Capítulo 3 - A Pequena Sereia I

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Narrado por Luuv Kjaerlighet Ѽ A Pequena Sereia I

Não posso mais amá-lo — ecoou uma vez mais em minha cabeça.

Em um momento importante da minha vida, eu descobri que não podia amar. Não podia ser igual aos mortais. E esse momento ocorreu quando o monstro que chamava de pai, matou minha mãe a sangue frio, em minha frente. Ele guardou a arma e me mandou embora. Disse:

— Não posso mais amá-lo. Você não é mais o meu filho — e simplesmente sumiu.

Aquilo era estranho. Ainda mais porque estávamos a passeio no Brasil, um país distante do nosso. Eu tinha dezesseis anos na época. E acho que terei dezesseis anos para sempre. Minha vida evoluiu e muito. De menino de rua eu comprei a minha casa. Nunca usei o meu dinheiro para me divertir, nunca esbanjei. Sempre tive o básico e sempre dei o meu melhor. Aos dezessete passei em uma das melhores universidades do país em psicologia. Estou formado. E continuo fazendo o que eu fazia desde os dezesseis para poder comprar uma refeição, dessa vez para assegurar minha vida por muitos anos.

Eu só sigo em frente. Com uma tatuagem do passado. Tenho um cofre, um passaporte, uma arma e um nome. Recentemente descobri o endereço. Tive de dormir com gente importante para descobrir.

E em meio aos devaneios quase derrapei com a moto ao ver uma cena inusitada. Qualquer pessoa veria algo comum, mas, eu gelei. Tive de desligar a moto, saltar e pisar firme no chão.

Um rapaz estava deitado em um banco de praça. Uma praça grande, com árvores altas e galhos volumosos. Pessoas sem casa são comuns num mundo sem coração. Mas, não era exatamente isso o que me afligia. Aquela era a praça em que eu havia dormido pela primeira vez quando fui abandonado. Naquele banco. Daquele jeito.

— Isso não pode estar acontecendo... — murmurei para mim mesmo e caminhei lentamente em direção ao banco.

O rapaz era jovem, não deveria ter mais de vinte e cinco anos. Tinha cabelos raspados e sobrancelhas grossas. Estava bem vestido, uma mochila camuflada jogada ao chão. Uma fotografia debaixo dela.

Não encoste, Luuv. Você só precisa voltar para casa, conferir se os garotos estão bem, ter uma excelente noite e atender aquele paciente problemático amanhã... Não se aproxime... Não se importe... Mas, era tarde demais.

Ele agarrou a minha mão quando peguei a fotografia. Voltei meu rosto imediatamente para o dele e nos encaramos profundamente.

— Isso é meu! — ele rosnou.

— Bonita foto. A moça é...

— Minha namorada. Ex-namorada, na verdade.

— Ah, saquei tudo.

— Quê?

Entreguei a fotografia e dei as costas.

— Nada, sou apenas um maluco curioso, adeus! — acenei e caminhei.

— Espera, quem é você?

Voltei para encará-lo. Ele tinha todo aquele tipo que acabou de passar no concurso da polícia ou exército. Totalmente sem personalidade. Sem cabelo, sem barba, só aqueles olhos grandes esverdeados e um rosto moreno e ossudo.

— Sou um desconhecido.

— Que rouba fotos alheias?

— Um maníaco por fotos alheias — zombei e dei as costas.

Quando dei por mim, ele me segurava pelo ombro.

— Que é?

— Nada. Só... — deu de ombros.

Encantados (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora