O último diálogo entre o garoto de orbes azuis e a dona do par de olhos verdes acizentados, não fora um dos melhores desde os últimos quatro anos. A verdade é que não sabe-se exatamente quando as coisas realmente saíram do controle.
Nika pensou estar sob controle. Não mais quando sentiu o olhar intenso e magoado de Jonathan fitando-a intensamente — o então constante brilho em seus olhos, pareciam ter sido apartados e substituídos por um intercalar de tristeza e desdém.
Jamais tinha o visto a olhar com repleta aspereza. Era decerto um sentimento novo, que Nika ainda não havia explorado.
A troca de olhares foi partida com total relutância pelo garoto, que deu passos leves e constrangidos antes de se afastar.
A cada passo em retirada, era como se seu corpo ficasse ainda mais pesado, assemelhava-se bastante à carregar um milhão de pensamentos turbinados — todos processando simultaneamente, causando uma sensação de queimação. Todos os bilhões de neurônios entravam em combustão, de uma só vez, fazendo sua visão ficar turva. Assemelhava-se à um incêndio.
O gosto ácido da bile fazia um convite simpático e casual de retirada.
Era uma crise de pânico, afinal.
Ele culpava-se imensamente por se sentir tão afetado, pois há poucos dias atrás, havia prometido a si mesmo que não envolveria-se tão intensamente. Jonathan não queria reviver a dor de ser rejeitado, não mais uma vez.
Entretanto, o sentimento de dúvida se manifestou mais alto. Os incontáveis "e se..." que criara, eram constantes, sua mente o sabotava o tempo todo.
E como se fosse um simples gênio da lâmpada, que concederia todo o seu desejo de suprir sua desilusão amorosa, Brandis descontou toda as suas mágoas e frustrações na bebida.
Com um pequeno drink amargo de vodka na mão, vieram-se então mais dezenas de outros. Pareceu realmente funcionar por alguns instantes, mesmo que pequenos.
Jonathan sempre foi um dos garotos mais exemplares e prestigiados de todo o colégio. Sempre sentiu que tinha a obrigação de provar a alguém — aquele alguém em específico — que era bom em alguma coisa, precisava ser.
E foi a partir desse incentivo — por mais tóxico que fosse — que o menino sempre tirava uma das notas mais altas de toda a Elementary School.
Um hábito constante e de seu feitio era recusar festas ou encontros apenas para que pudesse ficar em casa e mergulhar a cara nos estudos. Por isso, o semblante de incredulidade de seus colegas de turma não foram por motivo nenhum exagerados. Ao depararem-se com um Brandis "divertido" dançando em cima de uma mesa, ao redor de dezenas de pessoas (perceptivelmente alterado) era surpreendente.
Para o garoto no momento, a boa e falsa sensação de sentir-se flutuando pela pista de dança, parecia três mil vezes mais agradável do que a apatia constante da ansiedade, que experimentou há pouco menos de 30 minutos atrás.
E como tudo que é bom dura pouco, sentiu seu estômago revirar por completo.
Levou abruptamente a mão direita à boca, numa minúscula tentativa de apartar o vômito, ao mesmo tempo em que, naturalmente, a mão direita apoiou-se em direção ao estômago.
Foram milésimos de segundos do salão de festa ao banheiro mais próximo. A velocidade de Jonathan foi surpreendente, pois não demoraria tanto, até que todo o seu almoço se despejasse boca a fora. Rapidamente ele agachou-se e despejou todo o álcool e os resquícios de vergonha e frustrações na privada, que agora fazia um convite convidativo ao vômito.