IV

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Sarah Andrade

-Vai ligar pra ela? -Fui tirada dos meus pensamentos com uma Kerline sorridente.

-Claro que não, esqueceu que eu não sou o tipo de pessoa que liga no outro dia? - Suspirei cansada, já se passava das 4h30m da manhã e estávamos indo em direção à praia, a Kerline colocou na cabeça que ela precisava ver o sol nascendo na praia do arpoador, e eu como uma boa amiga a acompanhava.

Era reconfortante estar ao lado de alguém que não fosse da corporação, apesar da minha amizade com o Rodolfo ser muito boa, ele era teimoso e eu ainda mais. Ele sabia que não desistiria do caso e se ele tentasse insistir naquilo acabaríamos brigando.

-Saudades que eu estava de uma manhã no RJ depois de uma festa, nada melhor do que a brisa do mar para aliviar todo o estresse. - Kerline estava animada como se tivesse acabado de ganhar o melhor presente do mundo, e eu só queria deitar na minha cama e relaxar, aproveitando meu dia de folga. Mas se eu bem conheço a baixinha, descansar vai ser uma das ultimas coisas que farei hoje.

-Anime-se Sarah, você acabou de pegar uma morena gostosa para um senhor caralho e está com essa cara de poucos amigos. -Ela disse fazendo uma careta para mim.

-Eu estou com sono, tenho trabalhado duro ultimamente. -Dei de ombros, acompanhando a loira para a praia.

-Quando você não vem trabalhando duro? Desde quando te conheço você é assim, e eu te conheço desde que o mundo é mundo. -Ela falou mostrando a língua para mim e segurando minha mão puxando para um quiosque.

-Você quer beber o que? ­-Perguntou, enquanto procurava algo na bolsa. -Uma água de coco, preciso me hidratar e como pretendo trabalhar quando chegar em casa, não quero ter uma ressaca por sua causa. -Disse sem animação.

Todo o resto do dia passou-se arrastando, após deixar Kerline no aeroporto, segui de volta para meu apartamento, ao caminho me peguei pensando algumas vezes sobre a morena da noite anterior, não que eu estivesse interessada, e eu não estava mesmo, mas sentia que era algo que ainda poderia me trazer problemas, na corporação eu era muito reservada e tinha medo de que outras pessoas além do Rodolfo descobrisse sobre isso.

Eu não tinha vergonha do que eu era, mas a polícia do RJ era muito complexa, e quando todo o batalhão é composto apenas por homens, onde a única mulher é a superior deles, não se pode vacilar, eu havia batalhado muito para chegar onde cheguei, e estava disposta a permanecer onde eu estava custe o que custar. Se até mesmo o bastião que me conhecia a mais de dez anos, demorou para aceitar o que eu era, veja lá todos esses homens mesquinhos.

Ao chegar no meu apartamento fui direto ao banheiro preparar a água da banheira, eu sentia meus músculos doloridos e tensionados, após plugar meu celular na tomada retornei ao banheiro me despindo, a pele branca do meu ombro mostrava um hematoma roxo devido a batida do carro, ao continuar me olhando no espelho comecei sorrir ao descer a mão por minha cintura e ver marcas de unhas cravadas, ao virar de costas pude então ver por completo todo o estrago que a morena tinha deixado, toda a extensão da minha coluna encontrava-se com arranhões, ao tocar lembrei-me de cada segundo que vivemos naquele banheiro, deixei o copo que segurava cair da minha mão pelo susto que tomei quando o rosto da Bianca aparecer nas minhas lembranças se transformaram em uma advogada petulante.

Entrei na banheira de porcelana preta, e mergulhei-me por inteira, aquele pensamento da advogada me assustou de uma forma que eu não podia descrever, era obvio que foi somente um pensamento qualquer, todo mundo já imaginou alguma pessoa a qual vimos o rosto aleatório, sim? Fiquei por longos 20 minutos na água morna deixando que toda a tensão do meu corpo se esvaísse.

LEI DA ATRAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora