Capítulo 30

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boa leitura 🐍
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{Narrado por Camila}

Quatro semanas depois

— Café? — Taylor entrou no meu escritório e jogou duas pilhas de correspondência com elásticos na minha mesa. Cada uma deveria ter sete centímetros de espessura. Ainda mais cartas do que ontem.

Eu olhei para as pilhas.

— Acho que preciso de cafeína para isso. Você pode pegar meu café com leite de soja de sempre, gelado grande e sem açúcar? 

— Sim. Uma xícara de nada divertido chegando. 

Fui até a gaveta da minha mesa e tirei minha carteira. Taylor ergueu a mão.

— Não. É a minha vez. Eu volto em breve. Deixe de lado as cartas mais malucas para eu ler. 

Eu ri.

— Sempre. 

Dois dias atrás, a revista publicou um trecho informando que o artigo Holiday Wishes voltaria a funcionar na próxima semana. Eu não pude acreditar na quantidade de correspondência que recebi em apenas quarenta e oito horas. Uma de nossas estagiárias geralmente ajudava a separar as cartas. Ela tirava aquelas que achava interessante para consideração, mas eu também gostava de vasculhar e abrir alguns por conta. Às vezes era aleatório, talvez as primeiras cartas no topo da pilha, e outras vezes eu pegava pelo sobrenome listado no endereço do remetente ou um lugar interessante onde a pessoa morava. Mesmo que a revista só fosse distribuída impressa nos Estados Unidos, sempre recebia alguns leitores do resto do mundo. Ontem escolhi Janice Woodcock porque, bem, quem não ficaria curiosa para saber o que mais uma mulher com esse sobrenome poderia precisar no Natal? Também escolhi uma pessoa que morava em Bacon, Indiana. Porque, bem… bacon.

Recostei-me na cadeira, tirei o elástico de um dos pacotes e comecei a folhear as cartas do dia. Examinando os nomes e endereços, nada parecia saltar na minha cabeça, até que cheguei a um envelope em particular e congelei.

B. Mendes.

Puta merda. Birdie escreveu para o Papai Noel de novo?

Não consegui abrir a carta com rapidez suficiente.

Querido Papai Noel,

Não tenho certeza se você vai se lembrar de mim ou não, mas meu nome é Birdie Mendes. Escrevi para você há alguns meses e pedi que trouxesse algumas coisas para meu pai e para mim. Não se preocupe, não vou pedir mais. Eu tenho tudo que preciso. Mas o problema é o seguinte: não acho mais que você seja real. Não foi muito difícil descobrir.

Veja, em história estamos estudando população. Minha professora, a Sra. Parker, disse que a população do Polo Norte é zero. Ela disse que os humanos não podem sobreviver às temperaturas e praticamente só os narvais vivem lá. Zero pessoas no Polo Norte, onde você deveria viver!

Depois, há Suzie Redmond, uma garota da escola. Eu já te falei sobre ela. Ela viu sua mãe distribuindo os presentes na manhã de Natal do ano passado. Além disso, se você faz os brinquedos em sua oficina, por que as bonecas que ganhei no ano passado dizem Made in China? Há algo suspeito nisso.

Ah, e eu fiz as contas. A Sra. Parker disse que há 1,9 bilhões de crianças no mundo vivendo em mais de duzentos milhões de quilômetros quadrados, e a família média tem 2,67 filhos. Isso significa que você teria que andar 5.083.000 milhas por hora para visitar todos na véspera de Natal. Como aquele velho trenó de madeira pode ir tão rápido?

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