Capítulo VI

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Celio acorda sentado sobre o chão de madeira, ele seus ombros estavam cobertos com uma manta grossa, suas pernas estavam cobertas e Alessia deitava sobre elas, encolhida e coberta até o ombro por um cobertor de pele, ele sente o peso dela deitada sobre sua perna e evita fazer movimentos bruscos para não acorda-la. Ele espera quase meia hora e percebe que talvez tenha acordado cedo demais, ele dobra a manta que o cobria e cuidadosamente levanta a cabeça dela, move suas pernas para o lado e usa a manta como travesseiro para ela.

Suas pernas estavam dormentes e ele não conseguia força-las então é forçado à esperar mais alguns minutos, ele percebe que não havia tomado banho antes de dormir então havia lama seca em seus pés, apesar de achar aquilo nojento ele não se sente mal, aquela noite, tudo o que havia aprendido sobre Alessia valia uma única noite sem tomar banho, acreditava que ela pensaria o mesmo.

Celio se levanta e alimenta os animais, como Alessia pedira para ele na noite anterior, caso acordasse antes dela.

Ao perceber que talvez ela demore para acordar ele cobre ela com aquela manta toma ela em seus braços e decide voltar o templo, ele sente o tecido macio de suas roupas e o cheiro doce de seus cabelos, enquanto anda para fora. Ele tem uma certa dificuldade para abrir a porta, com cuidado para não bater com a cabeça dela no marco. Ao abrir a porta ele sente o ar frio da manhã em seu peito nu e é tomado por um arrepio, uma luz opaca invade sua visão.

Celio refaz os passos que fez com Alessia na noite passada, sua memória e sua noção de espaço facilitavam muito a sua locomoção e ele adentra a floresta, apesar dela ter dito para ele que era um local labiríntico, eles andaram em linha reta o tempo todo então ele se julgava capaz de voltar até lá sem a ajuda dela.

Enquanto caminhava na floresta ele perguntava-se o que estava fazendo ali, o que aconteceu com a sua vida para que e estivesse apaixonado pela própria Medusa, ou Alessia como a conheceu, ele nunca havia parado para refletir que estava lidando com algo muito além de sua compreensão, ela era mais velha do que ele sequer podia imaginar, mesmo acreditando nela, ele nunca se deu conta de que ela era praticamente uma divindade, com poderes que ele só havia ouvido em histórias, não sabia bem o que pensar dela.

Alessia já havia o tranquilizado sobre o futuro, mas e quanto ao presente? O quão difícil seria lidar com uma filha de titãs? O que faria se ela percebesse a situação em que estava, sendo ela uma divindade e ele apenas um cara, com um emprego nove por cinco? Essas perguntas martelavam em sua cabeça e ele se esforçava para confiar no que ela falou, pois segundo Alessia não havia chance dela voltar para a Grécia, o lugar dela era ali e com ela era o único lugar onde ele tinha uma sensação de pertencimento, era ali que ele queria estar.

Ele sente o chão mudar, o que antes era barro seco se transforma no solo do bosque, nesse momento ele percebe que estava no caminho certo e por um momento esses pensamentos que tinha, dão lugar a um leve orgulho, ele respira fundo e sente o cheiro das flores e segue em frente.

De volta ao templo ele coloca ela sobre a cama, cobre ela com os dois cobertores. Ele vai até o banheiro com sua mochila, pega alguns itens de higiene pessoal, escova os dentes, lava os seus pés e volta para o quarto dela, há uma cadeira ao lado da cama, ele senta pensativo, repetindo o que havia pensado na floresta, isso dura algum tempo até que Alessia acorde, se espreguiçando.

- Bom dia, Alessia – diz ele num tom suave – dormiu bem?

Ela olha para os lados estranhando o ambiente e responde com uma voz rouca:

- Bom dia, querido... – ela boceja e vira para o lado de Celio – dormi bem, sim, mas o chão do celeiro como colchão e suas pernas como travesseiro fazem uma cama muito mais confortável que a minha – ela dá um riso fraco e pergunta – que horas são?

O Cego e a SerpenteOnde histórias criam vida. Descubra agora