Caramelo perdido

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Capítulo 4- Por Alessandro

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Em 2017, aconteceu...

Já estava separado há quase seis meses, já havia chorado tudo que tinha direito e nenhum de nós dava o braço a torcer. Eu o colocara contra a parede em 2016 mais ou menos no final do ano que geralmente é quando as coisas nos acontecem, isso é incrível. Final do ano é meio traumatizante por isso.

Ah, voltando ao assunto, ainda não consigo falar sobre o fato que nos separou, mas do que veio em seguida, quando por acaso o convidei para um cafezinho em qualquer confeitaria que contivesse partes de nossa história juntos, mas ele foi seco, como jamais fora antes:

— Tali, depois que fecharmos vamos tomar um café com misto quente? Tô varado de fome. — tentei parecer natural e não, prestes a desabar.

— Não posso. Tô fazendo academia nesse horário, depois vou sair com... vou dar uma volta.

— Já me substituiu? Só fazem seis meses que nós...

— Que nós? Que VOCÊ terminou comigo, me chamou de parado, me acusou de ter crescido às suas custas e que seu esforço no nosso negócio é muito maior que o meu.

— E não é?

— Não te conheço mais... Eu vou indo. Fecha aí. 

— Só comprova o que eu disse: eu ralo mais que você.

Eu simplesmente atirava coisas na hora da raiva para feri-lo e tirá-lo da apatia incomum, mas Talisson não olhava pra trás e cada dia passado, eu entendia ainda mais que não era uma separação passageira e sim um rompimento. Ele deixou escapar que ia se encontrar com alguém e nunca tinha feito isso pelos meses que passamos separados e dividindo o mesmo ambiente de trabalho.

Diferente dele, meu coração não estava aberto para outras pessoas e entrei numa fase em que qualquer coisa me magoava, tudo o que vinha de sua parte. Talisson que era tão meu, deixara de ser e doía demais. Eu chorava escondido, chorava indo pra casa, chorava no banho e até na frente dele. Naquela noite passei quase que inteiramente acordado a pensar na decisão que deveria tomar com relação a Caramelos. Devia ou não desfazer nossa sociedade?

Com todos os meus defeitos, precipitado nunca fui, afinal foram oito anos de namoro com um cara acomodado que achava melhor ficar comigo em meu apartamento a permitir que eu me instalasse no seu, bem, eu não ia me afobar, pois a Caramelos era um sonho nosso e da minha parte não ia me desfazer de jeito nenhum. Ele que saltasse fora se quisesse, aliás, eu decidi algo naquela noite: contrataria uma ajudante que pudesse atender durante a semana e aos finais, nos ajudasse com a decoração como um extra.

Na manhã seguinte, como sempre, ele está lá e como sempre chega adiantado. Daí bate o arrependimento por ter dito que ele se dedicava menos. Nunca pedi desculpas por isso e ele, de tantas coisas que abstraía não se esquecia dessa parte.

Não consegui entrar no assunto do distrato da sociedade, ele não falou comigo também por horas e imagina, estávamos nesse clima há seis meses aproximadamente. O inverno parecia mais frio, o coração gelado e minha cama vazia era motivação para quase enlouquecer com sua falta.

Dias passavam com certa raiva de mim, pois o tempo não dissolvia a sensação amarga da solidão, por isso procurei mais conforto com minha família, minhas irmãs, todas as duas tão choronas quanto eu, faziam várias coisas para me animar, como gulodices, reuniãozinha do hot dog na segunda-feira à noite, noite do brigadeiro na terça-feira, na quarta-feira elas ia lá pro apartamento e cozinhávamos, víamos filmes de romance, comédias românticas, filmes gostosos de assistir por serem pouco pretenciosos, desenhos com cantorias, musicais que você ama ou odeia.

— Separa da sociedade, mano. No teu lugar eu que não ia aguentar ficar perto do ex namorado... ainda mais se ele tá saindo com alguém.

— Não, não, eu não disse isso. Só falei que ele deixou escapar e disfarçou todo quando percebeu que estava falando demais.

— Arruma outra pessoa, Alê. Tem um menino, o irmão da Bruna que ó... um tesão.

— Cala boca, Gonçala, o Charles é muito tico-tico no fubá.

— Mas é uma opção.

— Ai gente, deixa a fossa passar primeiro. Agora tá foda. Mas tipo assim, eu que não desisto da sociedade, se caso ele pedir pra romper, entendeu? Aquilo é meu sonho e é meu ganha pão. Tô feliz nessa parte, ele é honesto, dá pra continuar como sócio sim, mas vai me dar um treco se um dia ele me apresentar um outrozinho.

— Ei, fecha a boca, suas imundiças, vou voltar o filme, não deu pra ouvir nada.

— O Tali odiava esse tipo de filme.

— Ó de novo falando do traste. Esquece essa coisa.

— É muito fácil, né? Fala isso porque tá casada.

— AH... o filme.

— Juliana! Nós estamos conversando!

Sorte é que a Juliana era solteira e tínhamos tempo durante a semana para esses encontros de irmãos, quanto a Gonçala, casada, mãe de família, era mais complicado para vir todos os dias. Digo com certeza o quanto isso amenizou as coisas pra eu. Tanto que no passar das semanas percebi que comecei a rir, conversar mais de boas com o ex e discutir menos por coisas bobas.

Introduzi o assunto da pessoa a ser contratada e ele arregalou os olhos.

— Não tem como. Sabe quanto dá de encargos? A responsabilidade que é ter um funcionário?

— Então temos que ficar estagnados porque tu não queres contratar?

— Não vamos e ponto final!

— O quê? Tá esquecendo que mando aqui também?

— Vai, então contrata. Teimoso.

— Eu prometi pra mim mesmo que não ia brigar e não vou. Vou ficar zen. Vou pegar uns currículos... ué? Cadê a pastinha com os currículos?

— Eu não guardo currículos, jogo tudo fora.

— Vou ligar pro SINE.

— Que saco, Alessandro. Quando coloca uma coisa na cabeça, não para de encher o saco!

— Aham. Sou assim mesmo. Não tá feliz, pede pra sair.

Ok, foi a dica que eu dei que se ele estivesse pensando em separar na sociedade também, era o momento, mas ele disse com letras maiúsculas:

— NUNCA! Nunca que vou sair. Isso daqui é meu sonho, minha conquista.

— Nossa.

— Que seja. Se quiser, sai você.

— Eu? NUNCA!

E já que nunca, ou melhor, NUNCA, sairíamos da sociedade, a Caramelos continuaria a nos manter juntos, mesmo que só profissionalmente.

Mas também não era nenhum inferno trabalhar com o Talisson, ele tinha boas qualidades, eu o conhecia bem demais e nem por isso pedia desculpas por estar meio errado nas atitudes. Eu confesso antes que ele dê seu parecer e eu fique parecendo um vilão.  Como eu disse, precisava atingir o homem impassível de alguma forma. 


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Oi pessoal que acompanha Caramelos e também o Caranguejo e o Centauro, estarei lendo o que já escrevi e tirando-as das suas pausas forçadas, pois quero encerrá-las dentro do recesso do trabalho que terei em breve. 

Agradeço demais o apoio maravilhoso e força! Vamos conseguir!

Amo vocês de coração. Beijão ♥

CaramelosOnde histórias criam vida. Descubra agora