Capítulo 2 - Cinderela I

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Narrado por Angelo Lessa Ѽ Cinderela I

— Que perfeito! — pensei alto.

— Não há nada perfeito, Angelo. Ele simplesmente é o meu patrão. E ele me olhou... Daquela forma... — Benjamin mal conseguia se expressar. Estava atormentado, encolhido, abraçando um ursinho velho.

Eu sorri de nervosismo. Olhei para cima, encarando Ítalo. Estava deitado em seu colo, sentindo seus afagos.

— Mas... Você sabe... Imperador, roda da fortuna, namorado... — fui dizendo lentamente.

— Para Angelo, era sobre o emprego!

— Não era apenas sobre o emprego — retruquei. — Posicionei os arcanos de meu deck para que ele visse, Ítalo observou calado. — A conclusão, a carta resumo de todas essas é o Ermitão.

— A posição de um homem mais velho, buscar sabedoria, ocupar um alto lugar na hierarquia após passar por um exílio interior — Ítalo murmurou enquanto afagava a minha nuca.

Concordei.

— Entre a carta do carro e a roda da fortuna está a estrela — arqueei a sobrancelha. — Entre a roda da fortuna e o imperador está a temperança. Entre o imperador e o namorado está a roda da fortuna e entre o namorado e o carro está... a... morte...

Vi e disse aquilo com algo pesando em minha garganta. Pigarreei e voltei minha atenção para Ítalo.

— Não é uma morte física, é um decreto do fim de um ciclo. Seu ciclo estará finalizado depois de tudo isso, na caminhada para o namorado.

Sorri gentilmente e recolhi as cartas.

— Muito mais que um emprego lhe espera naquela casa. Talvez um...

— Ok, chega. Quando o Luuv vai estar aqui?

Dei de ombros. Era comum estarmos na casa do Luuv e ele não estar presente. Era quase que nosso clube secreto, uma república para os meninos perdidos. Todos tinham a chave, entravam quando queriam, isso era um máximo.

— Quando terminar o trabalho — Ítalo pegou a vasilha de salgadinhos e foi comendo um e jogando outro em Benjamin. — Tá namorando, hein safadinho?

— Namorando? Tá louco, Ítalo? Ele é meu chefe.

— É teu colega de sala — respondi.

— Gente, e tudo isso impede? Estamos onde, na Idade Média? Pelo menos ele é limpinho e...

— Ele é o filho do meu patrão.

— Barba bem feita, ombros largos, o braço do tamanho da sua coxa... — Ítalo imitou Benjamin, refazendo a cena onde Benjamin havia me contado como o garoto era fisicamente.

— Nós sentamos em lados opostos da sala! — retrucou, ficando vermelho.

— Você está enamorado — terminei aquela discussão boba. — É normal, ele é bonito, pelo que vocês falam. É o fogo que arde sem se ver, sabe? — ri um pouco.

— É uma ferida bem lá embaixo que se sente... — Ítalo começou a gargalhar.

— É um orgasmo latente e descontente? — brinquei, Ítalo e eu rimos alto. Benjamin continuava sério. — O que foi, Ben?

— Estou preocupado com meu pai, só isso.

— Vem cá! — puxei-o para os meus braços e o apertei bem forte, ficamos grudadinhos. Eu deitado ao colo de Ítalo e ele deitado em meu colo.

Encantados (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora