A criatura

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     Ele desceu aquelas escadas acompanhando o odor perfumado que aumentava quanto mais ele andava. Assim que chegou ao fim dela, percebeu que caminhava por um longo corredor escuro. Andou em torno de cinco minutos até avistar a sala em que deveria chegar. A claridade da porta aberta invadia o corredor escuro e incomodava os seus olhos já adaptados à escuridão. Richard entrou no aposento vazio, olhou de um lado para o outro e não encontrou nenhum ser vivo. Apenas algumas xícaras de chá em cima de uma mesa de madeira que possuía uma fina toalha de renda branca por cima. Perto da mesa, havia duas cadeiras. Ele ficou ainda mais perdido, "de onde o cheiro está vindo" se perguntava enquanto andava pela sala rústica. Então percebeu que o cheiro vinha da lareira, algo queimava lá. "Onde está a sujeira e o perigo" Richard refletia ainda andando pela sala aconchegante. Ele tentava raciocinar, várias coisas aconteciam ao mesmo tempo em sua mente. "Tem algo ali" ele olhou com mais atenção para o fogo "flores?"
     Enquanto isso, os policiais jogavam pedra, papel e tesoura no apartamento do loiro, além de brincar com os gatos.
— Que maldade, Crim. Botar medo no garoto daquele jeito...– Geralt dizia enquanto brincava com os gatos no sofá.
— Admita, foi divertido ver ele pegando a faca...– O gordinho riu lembrando da cena enquanto via um jogo de futebol na televisão e comia o cereal velho de Richard que havia sido abandonado ali em cima da mesa.
— Realmente... Mas, mudando de assunto, queria saber para onde ela fugiu.– O policial disse segurando o gato branco no colo.
— Não foi longe, tenho certeza disso.– O gordinho riu e cuspiu o cereal mastigado no pote em que estava – Isso aqui está horrível.
    "Filhos da puta" Richard pensava experimentando o chá que ainda estava quente em cima da mesa. "Hm... Gostoso. Provavelmente chá preto" ele disse devolvendo a xícara ao seu lugar de origem. "Devem ter mandado o chá e os bolinhos de chocolate por aquele tubo". Na parede direita do aposento havia um tubo grosso de metal e uma cesta acolchoada em baixo, ele não era grosso o suficiente para que alguém passasse por ali mas tinha o tamanho certo para mandar os sacos de comida depositados ao lado. Analisando melhor aquele canto, percebeu que um pequeno forno se encontrava ali ao lado do tubo e da lareira. Tão pequeno que parecia de brinquedo, mas ele funcionava. Richard fez questão de testar, ligando uma das bocas. Ao lado do forno, havia algo escrito na parede. Algum tipo de contagem. "Alguém passou bastante tempo aqui", o loiro analisou passando um dos dedos por cima das marcas. "Pela decoração do local, deve ser uma garota" ele disse se afastando. Pegou um bolinho de chocolate e foi em direção à porta escancarada. Analisou a porta branca, ela possuía detalhes delicados de flores em tom de rosa claro, uma maçaneta redonda dourada e uma fechadura que tinha arranhões, provavelmente feitos pela pessoa que ali habitava e tentava escapar. Olhou para a direta no chão e viu uma faca jogada no carpete cor de caramelo, "não sei como ela usou isso, mas com certeza usou essa faca para arrombar a fechadura". O rapaz analisou a finura da porta, ela era extremamente mais grossa do que a de entrada "não me admira que ela não tenha conseguido arrombar essa porta pela força" pensou e pegou uma das velas que decorava a mesa. Richard não queria voltar pelo corredor na escuridão total. Segurou a vela pelo prato que a apoiava e voltou pelo mesmo longo corredor, mas dessa vez, analisava as paredes. Elas eram tão bem feitas que pareciam ser de algum castelo ou qualquer coisa do tipo. Andou bastante e percebeu ao chegar na "porta de volta" que no chão, havia uma vela apagada caída de lado no piso e percebeu que a cera não estava gasta. A vela era nova e nem ao menos estava suja. "A pessoa que vivia ali, deve ter medo do escuro ou apenas quis ser cuidadosa com o caminho" ele passou pela guarnição da porta.
    O loiro andou rapidamente ainda segurando o bolinho e dando uma mordida durante o caminho. Subiu as escadas apressadamente, tropeçando no buraco em que o piso solto deveria estar. "Merda, eu devia ter sido mais cuidadoso" Richard disse levantando o rosto do chão encarando a dupla sorridente que se encontrava em pé ao lado de sua mesa de jantar comendo da sua comida.
    — Nossa, foi tão perigoso e sujo... Quase morri.– Ele disse debochado enquanto mastigava o bolinho.
   — Isso porque a criatura não estava lá.– Crim disse dando um sorriso maldoso.
   — Criatura? Me pareceu um lugar bem humano pra mim.– O loiro disse estreitando os olhos – Vocês mentem, e tá tudo bem. Eu também minto, mas isso me irrita. Podem ser sinceros?
  O oficial gordinho ergueu as sobrancelhas e fez uma expressão de deboche.
   — Você não merece a verdade.
   — Por que? – Richard perguntou indignado.
   — Nem ao menos nos deu uma mordidinha do seu bolinho.– Crim disse fazendo uma expressão de tristeza genuína – Seu egoístinha, mimado. Flho único?
   — Tem certeza de que quer um bolinho da "Criatura"? Vai que são venenosos...– O loiro disse irônico.
   — Tomara que se engasgue.– Geralt disse franzindo o cenho, mostrando raiva genuína.
   — Se eu fosse você, não comeria a comida da criatura.– Crim disse rindo – Provável que ela te coma por isso.
   — Ah, é? Então por quê você queria comê-lo?– Richard perguntou em tom de superioridade.
  — Simples, por quê eu quero que a bela criatura me coma. No bom sentido, óbvio.
    Os três não se aguentaram e gargalharam.
  — Que coisa feia...– O loiro disse enquanto ria – Mas falando sério agora, por quê eu não poderia comer?
— Jovem, eu tô brincando. Coma o seu bolinho com muita calma e tranquilidade. Tenho certeza de que a última coisa em que a criatura pensa é em quem está comendo a comida que ela abandonou.– Crim disse e sorriu – Agora, vamos falar sobre um assunto sério. Tenho um trabalho para você.
 

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