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ARIEL


Eu tinha um objetivo em mente.

Bem, ele tinha sido duplicado naquele momento, mas eu logo os tiraria do caminho e esperava que, os dois, com uma cajadada só.

Minha mãe sempre me disse que, antes de se chegar onde almeja, existem passos a serem seguidos e se aquele era um obstáculo a ser ultrapassado, que fosse. No entanto, as minhas pernas bambas não negavam todo o nervosismo que eu sentia no fundo do âmago. A raiva se sobrepunha, era claro, e ela que me alimentava naquele momento.

Ainda parecia difícil de acreditar no monte de merda que Lucas tinha me dito horas antes, quão machista e absolutamente desprezível meu irmão do meio havia sido comigo e, pior, no dia do meu aniversário.

—Estive pensando por algum tempo e acredito estar na hora de ocupar o meu espaço na empresa. Quero trabalhar aqui no escritório — eu tinha dito mais cedo, no início da tarde. Marquei horário com os dois atuais mandachuvas do Grupo Roosevelt, um dos maiores grupos focado em hotelaria de luxo do país, que me receberam na sala da presidência. Lucas Roosevelt tomava uísque ao mesmo tempo em que lia uma série de documentos em sua mesa, como vinha sendo desde que um erro contábil tinha atrasado em meses o lançamento do mais novo empreendimento com o nome Roosevelt. Heitor Roosevelt, por sua vez, permanecia recostado no minibar segurando sua própria dose, ambos parecendo plenamente relaxados ao passo em que a ansiedade me consumia.

Era poder que chamava, né? Essa máscara que homens e mulheres de negócio colocavam na face que os fazia parecerem duros.

Não sei se possuía isso em mim. Era tímida demais para ser tão ríspida quanto os dois homens à minha frente sabiam ser quando era preciso e também quando era absolutamente dispensável.

Fazia poucas semanas desde que encerrei o último período da pós-graduação com louvor e me sentia pronta pra começar a cumprir minha promessa. A que fiz para minha mãe em seu leito de morte. Assumi o compromisso de trabalhar no império de mamãe ao lado dos meus dois irmãos, tendo plena certeza de que acrescentaria muito ali, mas sem certeza do que eu faria. Então, tinha traçado um plano que parecera simples: um cargo de iniciante. Para testar as águas, amaciar o sapato no pé e prever os calos antes que eles se formassem. Tentar entender, estando lá dentro da empresa, o que minha mãe realmente queria que eu fizesse.

—E o que você faria aqui, maninha? — Lucas perguntou quase que sem tirar os olhos dos papeis que agora ele parecia cotejar com o que via na tela do computador, coçando a barba por fazer.

—Poderia começar de baixo, é claro, fazer por merecer. Mas espero poder trabalhar com a Clarissa na área de Experiências.

Os Hotéis Roosevelt eram conhecidos por oferecer, além do serviço premium, experiências aos clientes, cobrindo das mais sofisticadas e luxuosas necessidades às mais excêntricas e, por vezes, sexuais também. Apesar de serem localizadas numa área separada, em alguns dos andares mais altos, a ala proibida para menores, como eu costumava denomina-las, não existia quando minha mãe comandava aquilo tudo. Mas era um nicho que atraía um público grande demais para ser ignorado e algo que meus irmãos fizeram questão de incrementar na expansão da linha de negócios que fizeram quando assumiram. Porque se havia algo, além de uísque, que magnatas nunca rejeitavam, com certeza sexo estava na equação.

Não que eu soubesse muito do que eles tinham elaborado, já que parecia se tratar de uma espécie de submundo do qual eles não queriam que eu participasse e não costumavam abordar quaisquer tópicos relacionados ao que acontecia nessa cena dos hotéis.

—E que tipo de nova experiência você pensou em trazer pro Roosevelt, Ariel? — Heitor, que até então tinha permanecido calado, abandonou a posição relaxada e sentou-se na poltrona ao meu lado, talvez só agora dando-se conta de que aquela não era uma convocação leviana ou estritamente pessoal.

Uma Virgem e a Aposta IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora