dois

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VICENTE


Que festa de merda tinham me metido!

Era o único pensamento que rondava a minha mente enquanto eu fingia interesse pela conversa entre um dos meus ídolos, que tinha perdido o jogo na faculdade na semana passada, e o meu treinador, tentando não encarar esse último de cara feia. Tinha sido dele, Treinador Álvaro Portini, a terrível ideia de me arrancar de casa naquela noite e me meter num fraque, smoking, ou qualquer outro nome que se chamasse o terno engomado que precisava ser usado com uma maldita gravata borboleta e que me enforcava —fosse pelo nó apertado demais ou pela situação em si. Porque eu até aprovaria passar a noite farreando com os meus amigos, só que, pior que os trajes que eu não estava acostumado a usar, havia a perspectiva de que o meu futuro dependia de como eu me comportaria naquela festa de gente grã-fina, quando na verdade tudo o que deveria importar era se eu mandava ou não bem na arena.

Incomodava pra porra e acho que eu odiava ainda mais aquela roupa por fazer com que eu parecesse com um deles. Só não havia nada que eu pudesse fazer para remediar nenhuma das duas coisas.

De longe, eu via meus dois melhores amigos reunidos em um grupo despreocupado, como qualquer outro jovem de 22 anos naquele lugar. Vindos de famílias tradicionais, o convite praquele tipo de festa era mensal e tanto Christian quanto Afonso estariam presentes sendo convidados ou não pelo treinador.

—Essa é a sua forma de me pedir um favor, Álvaro?

—Entenda como quiser, meu caro. — Meu treinador deu de ombros. Era verdade que ele estava determinado em fazer com que meu nome circulasse entre os profissionais que conhecia, aquele em especial. — Mas tenho quase certeza de que eu é que te farei um favor em ceder meu melhor e mais habilidoso jogador.

—Tá com a bola cheia, garoto. — O famoso ex-jogador dos Lakers, Silas van der Kolk, deu dois tapas no meu ombro, o que me fez engolir em seco e querer tremer ao mesmo tempo. Eu tentava não ficar deslumbrado nas oportunidades em que conhecia lendas do Basquete, profissionais que eu admirava desde pirralho, porque se tinha algo que eu deveria fazer naquele mundo era fingir costume. Atualmente, ele treina o Crocodilos, um time aqui mesmo de São Paulo — que foi onde nasceu, apesar da descendência alemã —, e que é apenas o vencedor dos dois últimos campeonatos da NBB. —Literalmente.

—Desculpe, senhor. Não entendi — franzi a testa.

—Você deve ser bom mesmo. É difícil, pra não dizer praticamente impossível, arrancar um elogio desse cara — apontou para o meu treinador. Como se eu não soubesse. —E olha que eu o conheço desde que tinha metade da sua idade. Apareço no treino amanhã, às dez. Extraoficialmente, posso te colocar pra uns arremessos e ver se é tão bom quanto os seus fãs dizem ser. Só então conversaremos sobre uma posição no meu time.

—Obrigado, senhor.

—Agora — Treinador Álvaro recuperou a atenção de Silas depois de assentir para mim como uma confirmação de que tínhamos atingido o objetivo daquela noite —, o que me diz sobre o resultado do jogo último jogo da temporada?

Me senti mais aliviado por não mais ser o centro das atenções e sinalizei com uma das mãos para trás, um simples OK que eu sabia que seria interpretado por quem interessava. Aquele tipo de evento estava se tornando constante, então Afonso, Christian e eu deixávamos combinado que, quando tivesse uma posição naquela conversa, um salvaria o outro. Valia pra esses eventos e pra qualquer outra situação, na verdade.

—Inacreditável, eu diria — Silas continuou a conversa. —Não existiu uma explicação pra quantidade de vezes que o Clarkman perdeu a bola. Aquilo foi uma sucessão de erros imperdoáveis. Os últimos três lances foram ridículos de imprecisos, nem parecia um jogador do nível e gabarito dele.

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⏰ Última atualização: Mar 04, 2021 ⏰

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Uma Virgem e a Aposta IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora