Tínhamos voltado à estaca zero, Haneul agora me odiava ainda mais do que antes. Nossos poucos assuntos agora se transformaram num silêncio aterrorizante; eu só torcia para ficar sozinha o tempo todo e, na maioria das vezes, isso acontecia.
Pelos meus cálculos, hoje era sábado, o que não mudava muita coisa, já que todo dia parecia ser igual. Meu companheiro coreano, tinha o rosto corado e os ombros exageradamente vermelhos, talvez até um pouco ardidos também. Mas, isso nem me importa, ele pode virar um camarão, não ligo. Espera, não era isso que diziam de alguns homens? Homem-camarão, tira a cabeça e come o resto. Gargalho sozinha na varanda, imaginando aquele corpinho esculpido com um Haneul obediente e menos marrento.
— Oi, será que você poderia passar protetor nas minhas costas? — a voz masculina me surpreende e antes de virar e encará-lo, prendo a risadinha maléfica que deseja escapar por meus lábios.
— Ah, claro, ca... Quer dizer, Haneul — prendo meu cabelo num coque e caminho até ele, notando que está apenas sem camisa e um short de tecido leve. — Você gosta bastante de praia, né? — tento puxar assunto, evitando olhos nos olhos dele.
— Sim. Gosto do sol, apesar do castigo nas costas e no rosto. A água me ajuda a pensar, organizar as ideias. Você não gosta muito de tomar banho, né? Digo, na praia... — Haneul sorri malicioso e o encaro, passando o protetor nos ombros dele.
— O que foi? Acordou de bom humor novamente, Sr. Engraçadinho? — ouso brincar, tentando quebrar o clima estranho entre nós.
— Eu não deixaria que alguém como você estragasse as minhas férias. Você me beijou e quis me fazer passar por abusador, isso foi muito escroto da sua parte. Mas, não vou te crucificar por isso, deve ser difícil não ter todo mundo aos seus pés. Eu entendo. Poderia passar um pouco mais embaixo? — ele morde o lábio, na tentativa fajuta de me deixar nervosa.
— Bem, você retribuiu e quase tirou minha roupa ali na praia, não banque o inocente comigo. — o encaro e em seguida, reviro os olhos, fingindo não estar afetada com a proximidade entre nós. — Posso passar sim, você nem disfarça que quer minhas mãos tocando seu corpo.
— Eu não vou me desculpar por saber separar as coisas. Não é como se eu gostasse de você, só foi um momento casual. Você não sente vontade de transar com ninguém? — seus olhos escuros me encaram e eu me perco naquelas órbitas misteriosas, sem saber o que responder. — De qualquer maneira, já me arrependi por isso, não vai mais acontecer. Precisamos voltar a ser mais que amigos, melhores amigos, que tal?
Fico em silêncio, imersa naquele peito tatuado e forte, lambuzando as minhas mãos com protetor solar com cheiro de uva. Suspiro fundo e prendo a respiração quando sinto o coração dele acelerar sob a minha palma. Isso é tão estranho. Ainda não sei o motivo de estar passando creme em locais que as mãos dele alcançam.
— Se você realmente não se importasse, como diz, não precisaria ficar invalidando o tempo todo as coisas que sente. Sim, eu já transei casualmente com alguns caras, mas não é algo que gosto. Prefiro me envolver emocionalmente com alguns, antes de simplesmente tirar a minha roupa. E para ser bem honesta, boa parte deles, tinha o ego maior que o pênis. Então, Haneul Jeong, você vai precisar se esforçar muito antes de me levar pra cama.
— Então, vamos retornar para a nossa amizade sincera, Camille Campbell. Onde os dias na praia eram mais divertidos quando íamos juntos, que tal? — sorri malicioso e observa o próprio corpo, como se checasse se passei o protetor nos lugares certos.
— Tudo bem então, amigos novamente? — desço as alças do meu vestido e vejo ficar sem expressão, como se mentalmente estivesse se perguntando o que estava fazendo. — Pode passar protetor solar em mim? Ou será que isso é uma tarefa muito complicada?
— Hum, claro que posso. Onde você quer que eu passe? — Haneul não me olha nos olhos e isso me faz sorrir de forma discreta, saber que eu estava o provocando era divertido. — Nos mesmos lugares que eu passei em você. — cruzo os braços e espero, fazendo birra de propósito.
— Isso vai ser moleza, relaxa. — diz convencido, ainda sem olhar para o meu rosto. Mordo o lábio e sinto as mãos grandes e fortes tentarem passar protetor nos meus ombros.
