindo dela. Levando um susto intenso, quase caiu no chão devido aos passos desordenados para trás. Pela força que as batidas faziam no pedaço de madeira, parecia que a porta seria arrombada a qualquer momento.
     Se sentia em perigo, a adrenalina percorria o seu corpo, precisava sair daquele local. Foi até a porta da frente e, para sua sorte, ela estava aberta. Andou rapidamente pela calçada, observando o espaço vazio da rua. Não via pessoas, mas via os carros andando em movimento lentamente por conta própria. Talvez lá fora, não fosse tão seguro quanto o seu prédio. Era a sua cidade, mas ao mesmo tempo parecia outra realidade, desconhecida por ele. Então se lembrou dos gatos presos em seu apartamento. Richard precisava voltar para "resgatá-los" do que estava acontecendo. O loiro deu meia volta e foi correndo para tal lugar, um arrepio subiu pelo seu corpo ao perceber que a porta preta estava no chão.
    Richard ignorou o fato de que entre a guarnição da porta, havia um breu sufocante. Subiu as escadas e para sua surpresa, quando chegou em seu apartamento, os dois policiais de antes estavam em sua porta, fazendo uma espécie de guarda.
— Vocês podem me ouvir?– Ele se aproximou deles, percebendo a feição "morta" dos dois. Pareciam estátuas, seus olhos estavam sem vida.  Então, tocou na maçaneta para entrar no seu apartamento, se esquecendo de que a porta estava trancada. Tateou seus bolsos em busca das chaves e para a sua grande surpresa, nem tão grande assim, havia perdido elas. Como ele era muito precavido, tinha uma reserva enfiada em baixo de um piso solto do chão. O loiro se abaixou e levantou o tapete cinza escuro, procurou a abertura para tirar o piso e encontrou a chave. Deixou tudo como estava, enfiou a chave na fechadura e escutou um click. Depois do som, os policiais começaram a piscar e logo depois se mexer. Mesmo com o movimento chamando a atenção do jovem, ele entrou apressadamente e viu os dois filhotes ainda dormindo no sofá. Foi até a cozinha e pegou a caixa em que eles vieram, afinal, daquela forma seria mais seguro. Caminhou à passos apressados até a sala e assim que voltou para o cômodo, levou um susto. Cada policial segurava um gato, o gordinho acariciava a cabeça do filhote branco e o alto a orelha do malhado.
    — Não adianta perguntar o que está acontecendo, vocês não vão me dizer. Ou vão?
     — Você está começando a a entender como as coisas funcionam por aqui – O gordinho disse e logo depois gargalhou junto com o seu parceiro.
    — Aqui? Nesse prédio? Nessa cidade? Nesse planeta? Onde eu estou? Não parece mais ser o mesmo bairro.
    A dupla ficou em silêncio e logo depois Geralt respondeu.
   — Nós vamos ficar com os gatos, desça as escadas e passe pela porta no meio da portaria. Acredito que possa te ajudar.
  — Não saio daqui sem os gatos – O loiro disse sentindo o medo percorrer o seu corpo.   
   — Não é uma boa ideia levar esses animais para um lugar tão sujo e perigoso como aquele.
  Richard ficou pensativo, talvez ele estivesse certo. O loiro assentiu e foi até a cozinha pegar uma faca afiada.
   — Pra que essa faca, rapaz?– O gordinho perguntou analisando a ponta afiada.
   — Ele disse "perigoso".
    Os policiais riram novamente.
   — Não é esse tipo de perigo, meu jovem. Não importa o que você leve, não importa o que você pense, o perigo é eminente.
   — Então me proteja de tal perigo, ou você não é policial?– Richard perguntou entrando em pânico.
   — Não sou esse tipo de policial, sinto muito.
    O rapaz sentiu o seu sangue gelar, se aproximou dos seus gatos e se despediu. Começou pelo malhado e logo depois fez um carinho na cabeça do branco. Respirou fundo e andou até o seu porta sapatos, pegando um tênis qualquer e o colocando sobre as meias que ele usava para dormir já postas em seus pés. Ele andou pelo corredor mal iluminado de sempre e não escutava nenhum som. O silêncio estava lá, era agonizante a falta de barulho. O medo o impediu de correr, mas ele continuou com seus passos lentos até a portaria. Viu o espaço negro entre a guarnição escura como a noite, se pôs de frente para o breu e andou sobre a porta caída no chão, entrando naquele buraco negro.             
    Tocou a parede do local, era feita de pedra. Ele arrastou a sola do tênis no chão e percebeu que era do mesmo material. Enquanto descia as escadas daquele breu, Richard sentia um cheiro doce. Parecia um perfume daqueles bem caros e importados que mulheres ricas usavam. O cheiro lembrava a Érica, uma ex namorada da faculdade em que o loiro cursou direito. "Isso não faz o mínimo sentido" ele parecia levemente mais relaxado, talvez tivesse sido o cheiro.

Lua verdeOnde histórias criam vida. Descubra agora