Fecho os olhos e uma lembrança ruim me atinge, trazendo à tona algumas das memórias que tento esquecer e jogar no cantinho isolado da minha mente. Minhas inseguranças com o meu corpo, que nunca está perfeito e que nunca será. Aceitar isso foi um processo muito demorado, mas não é isso que volta com tudo. Meu ex namorado, gostava de brincar com meus distúrbios alimentares, com meus medos. Ele usava tudo que podia para minar minha autoestima. Eu nunca estava bonita, eu nunca era bonita o bastante, e provavelmente, Haneul deve estar rindo de mim.
Me afasto de forma brusca, pegando-o de surpresa. Viro de costas e limpo as lágrimas que escorrem depressa pelo meu rosto. Espero que ele não tenha percebido. Que droga, eu estou tendo esses acessos novamente e não sei o motivo, a razão de estar o todo tempo me perguntando se sou boa o bastante, o suficiente para alguém como Haneul...
— O que foi? Eu te machuquei? — há um cuidado em sua voz que me faz chorar um pouquinho mais e em silêncio. — Me desculpe se eu te toquei de uma forma errada, eu juro que...
— Tudo bem, deixe que eu passo o resto. Não foi nada. Obrigada. — agradeço e permaneço de costas, fitando o mar e o tapete azul infindável que nos cerca.
— Me ensine a não te machucar, eu juro que não faço por querer. Eu só não sei o que esperar de você, toda hora você me confunde. Como podemos ser amigos se eu não te entendo? Eu posso te proteger de qualquer coisa aqui, menos dos seus fantasmas do passado.
— Você não entenderia, nem precisa. Mas obrigada pela tentativa, foi muito mais do que qualquer pessoa já fez por mim. — viro para encará-lo, mas sinto nossos corpos colidindo, as mãos dele estavam no meu ombro e os olhos dele transitavam confusos entre a minha boca e os meus olhos.
— Eu nunca precisei lidar com alguém como você, eu realmente não sei o que fazer. Então, me ensina, vai. Não custa muito. O que Camille Campbell gosta de fazer? Além de ser assim tão... — a mão direita do bad boy passeia pelo rosto e desliza suavemente pelo meu pescoço, subindo até a nuca. — Não sei o que te faz chorar quando está insegura, não sei o que essa vida social de merda colocou na sua cabeça, mas você precisa parar de viver o que não existe, Camille. Essa perfeição que as redes sociais prega, não existe.
— Como você sabe que é isso? — pergunto constrangida, ignorando as sensações que as mãos quentes dele causam no meu corpo, a forma que seguram meu rosto, forçando a olhá-lo. — Eu trabalho na sua casa há um certo tempo, observar é a minha função. Você é linda, Camille, apesar de ser igualmente irritante. Então, por favor, pare de chorar. Não me obrigue a quebrar uma promessa, eu não quero isso.
Haneul cola nossas testas e eu prendo a respiração, lembrando da nossa última briga idiota. Ele tinha razão em uma coisa: poderia ser divertido ficar na ilha e dividir os lençóis com ele, mas todos estavam nos observando e eu não estava sendo honesta.
— Precisamos ir, estou com um pouco de calor — falo baixo, ignorando a vontade que tenho de agarrar esse homem e me perder em um desses quartos com ele.
— Tudo bem, a decisão é toda sua — ele sorri e deixa o protetor de lado, passando um pouquinho na pontinha do nariz. Sorrio de um modo espontâneo, saindo da casa e caminhando até a praia. Hoje o mar estava calmo e perfeito para nós.
O clima de tensão parecia ter melhorado, acho que isso está se tornando quase comum entre Camille Campbell e o Bad Boy Haneul. Após uma deliciosa tarde na praia, voltamos para a casa com o almoço já servido. Tiramos o excesso de areia e sódio com um banho delicioso, obviamente e infelizmente, em quartos separados. Acabo ficando cansada demais para qualquer atividade, indo dormir um pouquinho para recarregar as energias.
O sono estava maravilhoso, com o barulho das ondas sendo o meu calmante auditivo. No entanto, uma batida forte na porta me desperta. Coço os olhos e bocejo antes de abrir e xingar Haneul por atrapalhar meu soninho, mas não é o bad boy coreano que eu encontro em minha porta.
— Camille Campbell, você precisa me acompanhar — um homem de terno e mal encarado diz, sem me permitir hesitar ou recuar. Eu não tinha saída, precisava segui-lo, mesmo sem saber para onde estava me levando.
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Haneul - O Protetor da Influencer (02/05 NA AMAZON)
RomanceApós uma emboscada, Julian Campbell decide afastar sua filha dos holofotes e deixá-la sob os cuidados de seu funcionário mais leal, que não suporta o estilo de vida dos Campbell. Camille, uma famosa influencer, era a personificação de tudo que o bad...